Murilo Cleto: O afastamento da professora que abordou Marx revelou a verdadeira face do Escola Sem Partido

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Apesar de pedagogicamente injustificável e legalmente insustentável, o afastamento da professora foi necessário para revelar a verdadeira face do movimento Escola Sem Partido, que majoritariamente o comemorou com entusiasmo Por Murilo Cleto Tenho observado com muita preocupação a repercussão do vídeo (https://goo.gl/JhAv21) em que alunos de uma escola estadual de Curitiba aparecem parodiando a música “Baile de Favela” com conceitos marxistas como “ideologia”, “luta de classes” e “mais-valia”. Em pouco tempo o vídeo viralizou. E entrou no radar de Rodrigo Constantino, ex-colunista da Veja, que promoveu uma verdadeira cruzada contra a professora responsável, acusando-a de praticar a “doutrinação” dos alunos. Constantino a chamou de safada e bandida intelectual. Ela acabou sendo afastada porque, segundo a direção, expôs os adolescentes e difamou a instituição. Mas, apesar de pedagogicamente injustificável e legalmente insustentável, o afastamento da professora foi necessário para revelar a verdadeira face do movimento Escola Sem Partido, que majoritariamente o comemorou com entusiasmo -- o próprio Constantino é um dos seus adeptos. Digo isso porque ainda há quem caia no conto de que o propósito dessa asneira aí, como bem definiu Karnal, é garantir a pluralidade do ensino formal. Não é. Nunca foi. E eu explico: Se o problema com a aula fosse a ausência de pluralidade, ninguém exigiria o afastamento da professora e nem ficaria escandalizado com a abordagem marxista, mas cobraria, no máximo, um trabalho semelhante com outros sociólogos clássicos como, sei lá, Comte, Durkheim e Weber. A cobrança seria questionável, afinal há sociólogos demais para que todos sejam contemplados num ano letivo, mas seria pelo menos compreensível e coerente com a propaganda da proposta de uma escola mais plural. Não é de pluralidade que estamos falando, mas de censura. E esse é, evidentemente, o primeiro motivo pelo qual me preocupo com a interferência em sala de aula. A rigor, são profissionais muito pouco familiarizados com as Ciências Humanas que se sentem no direito de determinar o que é e o que não é legítimo ensinar em sala de aula. O que estamos prestes a assistir não é muito diferente do que se viu em experiências totalitárias, quando alunos eram estimulados a denunciar, pelo bem da nação, professores alinhados à esquerda. Hoje a professora é afastada. Amanhã é o quê? O que basta para saciar a sanha persecutória da nova direita brasileira? O mais curioso disso é que Rodrigo Constantino e a imensa maioria dos entusiastas do movimento Escola Sem Partido se intitulam “liberais” -- de fazer inveja aos republicanos nos EUA dos anos 1920, diga-se. Mas não é só isso. Se você assistir ao vídeo em que os alunos cantam a versão marxista de Baile de Favela, não vai ser capaz de diferenciá-lo de outros que se veem por aí de professores que ensinam fórmulas químicas ou matemáticas em cursinhos pré-vestibulares. Nas maiores escolas particulares do país, paga-se uma nota pela aula deles. A única diferença aqui, e que torna a ação da professora ainda mais admirável, é que foram os próprios alunos que escreveram aquelas linhas. Os conceitos estão todos ali. É uma aula de Sociologia. Com a participação ativa e entusiasmada dos alunos. E só quem trabalha com adolescentes sabe o quanto isso é difícil. Estamos falando de um autor oitocentista sendo cantado por alunos do Ensino Médio. Um autor que está presente em todos os currículos de Sociologia do mundo e que vai cair em todos os vestibulares que essa criançada vai prestar. Isso que está acontecendo é mais que macarthismo. É burrice. Os burros sequestraram este país. Por falta de aviso que não foi. Ah, os alunos não gostaram nada da decisão. Por isso organizaram protestos e abriram uma campanha que todos temos a obrigação de abraçar: ?#?VoltaGabi?. É isso: volta, Gabi.