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Na semana passada, o MPF confirmou à Agência Amazônia Real que cerca de 20 índios flecheiros isolados foram assassinados no Amazonas, o que seria o maior massacre indígena dos últimos anos. Com a repercussão a nível internacional, no entanto, órgão voltou atrás e disse "errou" ao confirmar as mortes e que há uma investigação em curso
Por Redação
Desde sexta-feira (8) que inúmeros veículos de imprensa não param de noticiar o suposto massacre de cerca de 20 índios "flecheiros" de uma tribo isolada na Amazônia brasileira. "Suposto" só agora pois, no final da tarde desta segunda-feira (11), o Ministério Público Federal enviou uma nota oficial à Agência Amazônia Real informando que "errou" ao confirmar as mortes.
Segundo a nota, “o Ministério Público Federal (MPF) no Amazonas corrige a informação repassada equivocadamente pela Assessoria de Comunicação do órgão à repórter da Amazônia Real e informa que não há confirmação de mortes de índios isolados no Amazonas.”
Em outro trecho o MPF afirma: “o que há é investigação em curso para apurar a denúncia de tais mortes, as quais ainda não foram confirmadas”. “O MPF reitera que há diligências em curso e não é possível fornecer detalhes sobre elas, a esta altura, para não atrapalhar as investigações”, diz a nota.
Acontece que, antes de toda a repercussão, quando a pauta ainda estava sendo apurada, a assessora do MPF confirmou à agência de notícias, por mais de uma vez, que houve, sim, a morte de índios isolados por garimpeiros.
“A única preocupação é não atrapalhar o andamento das investigações, da apuração. Confirmar que houve mortes, isso a gente pode confirmar, não tem problema nenhum. Detalhes de quantos são, quem são, isso eu não tenho. Que houve mortes, que estão sendo investigadas pela PF e pelo MPF, isso pode botar na nossa conta”, disse à repórter, pelo Whatsapp, a assessora.
Confira, abaixo, a íntegra da matéria da Amazônia Real sobre o caso.
MPF recua e diz em nota que não há confirmação de mortes de índios isolados por garimpeiros na Amazônia
O Ministério Público Federal no Amazonas, em Manaus, enviou uma nota oficial à agência Amazônia Real nesta segunda-feira (11) afirmando que errou ao confirmar às mortes de índios isolados denominados “flecheiros” no rio Jandiatuba, na Terra Indígena Vale do Javari, no Amazonas.
A agência publicou em seu site na sexta-feira (8) a matéria com o título: “Garimpeiros mataram índios “flecheiros” no Vale do Javari, confirma MPF do Amazonas”, notícia que provocou uma repercussão internacional e comoção nas redes sociais.
Segundo a nota, “o Ministério Público Federal (MPF) no Amazonas corrige a informação repassada equivocadamente pela Assessoria de Comunicação do órgão à repórter da Amazônia Real e informa que não há confirmação de mortes de índios isolados no Amazonas.”
Em outro trecho o MPF afirma: “o que há é investigação em curso para apurar a denúncia de tais mortes, as quais ainda não foram confirmadas”. “O MPF reitera que há diligências em curso e não é possível fornecer detalhes sobre elas, a esta altura, para não atrapalhar as investigações”, diz a nota.
A informação da confirmação das mortes à reportagem foi repassada pela analista de comunicação social Camila Gabriel, do MPF de Manaus.
Na noite do dia 06 (quarta-feira), Camila informou à repórter Elaíze Farias que dois garimpeiros estavam sendo ouvidos na Polícia Federal, após um mandado de busca e apreensão, e que mais informações poderiam ser dadas no dia seguinte (07).
No dia seguinte, a repórter procurou, para confirmar na fonte oficial, o procurador Pablo Luz Beltrand e pediu para entrevistá-lo. Ele é autor do pedido de inquérito à Polícia Federal para investigar o suposto massacre a pedido da Fundação Nacional do Índio (Funai), que recebeu a denúncia com fotos e nomes de garimpeiros suspeitos no caso. Beltrand não atendeu a repórter, mas orientou que ela procurasse a assessoria de imprensa em Manaus.
A repórter Elaíze Farias então procurou à analista Camila Gabriel no dia 07 (quinta-feira) pedindo informações sobre o caso dos garimpeiros presos na noite do dia anterior (06) pela PF de Tabatinga, para apurar se eles haviam confessado algum envolvimento.
Em conversa por áudio enviado por whatsapp, a assessora confirmou que os dois homens prestaram depoimentos e confirmou que houve mortes, como está na sequência o diálogo abaixo, após pergunta da repórter:
Analista do MPF: “As armas foram encontradas com os caras. Foram cumprir mandado de busca e apreensão e identificaram pessoas com espingarda, com armas. Isso tem fiança, não é nada por conta das mortes. Com relação ao envolvimento, ainda não tem conclusão. E ainda tem mais gente para ser ouvida, mas eles [MPF, PF] não estão querendo muito falar sobre isso, para não dar alarde. E a partir daí talvez eles peçam a prisão”.
