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No dia 16 de maio comemoramos o dia do gari. Ao tomar posse, o prefeito João Doria fez questão de simbolizar o início de sua gestão se "fantasiando" de gari, tentando fazer um papel de trabalhador e humilde quando, ao que consta em matérias e biografias, construiu sua fortuna e sua carreira política com herança e lobby, e está longe, moralmente e socialmente, dos trabalhadores e das trabalhadoras por quem tentou se passar
Por Luiz Henrique Dias*
No dia 16 de maio comemoramos o dia do gari e da gari.
Mais do que o simbolismo da data, neste ano, temos um bom exemplo para ilustrar a importância desses homens e mulheres que dedicam sua rotina laboral a auxiliar na limpeza, conservação e qualidade ambiental das cidades. São pessoas, em sua maioria, de baixa escolaridade, que executam um trabalho braçal sob chuva ou sol, expostas às intempéries e aos perigos da cidade - vale lembrar dos inúmeros garis mortos atropelamentos - e convivem com baixos salários e longos deslocamentos entre suas casas e os locais de trabalho.
São pessoas dignas e lutadoras. Merecedoras não somente de nosso respeito mas também da consideração e do reconhecimento social e econômico.
No entanto, logo em janeiro, ao tomar posse, o prefeito marqueteiro João Doria fez questão de simbolizar o início de sua gestão se "fantasiando" de gari, tentando fazer um papel de trabalhador e humilde quando, ao que consta em matérias e biografias, construiu sua fortuna e sua carreira política não com gestão, como prega, mas com herança e lobby, e está longe, moralmente e socialmente, dos trabalhadores e das trabalhadoras por quem tentou se passar, em mais um cena patética de seu governo.
Doria carrega em si a marca da propaganda descolada da realidade e tem governado com notícias fantasiosas - como quando disfarça a piora no trânsito na cidade -, com humilhações públicas - como na demissão da Soninha Francine -, com condutas populistas e midiáticas - como no caso do morador de rua espancado pela GCM -, com mentiras eleitoreiras - como em relação ao congelamento das tarifas do transportes, mantendo o bilhete unitário e aumentando o temporal em até 50% - e com falta de responsabilidade pelos próprios erros, culpando a gestão anteriores por problemas, mesmo depois de cinco meses de governo e com a piora em praticamento todos os quesitos, como transporte, assistência social, saúde e educação.
O prefeito não poderia ter se vestido de gari, porque ele não sabe o que é enfrentar a cidade de fora dos carros de luxo, no chão, e ganhar seu dinheiro com o suor do calor ou suportando o frio e a chuva. Doria não tem noção sobre o quanto, para aqueles que trabalham duramente, muitos sonhos precisam ficar para trás e dar lugar à rotina diária e duro, vivida por esses homens e mulheres.
Para ele, o prefeito que manda recados em francês mal falado, e acha isso bonito, o uniforme de gari nem foi respeitado ao ser utilizado: Doria fez questão de mandar ao seu alfaiate particular para um ajuste, pois a fantasia, como o próprio nome já diz, não pode - nunca - ser igual a vida real.
*Luiz Henrique Dias é escritor e coordenador do projeto A São Paulo que Queremos