Escrito en
BRASIL
el
Por Paulo Eduardo Dias e Maria Vitória Ramos, na Ponte Jornalismo
Nove meses após ter a testa tatuada com a frase “Eu sou ladrão e vacilão”, o jovem Ruan Rocha, 18 anos, deixou a inquietação de lado e já mostra um sorriso no rosto e planos para o futuro. Neste tempo, ele concordou em passar por um tratamento contra a dependência química e, agora, já pensa em terminar os ensinos Fundamental e Médio e, depois, se matricular em um curso técnico ou universitário na área da saúde. A violência aconteceu em 31 de maio de 2017, quando Ruan era tido por duas pessoas como suspeito de furtar uma bicicleta.
Segundo os especialistas que o tratam na clínica, mesmo atingindo a maioridade recentemente, o jovem possui uma idade mental entre 12 e 13 anos. Um dos motivos é a baixa condição de recursos durante sua infância, o que exigiu trabalho dobrado dos profissionais nos primeiros meses de internação em Mairiporã, cidade na região metropolitana de São Paulo, a 52 quilômetros da capital.
Passada a fase inicial, o tratamento de Ruan tem conseguido tamanha eficácia que, além de já dar seus primeiros passos na rua, como visitar um shopping e assistir a um filme no cinema, o jovem passou a integrar a equipe de profissionais da clínica Grand House, local em que passa pela reabilitação. O jovem tem recebido remuneração semanal pelo trabalho, ganho que pode ser gasto conforme sua vontade.
“Aquele Ruan lá atrás não era eu, era totalmente uma pessoa desorientada, sem norte, sem futuro. Hoje eu vejo que o Ruan de verdade é esse, que quer uma vida nova, quer ajudar as pessoas, ajudar a família, e quer ser grato todos os dias”, disse à reportagem da Ponte.
Ruan já passou pela sétima sessão de remoção da tatuagem, a qual já não é mais possível sua visualização de longe. Outras duas sessões já estão agendadas e a previsão é de a que os dizerem desapareçam da testa do jovem até o meio deste ano. “Eu vejo lá atrás, eu fiz uma coisa que eu não deveria fazer e eu estou sentido a dor até hoje. É uma dor que lá na frente vai me dar uma lição de vida. Porque eu faço todo mês a sessão, é muito doloroso, dói bastante, mas vale a pena, eu não posso ficar com isso na testa, eu tenho que tirar”, pondera.
“Eu geralmente andava de cabeça baixa, porque eu era um nada para a sociedade, eu era um noia, um usuário. Hoje, sou compulsivo por ler um livro, por vender as coisas na cantina, no meu trabalho. Na vida sempre precisa ter uma segunda chance”
O jovem fez questão de contar, entusiasmado, sobre sua recente promoção dentro da hierarquia da clínica: passou de agente de apoio para monitor de pacientes, além de auxiliar na parte administrativa. Agora, sua intenção é realizar cursos para que possa atuar como terapeuta. A recuperação de Ruan em um menor tempo do que o esperado é motivo de comemoração do dirigente da clínica, Sergio Castillo, e da psicóloga Marcela Abrahão da Silveira.
“Ele começou a ter contato com o mundo agora e essa coisa tem que ser paulatina, de forma progressiva, para que não se perca. O tratamento de dependência química nunca se encerra. O Ruan parou de falar gíria, já não anda gingando, a postura dele mudou, ele está com uma consciência crítica, ele não tinha nenhuma crítica. [Hoje] Ele tem um fluxo de pensamento contínuo, tem planos de futuro. Isso é um espetáculo. Para nós, é um caso extremamente de sucesso”, diz Castillo.
Confira a reportagem completa na Ponte Jornalismo.