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Ou por que precisamos extinguir de vez a cultura do automóvel
Por Ivan Longo
A cidade de São Paulo assistiu, neste domingo (25), a uma cena absurda de um motorista subindo a rua Augusta em alta velocidade e atropelando dezenas de skatistas que participavam de um evento comemorativo do Dia do Skate. A revolta contra a atitude do motorista, nas redes sociais, foi imediata, e muitos o classificaram como “louco” ou “psicopata”.
A saúde psicológica do motorista em questão, no entanto, não é o fator principal e que deve ser levado em consideração em uma cidade feita, historicamente, para os carros e seus proprietários. Associar a atitude do homem, que já tinha multas em aberto por excesso de velocidade, a uma “loucura” pessoal, é fechar os olhos para um problema que gira em torno da valorização do individual em detrimento do coletivo e que se manifesta em atitudes como essa ou outras tantas que vitima, diariamente, ciclistas, skatistas e pedestres.
Neste sentido, o prefeito de São Paulo, João Doria, é, sim, também um dos responsáveis indiretos por esse tipo de ação criminosa.
Atropelar skatistas em uma rua interditada, com o carro em alta velocidade, não é um caso isolado se levarmos em consideração a quantidade de atrocidades do tipo que acontecem quase diariamente em uma cidade governada por um prefeito que se veste de piloto de Fórmula 1, que teve a Carteira de Habilitação suspensa por conta de multas de excesso de velocidade e que aumentou a velocidade máxima permitida nas principais vias da cidade, ocasionando um aumento do número de acidentes e indo contra toda e qualquer estatística de melhora no trânsito ou de preservação de vidas.
Ao ter como slogan de campanha o “Acelera SP” e ao repetir quase diariamente a frase, João Doria deixa claro a que interesses atende. Ao mesmo tempo que retrocede a um conceito de “velocidade” dos anos 90 e que já caiu em ostracismo nas principais metrópoles do mundo.
Na gestão anterior, Fernando Haddad, ao priorizar corredores de ônibus, cortar a cidade inteira com ciclovias e diminuir a velocidade máxima das principais vias, dialogou com o que há de mais moderno no conceito de cidades sustentáveis, humanas e coletivas. Grandes capitais como Paris, Londres e até mesmo Nova Iorque diminuíram as velocidades das vias centrais, proíbem estacionamento na rua e incentivam o uso da bicicleta.
Com sua “não política”, como gosta de afirmar, João Doria acelera São Paulo para trás e retoma uma cultura fundamentalista do automóvel que tanto as cidades modernas lutam para extinguir.
Achar que João Doria não tem a ver com esse tipo de crime como o que aconteceu no domingo, se não é má-fé, é, no mínimo, ingenuidade. Doria é o pai e a mãe desta cidade doente. Que está em plena convulsão por conta de suas políticas equivocadas.
Acelera, São Paulo.