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Enquanto a mídia comercial brasileira, de forma suspeita, continua a ignorar o tema, a reportagem da emissora portuguesa TVI revela mais detalhes da escabrosa denúncia de tráfico internacional de crianças contra a Igreja Universal
Por Socialista Morena
Enquanto a mídia comercial brasileira, de forma suspeita, continua a ignorar o tema, a reportagem da emissora portuguesa TVI revela mais detalhes da escabrosa denúncia de tráfico internacional de crianças contra a Igreja Universal. Ontem, na terceira da série de dez reportagens, as jornalistas Alexandra Borges e Judite França acusam a filha de Edir Macedo, Viviane, de ter rejeitado um dos três irmãos que adotou, entregue a outro pastor da Universal, Romualdo Panceiro, braço direito do dono da Record, e levado para o Rio de Janeiro.
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O caçula dos três irmãos, Fábio, morreu em julho de 2015, aos 19 anos, vítima de uma overdose em Los Angeles, nos Estados Unidos, segundo a imprensa portuguesa, que, ao contrário da brasileira, está investigando o caso, assim como o Ministério Público. Já começam a aparecer, inclusive, outras mães que acusam abertamente a igreja Universal de ter “roubado” seus filhos. No episódio de ontem à noite, as jornalistas da TVI sustentam que Viviane não quis ficar com o mais novo das crianças, entregando-o a Romualdo, o que contraria tanto as leis portuguesas quanto as brasileiras: em caso de adoção, irmãos não devem ser separados.
No programa, Fábio aparece em vídeo, aos 4 anos de idade, sendo instigado a repetir trechos da Bíblia e até o endereço da sede da Igreja. Em 2014, o próprio pastor havia revelado, ao site da Universal, os problemas do filho adotivo com as drogas, mas culpou a “antiga responsável” por ele em Portugal pelo problema, em um relato pouco esclarecedor, para dizer o mínimo.
“Nós adotamos o Fábio em 1998, quando ele tinha 2 anos. Ele era português e quando tinha 6 anos, a Justiça de lá determinou que ele deveria voltar para a antiga responsável por ele. Eu estava em São Paulo quando isso aconteceu. A Marcia ia visitá-lo em Los Angeles, onde ele morava, mas não tínhamos condições de continuar nessa rotina. A mãe que pegou a guarda dele dos 6 até 19 anos trabalhou a cabeça dele contra a gente, dizendo que nós é que não queríamos ficar com ele. Ela mudou de casa e perdemos o contato com ele. Quando ele completou 18 anos, essa mãe o colocou na rua. Foi quando ele conheceu a droga e passou a dormir na rua. Em 2013, fomos transferidos para Los Angeles e, em dezembro passado, ele achou a Marcia no Facebook. Ele pediu ajuda. Nós o trouxemos para cá (Los Angeles), mas mesmo aqui conosco ele teve uma overdose. Não foi fácil, já que, depois de 13 anos, o filho que havia sido entregue no Altar de Deus volta para a gente cheio de problemas. Nós oramos por ele intensamente, até que, recentemente, eu fui inaugurar uma igreja em Boston e ele foi comigo. Nesse dia, ele chorou por 40 minutos, como nunca havia feito antes. Então, decidiu mudar. Ele disse para mim: ‘Pai, eu quero me batizar.’ Hoje, ele já é outra pessoa, assiste aos cultos todos os dias e está cada vez mais envolvido com as coisas de Deus.”
Um ano depois, porém, Fábio morreu. Na época, a mulher do pastor, Marcia, postou no facebook que o rapaz “estava dormindo e teve uma parada cardíaca” e que não importa como a pessoa morre.
Mas a imprensa portuguesa afirma que a causa da morte do adolescente foi uma overdose. Ontem, o jornal sensacionalista Correio da Manhã, o maior em circulação no país, soltou a notícia em manchete.
O Correio também publicou que a avó de duas crianças gêmeas procurou o jornal para denunciar que a IURD levou suas netas. Acolhidas no Lar da Universal em Lisboa porque a mãe não tinha condições de cuidar delas, as meninas Cristela e Daniela, de um ano, foram dadas à adoção mesmo tendo o pai interessado em sua guarda. “A primeira vez que fui ao lar correram comigo. Não me deixavam ver as meninas e fui atendida pela janela”, disse Odete, funcionária pública aposentada. O Diário de Notícias informou que as mães de dez crianças que teriam sido levadas do lar pretendem acionar o Estado português por ter permitido a saída delas do país.
O mais estranho da história até agora é que os dois filhos adotivos de Viviane, Luis e Vera, no vídeo que gravaram para defender a igreja, dizem, em uma fala aparentemente lida, que o irmão acabou de falecer, quando sua morte ocorreu dois anos atrás. “Estamos tristes por algumas razões. Acabamos de perder o nosso irmão, por um problema de coração”. Confira.
O canal informativo SIC apontou as inconsistências entre a história das crianças contada por Viviane em seu diário na internet e a versão dos próprios filhos adotivos. Nas postagens de 26 de janeiro do ano passado, que foram tiradas do ar, Viviane diz que a adoção foi negada pelas autoridades portuguesas porque, na época, a soma das idades dela e do marido, o pastor Julio Freitas, era inferior a 50 anos, o que, pelas leis do país, é um impeditivo. Já Luis e Vera afirmam ter sido “adotados de uma forma legal por uma família americana”.
Em nenhum dos relatos a filha de Edir Macedo menciona a existência de uma terceira criança.
Uma coisa bate inteiramente com a reportagem: os irmãos afirmam ter o sobrenome “Katz”, como o da ex-secretária de Edir Macedo, Alice, que as jornalistas acusam ser a pessoa que tirou irregularmente as crianças de Portugal para entregar à filha e ao genro dele nos Estados Unidos.
O envolvimento de Fábio com as drogas não é o único entre as crianças adotadas pelos pastores e bispos da Universal. Outro neto adotivo de Edir, Filipe, filho de Cristiane e de Renato Cardoso, contou ao próprio avô, em entrevista, sobre seu envolvimento com a cocaína, do qual se dizia arrependido. Não se sabe ainda se Filipe também foi adotado em Portugal.
Hoje à noite, no quarto episódio da série, a TVI promete mostrar evidências de que os meninos eram “maltratados” por Viviane e seu marido Julio Freitas.