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Jovem morador da Cidade de Deus, no Rio de Janeiro, revela com exclusividade à Fórum detalhes de como foi a abordagem violenta dos policiais, que levou à morte Marisa de Carvalho Nóbrega
Por Lucas Vasques
Um relato assustador de um jovem mostrou a falta de preparo de alguns integrantes do Batalhão de Operações Policiais Especiais (Bope), do Rio de Janeiro. Depois de ser ofendida e agredida com uma coronha de fuzil, a diarista e vendedora Marisa de Carvalho Nóbrega (foto), de 48 anos e mãe de cinco filhos, moradora do Pantanal, na Cidade de Deus, morreu na manhã desta segunda-feira (9), no Hospital Salgado Filho, no Méier. “É a primeira vez que passo por isso”, revela Thauan Nóbrega dos Santos, de 17 anos, filho de Marisa, ainda sob o efeito da forte emoção pela perda da mãe. Ele se refere à violência desmedida dos membros do batalhão.
No último final de semana, policiais do Bope faziam operação na comunidade. “Eu estava saindo da casa da minha irmã, em direção à casa da minha mãe. Estava acompanhado da namorada, irmã e prima. Chegando perto do mototáxi fomos abordados por policiais do Bope.” A truculência começou neste momento.
Thauan segue seu relato macabro: “Começaram a me revistar e mandaram eu confessar que era traficante. Acharam isso porque disseram que eu estava muito bem vestido e isso é coisa de traficante. Virei para eles e falei: ‘Meu senhor, sou trabalhador, sou mototaxista de dia e estudo à noite’. Um deles disse que eu estava mentindo, que eu era traficante e que eu e meu irmão estávamos com um rádio transmissor”.
A partir daí a violência se intensificou. “Deram um soco na minha cabeça e um monte de tapas na minha cara, além de baterem na minha irmã e na minha prima. Tentei entrar na frente para evitar. Foi quando mandaram chamar minha mãe. Ela chegou perguntando o que houve e por que estávamos apanhando. Passaram também a xingar minha mãe, com palavrões horríveis. E ainda por cima continuaram me batendo e deram um soco na cabeça da minha mãe”, relembra o jovem.
Thauan disse que tentou evitar o pior, ficando na frente da mãe para que ela não fosse mais agredida, mas, segundo ele, levou um soco no rosto. “Então, puxei minha mãe e um deles deu uma coronhada de fuzil na cabeça dela. Minha mãe começou a suar, avisando que estava passando mal e começou e tremer. Eles falaram para ela parar de fazer drama e começaram a xingá-la, inclusive de piranha. Quando chegou em casa, ela desmaiou e a levamos correndo para a UPA (Unidade de Pronto Atendimento), de onde ela foi encaminhada de ambulância para o Salgado Filho. Lá, acabou falecendo. Não sei dizer no momento a causa da morte”, finalizou, embora conste na certidão de óbito que ela teve um aneurisma. A família está arrasada e quer justiça, apesar de estar com medo de represálias. Por isso, não houve boletim de ocorrência.
Na tarde desta terça-feira (10), estava previsto o sepultamento, mas policiais da 32ª DP foram ao Cemitério do Pechincha, em Jacarepaguá, e impediram a realização do enterro de Marisa. A polícia quer que o corpo passe por um exame cadavérico no Instituto Médico Legal (IML) para averiguar se ela morreu em consequência da agressão do policial do Bope. A delegacia abriu inquérito para investigar o caso.
Foto: Reprodução