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Por Cláudia Motta, na RBA
O estado de Minas Gerais concentra 90% do nióbio que há no Brasil. No Quadrilátero Ferrífero, região localizada no centro-sul do estado atingida pelo rompimento das barragens de Mariana e de Brumadinho, está a maior produção nacional, cerca de 60%, do minério de ferro do país.
O que poderia significar só pujança, encerra medo e desespero. Segundo o coordenador do Movimento dos Atingidos por Barragens (MAB) Pablo Andrade Dias, o Binho, a região tem mais de 700 barragens de rejeitos: 250 em situação de risco e 50 em risco grave. Esses dados, afirma, são de levantamento feito pelo Ministério Público e pelo Ibama em 2014. “Atualmente já há mais em situação de risco e muitas delas em regiões metropolitanas.”
Estima-se que 12 milhões de metros cúbicos de rejeito foram despejados pela Barragem da Mina de Córrego do Feijão, em Brumadinho. O rejeito chegou ao Rio Paraopeba. E é iminente o risco de alcançar o São Francisco, do qual é afluente. A lama pode chegar a 19 municípios, comprometendo o abastecimento de água de cerca de 1 milhão de pessoas
O Quadrilátero Ferrífero tem aproximadamente 7 mil quilômetros quadrados que abrangem cidades como Casa Branca, Itaúna, Itabira, Nova Lima, Santa Bárbara, além das históricas Sabará, Congonhas do Campo, Mariana e Ouro Preto, patrimônios históricos e culturais da humanidade, tombados pela Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco).
“Congonhas tem barragem da Companhia Siderúrgica Nacional (CSN) muito maior que as que romperam aqui em Brumadinho”, conta Binho. “Caso rompa, o rejeito chega em oito segundos a um bairro de mais de 5 mil habitantes no centro urbano do município. O pessoal do MAB de lá relatou que o povo passou as últimas três noites sem dormir, andando pelas ruas, preocupados com o rompimento.”
Binho afirma que, “não bastasse isso”, a empresa tem solicitado insistentemente o alteamento da barragem, desconsiderando o risco das vidas da população. Essa operação significa elevar o tamanho do muro para aumentar a capacidade e poder depositar mais rejeito prensado.
“É uma região que faz parte da bacia do Paraopebas, responsável pelo abastecimento de água de boa parte da região metropolitana de Belo Horizonte. A gente já está preocupado com a barra de Brumadinho, mas se Congonhas vier a romper será alerta vermelho para o acesso à água em toda região”, avisa o coordenador do MAB.
Risco permanente
As barragens de Mariana e de Brumadinho não figuravam entre as 50 em risco grave de rompimento no estado de Minas Gerais.
“Essa barragem não estava no mapa de riscos. Estava estável e fechada desde 2015 e não apresentava aparentemente rachaduras ou outro problema”, explica a publicitária Maíra do Nascimento, integrante do Movimento Águas e Serras de Casa Branca, para esclarecer que estar fora do mapa de risco pode não significar muita coisa. “Barragens de rejeitos de minério desse tipo se apresentam estáveis em condições normais de tempo, mas não estão necessariamente estáveis para outros problemas, como sismos, chuvas torrenciais que podem acontecer nessas regiões.”
O movimento existe desde 2011. Mas desde 2006 a comunidade local vinha alertando as autoridades sobre os perigos da mineração. “Nossa região tem muitos sismos, pequenos, que nós às vezes não sentimos, mas que podem abalar esse tipo de estrutura. E a própria atividade minerária, com as explosões que são feitas para facilitar a retirada de minério podem abalar essas estruturas de dentro pra fora.”
Maíra manifesta sua preocupação com as centenas de comunidades instaladas próximas às barragens. “Se as que teoricamente estão estáveis e não têm risco estouraram, que dirá outras que já estão com potencial risco. Barragens muitas delas como essa do Córrego do Feijão, em Brumadinho, que colocam à jusante (abaixo da barragem) comunidades inteiras. São pelo menos 45 com nível alto de risco. E mesmo as que estão a montante (quando a comunidade está acima da barragem) vivem sob o risco de devastação ambiental, que num primeiro momento é menor, mas que depois acarreta em prejuízos econômicos, de saúde e ambientais.”
A ativista lembra que, logo após a tragédia de Mariana, em função da perda de diversidade principalmente dos anfíbios que comem muito insetos, houve o surto de febre amarela. “Agora, com esse segundo crime ambiental, virão ainda os problemas de saúde, além da perda material, de pessoas, da biodiversidade. Já perdemos muitos animais, peixes, o rio está condenado, a gente vai perder hidrelétricas, uma tragédia de dimensões incalculáveis.”
Binho reforça que a população mineira que está no entorno dessas barragens está em risco permanente. "E não existe nenhuma ação do poder público nem das mineradoras de precaução no sentido de inviabilizar barragens com maior risco de rompimento."
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