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Por Wilfred Gadêlha
“Eu sou daqui de Itapuã. Sou praiana. É uma obrigação minha estar aqui”. Quem diz isso, em tom de desabafo, é a psicóloga baiana Tarsila Maia. Ela é uma das pessoas que, espontaneamente, estavam na manhã ensolarada deste domingo (27), a poucos metros do Farol de Itapuã, praia do norte de Salvador eternizada na canção de Vinícius de Moraes e Toquinho. Sem qualquer apoio da autoridades, milhares de Tarsilas estão arregaçando as mangas para tentar minimizar os danos causados pelo vazamento de óleo que, desde o final de agosto, assola balneários, rios e manguezais nordestinos.
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“Estar aqui significa a união de nós nordestinos. Das pessoas que estão preocupadas com essa situação que a gente está enfrentando. Faltam mais pessoas, mas a ajuda de todos aqui é bem-vinda”, continua Tarsila, que vê a falta de iniciativa do governo federal como uma retaliação do presidente Jair Bolsonaro (PSL), que já xingou os nordestinos em várias oportunidades. “Estão faltando respostas, principalmente dos órgãos públicos, da Marinha, do Ibama. E das instituições militares também que deveriam estar aqui apoiando a gente. Infelizmente, não temos respostas. Existe sim uma retaliação. Essa falta de informações nos deixa ainda mais preocupados.”
“Infelizmente, não dá para passar uma tarde tranquila em Itapuã. A gente não indica que as pessoas tomem banho de mar. Em pouco tempo que estamos aqui, retiramos uma quantidade de resquícios de óleo. Então, que a população tenha consciência e procure cuidar da sua saúde e, se quiser tomar banho, vá a uma praia que não tenha sido atingida pelo óleo”. O apelo é de Juvenal, um professor de jiu-jitsu, que, junto com um grupo de mais 10 pessoas, também estava em Itapuã, a icônica praia soteropolitana eternizada na canção de Toquinho. Como em tantas outras praias do Nordeste atingidas pela maré negra de petróleo, essas pessoas se reuniram por meio de grupos de WhatsApp para lutar contra o descaso das autoridades.
Juliette, uma professora de direito francesa que vive em Salvador há 20 anos, também estava em Itapuã. “Itapuã é meu paraíso, é a alma de Salvador. Eu não consigo ficar em casa”, resume ela, de luvas amarelas, botas de PVC e uma espátula que usava para tirar os resíduos que se encontram debaixo do limo que se acumula nas pedras à beira-mar.
Já Michelle Santana, outra voluntária, fala sobre o sentimento de solidariedade. “É o povo que está se unindo. Eu não conhecia nenhuma dessas pessoas. Já é o terceiro final de semana que eu estou aqui, com grupos diferentes. Pessoal de capoeira, moradores. Agora me conectei ao pessoal do Guardiões”, diz Michelle, referindo-se ao grupo Guardiões do Litoral, que reúne voluntários para atuar na limpeza das praias. “As pessoas estão mobilizadas por isso aqui, que é nosso.” As autoridades é quem deveriam estar aqui. Estamos aqui de improviso: a gente está com essa máscara, mas essa não é ideal. Essa máscara é para poeira. A gente devera estar com máscaras de filtro. É um risco? É, mas se a gente não fizer, a gente vai perder cada vez mais”, completa.