Sob escândalos, Alckmin viaja aos EUA em busca de dinheiro para terminar as promessas atrasadas

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O governador de São Paulo viajou aos Estados Unidos para "oferecer" aos investidores estrangeiros obras e concessões no Estado, mesmo sob inúmeras denúncias de desvios de recursos envolvendo o primeiro escalão de seu governo e até seus familiares Por Luiz Henrique Dias Ainda sob os escombros causados pelas notícias ligando o primeiro escalão de seu governo e de outras gestões do PSDB, e mesmo familiares próximos, às denúncias de desvio de recursos em obras de transporte, mobilidade e saneamento básico, o governador de São Paulo, Geraldo Alckmin (PSDB), viajou aos Estados Unidos para "oferecer" aos investidores estrangeiros obras e concessões no Estado. Em solo americano, Alckmin participará, em Nova Iorque, de rodadas de diálogo com representantes de fundos de investimento, organizadas pelo Itaú e pelo Bank of América, e ofertará ao menos 20 projetos, a maioria de mobilidade metropolitana, através do mecanismo ágio sobre a outorga, somando ao menos R$ 40 bilhões de investimentos "rentáveis" à iniciativa privada. Nos últimos dias, o governo paulista já abriu editais para operação e manutenção das linhas 5 - Lilás e 17 - Ouro do Metrô, a primeira já em operação parcial e a segunda com as obras atrasadas, num valor de arremate mínimo de R$ 183 milhões e aporte inicial de pouco menos de R$ 90 milhões, montante bem inferior aos quase R$ 10 bilhões já gastos pelos cofres públicos e muito rentável para os futuros operadores. O pacotão de Alckmin inclui ainda modernização e operação das linhas 8 - Esmeralda e 9 - Diamante, da CPTM, importantes ligações metropolitanas com a capital, e a conclusão do elefante branco da linha 15 - Prata, que está atrasada em quase uma década e já sofreu diversas alterações no projeto, problemas financeiros e ineficiência de gestão. Além disso, a obra é vista como causadora de dores de cabeça aos moradores e comerciantes da Vila Prudente e dos arredores da Avenida Luiz Inácio de Anhaia Mello e hoje opera de forma desastrosa, com apenas duas estações ante as 17 constantes no projeto inicial, prometido como uma ligação férrea entre a região do Ipiranga e Cidade Tiradentes. Ainda, o governador do PSDB quer vender a operação do trecho norte do Rodoanel, outra obra atrasada e alvo de denúncias de desvios milionários, desde a gestão Serra, envolvendo também secretários, diretores do governo paulista, além de deputados federais. Linha 17: o bode na sala do Governador O caso da Linha que deveria ligar o Aeroporto de Congonhas ao Metrô e a CPTM é emblemático. Prometida como um forma rápida e barata - inclusive com tarifa abaixo do bilhete comum da rede férrea -, seria operada na modalidade monotrilho e poderia ser construída em apenas dois anos, sendo entregue em 2012 ou, no máximo, até a Copa do Mundo de 2014, mas está muito longe de ser concluída e começar a operar. Nos últimos anos, a obra passou por diversas revisões de valores e paralisações e, ao que tudo indica, os pouco mais de 7 quilômetros iniciais, ligando o Aeroporto ao Morumbi, não saem antes de 2019 e pode atrasar ainda mais, pois o governo lançou apenas o edital de operação. Ao todo, a Linha 17 teria quase 18 quilômetros e passaria por 18 estações,  com custo estimado de R$ 3,9 bilhões, mas hoje as estimativas mais otimistas falam em algo próximo dos R$ 6 bilhões. Ainda, não há certeza se ela terá as prometidas ligações de transferências com o Sistema de Trólebus para o ABD e com a Linha 1 - Azul no Jabaquara e 4 - Amarela, no Morumbi, principalmente porque esta última parou no Butantã e parece não conseguir passar dali. Se estivesse concluída, a Linha 17 - Ouro atenderia cerca de 500 mil usuários e seria uma opção confortável e rápida para regiões importantes e populosas, como Paraisópolis, além de desafogar a Linha 1 - Azul. Tentativa de CPI Foi apresentada na Assembleia Legislativa de São Paulo (Alesp) um pedido de CPI para investigar as denúncias que ligam empreiteiras ao pagamento de propina a agendas públicos estaduais, em especial depois da divulgação das delações de executivos e ex-executivos da Odebrecht para a Operação Lava Jato. Em um dos depoimentos, o cunhado do governador chegou a ser citado como receptador de propina. Desde de o escândalo do chamado "trensalão", que envolveu também as multinacionais Alstom e Siemens, a bancada de oposição ao governo vem denunciando a chamada "regra de impunidade", principalmente depois do benefício da prescrição da ação contra os ex-presidentes da CPTM, Olivier Hossepian Salles de Lima e Mário Bandeira, o primeiro acusado por violação da Lei de Licitações e o segundo por suspeita de recebimento de propina, ambos de gestões do PSDB no Estado de São Paulo. Bandeira atualmente comanda o Conselho das Privatizações do atual Governo e esteve à frente da CPTM em todas as gestões do governador Geraldo Alckmin. As acusações dizem respeito às fraudes ocorridas no processo de licitação e contratação das obras para a Linha 5 - Lilás, no esquema chamado Cartel de Trens, que nesta semana teve mais nove pessoas investigadas. Para o Deputado Estadual e Líder do PT na Alesp, Alencar Santana Braga, a impunidade prejudica que a verdade venha à tona. Segundo ele, "a roubalheira no Metrô reflete diretamente no dia-a-dia dos usuários que sofrem com as panes, atrasos e superlotações" e julga como "uma pena" a base de Alckmin tentar a todo custo barrar a instalação da CPI. "A sociedade paulista não pode mais conviver com a blindagem e impunidade que poupam o governo do PSDB em São Paulo, que há anos usufrui da complacência da imprensa e da leniência de parte da Justiça.", afirmou. Foto: Ivan Longo/Revista Fórum