Repórter: “Então está cada vez mais forte o indício de que houve mortes desses índios? Que índios são esses? A gente queria dar alguma coisa [matéria], mas precisa confirmar [se houve as mortes].”
Analista do MPF: “A única preocupação é não atrapalhar o andamento das investigações, da apuração. Confirmar que houve mortes, isso a gente pode confirmar, não tem problema nenhum. Detalhes de quantos são, quem são, isso eu não tenho. Que houve mortes, que estão sendo investigadas pela PF e pelo MPF, isso pode botar na nossa conta”.
A Polícia Federal, em Tabatinga, foi procurada também nos dias 7 e 8, mas orientou que as perguntas fossem enviadas à assessoria de comunicação em Brasília, que não respondeu à demanda da reportagem.
No dia seguinte (9) à publicação da reportagem da Amazônia Real, a analista Camila Gabriel procurou, por telefone celular, a repórter para que ela corrigisse a matéria, negando que tinha confirmado o massacre, mas sim que o “O MPF investigava a denúncia do massacre”.
A Amazônia Real solicitou então um comunicado oficial no qual o MPF admitisse que havia errado. Até domingo (10), a analista Camila Gabriel resistia em enviar uma nota se responsabilizado pelo equívoco na informação.
Inconformada com o posicionamento da Amazônia Real em exigir um posicionamento oficial, a analista Camila Gabriel enviou no domingo (10) uma nota informal, sem papel timbrado do MPF e sem nominar formalmente a agência, solicitando correção na informação divulgada, mas persistindo em não esclarecer o seu próprio erro.
”O Ministério Público Federal (MPF) corrige a informação divulgada anteriormente e informa que não há confirmação de mortes de índios isolados no Amazonas. O que há é investigação em curso para apurar denúncias de massacre de índios isolados.”
A Amazônia Real então enviou uma solicitação em carta ao Procurador da República Pablo Luz Beltrand com pedido da correção em nota oficial e novas informações sobre a denúncia do massacre dos índios “flecheiros”. Também enviou os áudios das declarações da analista à repórter.
A nota oficial chegou na tarde desta segunda-feira (11) e está publicada na íntegra no final desta matéria.
Segundo as informações apuradas até o momento, o suposto massacre teria acontecido no mês de agosto. A reportagem quis saber do procurador Pablo Beltrand se ele determinou o deslocamento de uma equipe da Fundação Nacional do Índio (Funai) e da Polícia Federal para investigar a denúncia na Terra Indígena Vale do Javari. Nesta área, de difícil acesso, uma investigação assim depende de apoio de aeronaves do Exército. Mas ele não concedeu novas entrevista à Amazônia Real.
No entanto, falou ao jornal The New York Times, que fez uma apuração sem citar veículos brasileiros, e publicou ontem (10) com a seguinte manchete: “Membros de tribo da Amazônia são dados como mortos no Brasil”.
Pelas informações obtidas pela Amazônia Real com indígenas e funcionários da Funai, o suposto massacre teria acontecido há mais de 30 dias, portanto, provas e eventuais vestígios dos assassinatos já comprometeram a perícia, que ainda não aconteceu. Na Terra Indígena Vale do Javari, uma das mais remotas do país e de acesso complexo, já houve sucessivos massacres de etnias de recente contato com a sociedade nacional e índios isolados entre os anos de 2014 e 2015. Essas populações são pressionadas pela falta de vigilância da Funai e invasão de madeireiros, caçadores, garimpeiros e narcotraficantes.
No rio Jandiatuba, por exemplo, onde foram encontradas balsas de garimpo e onde há presença de índios isolados, a base de vigilância da Funai foi desativada há mais de três anos pelo governo federal.
Por outro lado, o silêncio da Polícia Federal e do Ministério da Justiça, do governo do presidente Michel Temer, não demonstra disposição em aumentar a vigilância na região de fronteira do Brasil com a Colômbia e o Peru.
Em 1993, a massacre de índios Yanomami da aldeia Haximu, em Roraima, apresentou sucessivos erros de informações na confirmação do caso e no número de mortos pelas autoridades brasileiras.
Em busca da verdade dos fatos, a Amazônia Real destacou na carta ao procurador Pablo Beltrand que “a agência tem o maior respeito ao Ministério Público Federal. Sem a contribuição desta respeitada instituição ao nosso trabalho, o jornalismo brasileiro não seria o que é hoje neste País.”
No entanto, Pablo Beltrand não respondeu às perguntas abaixo e até o momento não atendeu os pedidos de entrevistas feitos pela Amazônia Real:
1 – Quais foram as informações que os dois garimpeiros detidos disseram em depoimentos sobre o suposto massacre dos índios isolados à PF?
2- Por que os dois garimpeiros foram soltos? Qual o motivo da liberdade?
3- O MPF já determinou o envio de uma equipe da PF e da Funai ao local para investigar o suposto massacre?
4- Há pedidos de prisões para pessoas supostamente envolvidas no caso?