A performance "DNA de Dan", alvo de intimidação da polícia em Brasília, passou por novo constrangimento em Londrina a partir de denúncia de grupos de direita. Organização do festival repudiou a intervenção policialPor Redação
A escalada moralista de grupos de direita contra a liberdade artística segue a todo o vapor. No último sábado (14), após denúncias de um desses grupos, a Polícia Militar do Paraná prendeu três membros da organização do Festival de Dança de Londrina por conta de uma performance que envolvia nu artístico.
A performance em questão era a "DNA de Dan", protagonizada pelo artista curitibano Maikon Kempinski. Na apresentação, Maikon fica dentro de uma bolha transparente fazendo movimentos que imitam uma cobra, com o corpo nu e banhado por um gel.
Os três organizadores do festival que foram detidos tiveram que fornecer seus dados pessoais na delegacia e, na sequência, foram liberados. O artista, por sua vez, não foi detido pois, de acordo com a PM, ele não foi identificado.
No momento da chegada dos policais, já no final da apresentação, o público fez um "cordão humano" em volta de Kempinski e o retirou do local.
Em julho, Kempinski já havia sido detido e agredido pela PM por conta da mesma apresentação em Brasília (DF).
Em nota, a organização do Festival de Dança de Londrina repudiou a ação policial e informou que todos os cuidados para a preservação do público foram tomados. "A produção ficou disposta em ambos os lados da via pública, a uma distância aproximada de 15 metros, para informar os passantes, sobretudo famílias, sobre o conteúdo da apresentação, oferecendo a possibilidade de tomarem um desvio", escreveram.
Confira, abaixo, a íntegra da nota.
O Festival de Dança de Londrina manifesta-se a respeito da polêmica envolvendo a performance “DNA de DAN”, do artista Maikon K, na programação de sua 15ª edição.
No sábado (14), pouco antes do fim da apresentação, que durou quase quatro horas, a PM compareceu ao Palco do Lago Igapó para encaminhar o artista e a coordenadora do Festival à delegacia em razão de uma denúncia por “ato obsceno”.
A organização do Festival de Dança de Londrina e o público presente, próximo de uma centena de pessoas, mobilizaram-se contra a retirada de ambos. A abordagem dos policiais militares foi amistosa e respeitosa e, a pedido do Festival, concordaram em levar para prestar esclarecimento os coordenadores do evento.
Maikon K foi retirado do local pelo próprio público em mutirão, num ato simbólico em defesa à liberdade de expressão nas artes. Constatou-se posteriormente que a detração fazia parte de um movimento organizado de fundo político-ideológico.
O Festival esclarece que todos os cuidados para a preservação do artista e do público foram tomados: o evento portava as liberações para utilização do espaço; a apresentação enquadrava-se nas diretrizes da Lei do Artista de Rua; a produção ficou disposta em ambos os lados da via pública, a uma distância aproximada de 15 metros, para informar os passantes, sobretudo famílias, sobre o conteúdo da apresentação, oferecendo a possibilidade de tomarem um desvio; seguranças foram contratados para impedir que pessoas sem autorização subissem no palco; observou-se rigorosamente a classificação indicativa (acima de 16 anos) para os que manifestaram interesse em adentrar o espaço no momento da dança-instalação (que acontece na última hora da performance).