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Por Eduardo Costa Pinto* e Rodrigo Leão**
O lucro líquido de R$ 25,8 bilhões, divulgado ontem no balanço anual da Petrobras referente a 2018, é o melhor resultado da empresa desde 2011. Apesar da queda de 5,5% na produção, a estatal foi beneficiada pela melhora do cenário, em especial a expansão do preço do barril do petróleo entre 2017 e 2018. A maioria dos analistas estava otimista e apostava em um número ainda maior, na casa dos 30 bilhões. Em grande medida, essa expectativa não foi atingida devido ainda a um volume considerável de despesas extraordinárias, principalmente com contingências judiciais (R$ 7,4 bilhões).
A elevação do preço do barril do petróleo em reais, que passou de R$ 173,3 para R$ 260,2 (expansão de 50% entre 2017 e 2018), foi a variável mais importante para impulsionar o resultado positivo da companhia. O lucro isolado da área de exploração e produção (E&P) teve um aumento de 97% em relação ao ano passado, o que resultou num lucro de R$ 44 bilhões do segmento.
Paradoxalmente, a produção da empresa caiu 5,5% em 2018 na comparação com o ano anterior (maior queda anual desde 2003). Poucos analistas se atentaram a isso, mas essa queda só não foi ainda maior em virtude do crescimento de 9% da produção de petróleo nos campos do pré-sal, onde quatro novos sistemas de produção entraram em operação.
A redução na produção de petróleo foi, em boa parte, fruto da política de desinvestimento (eufemismo para a venda total de ativos ou de partes) realizada nos campos de Lapa, Sururu, Berbigão, Oeste de Atapu e Roncador e a redução acelerada da produção nos campos maduros do pós-sal, principalmente na Bacia de Campos.
Nesse sentido, os ganhos com o aumento do preço do petróleo poderiam ter sido ainda maiores se a Petrobras, ao invés dos desinvestimentos, tivesse expandido os investimentos nos campos maduros com o objetivo de aumentar o fator de recuperação de óleo dos poços.
Na área de abastecimento (refino, transporte e comercialização), cuja receita de vendas cresceu 26% em 2018, no cotejo com o ano anterior, fruto, em boa parte, do aumento dos preços internos dos derivados (que acompanharam a subida dos preços internacionais dos derivados), uma vez que ocorreu uma queda de 3% nas vendas internas de derivados. A receita de vendas cresceu numa velocidade bem menor do que a observada nos custos dos produtos e serviços vendidos (expansão de 33%), implicando na redução dos lucros da área (de R$ 13 bilhões em 2017 para R$ 8,4 bilhões em 2018).
Todavia, o que mais chama a atenção é a queda da participação de mercado da Petrobras no setor de derivados de petróleo brasileiro. Entre 2017 e 2018, tal redução foi da ordem de oito pontos percentuais, principalmente após do incêndio ocorrido na Replan no segundo semestre do ano, quando houve queda na produção de diesel e gasolina (nos 3º e 4º trimestre de 2018), provocando um aumento da importação.
Pelo lado do endividamento, os resultados do balanço mostraram que a endividamento líquido (EL) caiu apenas 4% entre 2017 e 2018 (de R$ 280 bilhões para R$ 268 bilhões), ao passo que a desalavancagem (relação entre o endividamento líquido e o lucro operacional) decresceu em 33% (de 3,67 em 2017 para 2,34 em 2018), em virtude do crescimento do lucro operacional (antes de juros, impostos, depreciação e amortizações) decorrente sobretudo dos resultados positivos operacionais com o aumento dos preços do petróleo.
Esses resultados operacionais e financeiros do balanço de 2018 da Petrobras evidenciam uma melhora do cenário externo (aumento do preço do Brent) e do perfil da dívida. Todavia, com a política de desinvestimentos em curso, a empresa tem desperdiçado a oportunidade de auferir resultados operacionais ainda mais expressivos.
As perspectivas na produção de petróleo, principalmente por conta do pré-sal, devem garantir um futuro promissor à empresa, desde que não ocorreram novas turbulências no mercado internacional que reduzam o preço do barril do petróleo. A atual situação da empresa já permite uma nova ascensão dos seus investimentos, mas isso dependerá de uma visão estratégica da nova gestão da companhia.
*Eduardo Costa Pinto é professor do Instituto de Economia da UFRJ e pesquisador do Instituto de Estudos Estratégicos de Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (Ineep)
**Rodrigo Leão é mestre em desenvolvimento econômico (IE/UNICAMP). Atualmente, é Diretor do Ineep e pesquisador-visitante do NEC/UFBA