Escrito en
BRASIL
el
O renomado chef paulista Alex Atala, reconhecido pelo uso de ingredientes de diferentes biomas brasileiros em pratos de alta gastronomia, criou o projeto Baunilha do Cerrado, com o objetivo de “ajudar os quilombolas a formar uma cadeia produtiva da espécie”. Através de um instituto, no entanto, o chef transformou a especiaria em marcas exclusivas.
O projeto contou com cerca de R$ 424 mil. A Fundação Banco do Brasil, parceira na empreitada, garantiu pouco mais de R$ 382 mil dessa verba, que deveria ser usada em melhorias e capacitações para os kalungas. Concluído o projeto, os quilombolas estão descontentes com o que lhes restou.
Desde o último dia 13 de abril, através de Atala, parte desses produtos está à venda para um público mais amplo, graças ao lançamento da linha Ecossocial Kalunga no Mercado de Pinheiros, em São Paulo.
O que não veio a público é que o projeto foi marcado por manobras jurídicas e entreveros entre a equipe do chef e os kalungas. A Associação Quilombo Kalunga (AQK), parceira local de Atala na execução das atividades, não foi convidada para o lançamento: no evento estiveram presentes apenas dois moradores da comunidade Vão de Almas, local onde o projeto foi desenvolvido – os contatos com eles foram feitos sem conhecimento dos representantes oficiais do quilombo.
“Só fiquei sabendo depois que eles foram apresentar esses produtos em São Paulo”, diz o presidente da AQK, Vilmar Souza Costa. “Eles [Instituto Atá] abordam as pessoas isoladamente, não sei se pagaram por essas participações, e o território é um só”.
O fio que desvela a intrincada história por trás dos desentendimentos é, afinal, a baunilha – especiaria à qual Atala teve acesso anos antes, durante uma viagem ao nordeste de Goiás; dali em diante, seu interesse por ela só aumentou. A baunilha agroecológica possui essência marcante e é usada em receitas de confeitaria e na aromatização de pratos de alta gastronomia. Extraído das favas de orquídeas do gênero Vanilla, o ingrediente é bem cobiçado no Brasil e no exterior.
Com a parceria, a equipe de Atala lidou com amostras e mudas nativas, teve acesso às plantações e pesquisou as propriedades botânicas da espécie. Enquanto isso, nos bastidores moveu esforços para tornar a baunilha do Cerrado uma marca exclusiva, sem partilha ou acordo prévio com os kalungas.
Em nota enviada ao De Olho nos Ruralistas, Alex Atala afirma:
– Fizemos esses pedidos com o objetivo de exclusivamente preservar o projeto, proteger a baunilha de uma possível super exploração em estado selvagem e cumprir com o convênio com a Fundação Banco do Brasil.
Questionada, a fundação esclarece que “não houve previsão para registro da marca”. Do lado quilombola, a assessoria jurídica garante que não foi consultada e sequer informada sobre os registros junto ao Inpi. O chef disse que os kalungas estão liberados para usar as marcas. A assessoria do quilombo não confirma, dizendo que não recebeu documentos que comprovem essa autorização.
Leia o texto completo no De Olho nos Ruralistas