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"Faltou Dilma na presidência, para entrar no Estádio como Elisabeth II entrou em Londres, não com 007, mas com crianças do Bolsa Família e moradores do Minha Casa, Minha Vida. Faltou dizer que estávamos vencendo a pobreza. Esta faltou porque a elite roubou o governo, sem voto, não pelos erros do PT, mas por seus acertos". Confira o novo artigo de Adriana Dias
Por Adriana Dias*
Festa finda, comentários a pensar. Foram lindas as cerimônias. Mostraram muito de nossa história, mas deixaram algo a desejar?
Em primeiro lugar, sei que o tempo é precioso. Que escolhas precisaram ser realizadas. Mas, há momentos que múltiplas cenas aconteceram e escolhas deixaram de lado importantes fatos, pessoas, grupos. E essas escolhas falam de nossa narrativa social.
A abertura falando da diversidade, dos indígenas, da nossa negritude é tudo que o governo Temer não pode ser, obviamente porque essa abertura não foi elaborada por ele. Bem poderia. É a abertura que conta o anti-golpe. Mas, faltou falar da presença dos italianos, tão importante quanto os japoneses, dos alemães, dos judeus. E poderiam ter vindo junto com os arábes, e mais povos, tão grande é nossa diversidade quanto nosso acolhimento a eles.
Faltou humor. Não faltou alegria. Mas, faltou humor. Faltou turma da Mônica, Menino Maluquinho, faltou infância, literatura infantil. Aliás faltou literatura. Faltou Machado de Assis. Lido no mundo inteiro. Um homem que escreve do túmulo suas memórias, a Turma do Penadinho junto, Chico Bento falando da natureza, o Papa Capim com os indígenas. Faltou falar da infância. Talvez porque a gente não saiba mesmo preservar a nossa, haja visto a vitória da diminuição da idade penal... E faltou literatura, visto que se soubéssemos mesmo ler, ninguém pediria menos Paulo Freire e mais escola sem partido...
Faltou Dilma na presidência, para entrar no Estádio como Elisabeth II entrou em Londres, não com 007, mas com crianças do Bolsa Família e moradores do Minha Casa, Minha Vida. Faltou dizer que estávamos vencendo a pobreza. Esta faltou porque a elite roubou o governo, sem voto, não pelos erros do PT, mas por seus acertos.
Por fim, faltaram pessoas com deficiência. Paralimpíadas existem, mas TODAS as aberturas até hoje tiveram dançarinos com deficiência. O Brasil segrega tanto que em nenhuma das cerimônias apareceu nenhum. Não é surpresa que não se venda ingressos paralímpicos. A segregação é imensa. Queriam que acontecesse como?
*Adriana Dias é coordenadora do Comitê "Deficiência e Acessibilidade" da Associação Brasileira de Antropologia
e coordenadora de pesquisa, tanto no Instituto Baresi (que cria políticas públicas para pessoas com doenças raras) quanto na ONG ESSAS MULHERES (voltada à luta pelos direitos sexuais e reprodutivos e ao combate da violência que afeta mulheres com deficiência). É ainda Membro da American Anthropological Association e foi membro da Associação Brasileira de Cibercultura e da Latin American Jewish Studies Association
Foto: Divulgação/Rio2016