O Prefeito João Doria diz ser uma prioridade "acabar" com a chamada cracolândia: região próxima à Estação Júlio Prestes onde, há poucas semanas ocorreu uma ação desastrosa da PM e da Polícia Civil, comandadas por Geraldo Alckmin e da GCM, sob tutela da Prefeitura.
Sem planejamento adequado do Poder Público para o pós dispersão, os usuários se espalharam por mais de vinte pontos da cidade e a Praça Princesa Isabel, localizada a apenas 400 metros do antigo "fluxo" foi ocupada por mais de 900 dependentes químicos e - novamente - por traficantes.
Alguns dias depois, a facção criminosa Primeiro Comando da Capital (PCC) - segundo matéria do Jornal Folha de São Paulo - ordenou que o fluxo voltasse à região original, onde se encontra agora.
Um dia após ao movimento dos usuários, a Polícia Militar realizou uma operação no local para "inibir o tráfico" e, depois de uma perseguição até a Favela do Moinho - 1 km da cracolândia - matou um jovem de 19 anos.
A PM alega ter respondido a uma troca de tiros.
Os moradores dizem que o jovem era apenas usuário e foi morto na fulga. O episódio ainda está sendo investigado.
Na ocasião, centenas de moradores protestaram contra a operação policial e houve confronto. Eu mesmo estive no local durante os momentos mais tensos entre policiais e moradores.
A proposta em elaboração pela Prefeitura para retirada dos moradores ainda não é clara. É preciso definir um local adequado para um conjunto de interesse social, que atenda a demanda por moradia e não ofereça um movimento reverso, quando o morador retorna às moradias precárias.
É preciso entender, de forma humana, o fato de a maior parte dos moradores não tem envolvimento com o crime organizado, principalmente com o tráfico.
Ainda, perceber ser a maior parte da população formada de trabalhadores formais e informais da região, sendo um deslocamento pra programas habitacionais distantes sinônimo de perda dos empregos, dos trabalhos e dos vínculos.
Ainda, entender haver ali crianças, inseridas nas escolas da região e jovens ligados a programas de esporte e cultura nos equipamentos da área central.
O argumento de Doria e Alckmin para retirada da Favela do Moinho é ser ali um ponto de abastecimento de drogas para a cracolândia, mas é importante compreender que o uso de crack ou outras drogas não vai acabar porque famílias foram deslocadas, pois o tráfico sempre encontra um método. Se os governos estadual e municipal quisessem mesmo resolver a questão, agiriam com ações de saúde, assistência social, trabalho, renda e combate aos grandes traficantes.
Foto: Luiz Henrique Dias
* Luiz Henrique Dias é Escritor e Gestor Público