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Geovânia de Sá (PSDB-SC) encaminhou ao ministro das Relações Exteriores de Temer um ofício com indicação para contratação de diplomata; candidato, porém, sequer prestou concurso público exigido para o cargo
Por Carlos Corisco
Sabe aquele papo dos tucanos de São Paulo, de que o PSDB é um partido mais "técnico" e "moderno", enquanto o PT "aparelha" tudo?
Pois é... Quem tem dois neurônios e jamais foi atingido por bolinhas de papel na cabeça, sabe que isso é papo furado. Mas a presença de Serra no Itamaraty ajuda a entender um pouco melhor como funciona o partido de Paulo Preto e Sergio Mota.
Prestem atenção nesse ofício, que circula pelas redes do Ministério de Relações Internacionais.
A deputada Geovânia de Sá (PSDB-SC), que assina o ofício, é conhecida por defender "valores cristãos" (clique aqui para saber mais). A parlamentar defende, por exemplo, que "pela Bíblia somente um homem e uma mulher podem constituir família".
No dia da infame votação do impeachment de Dilma, a sorridente Geovânia votou assim:
"Pela honra da minha família e pela minha cidade Criciúma, por Santa Catarina e pela libertação do povo brasileiro, digo sim".
Mauricio Studt é o rapaz que ela gostaria de instalar num "cabidão" no Itamaraty.
A foto ao lado foi retirada da conta de Facebook de Studt, que se apresenta como dono de uma loja de chocolates em Criciúma. Não se sabe se ele é parente de Geovânia. Mas Studt parece gostar de esportes refinados, o que talvez o ajude na carreira diplomática (deve ter imaginado a deputada...).
A nobre parlamentar talvez desconheça que a leitura da Bíblia não lhe dá o direito de nomear funcionários para uma carreira que exige concurso público.
Mas o fato é que a tucana ficou à vontade pra mandar a José Serra o ofício - que causou enorme revolta entre os quadros do Itamaraty.
"Isso é só uma ilustração de como o discurso tucano de aparelhamento é hipócrita", disse um diplomata ouvido por nossa reportagem.
O mesmo diplomata revela que Serra vem acumulando muita oposição interna no Ministério, pelo estilo truculento de suas ações. Os funcionários dizem que o novo ministro usa a imprensa pra mandar recados. Um exemplo é a recente nota publicada no Estadão - diário conservador paulista, que apóia o governo interino:
"José Serra decidiu manter os quadros do governo petista no Itamaraty. A execeção serão os que usarem cargo para militância política. Esses serão substituídos e já estão sendo identificados" - publicou o diário paulistano.
"Essa nota gerou revolta nos quadros de carreira minimamente lúcidos e progressistas. Talvez não sejam maioria, mas não são poucos", disse um diplomata sob condição de anonimato.
Há alguns dias, o chanceler interino José Serra mandou um diplomata brasileiro usar uma cerimônia na OIT (Organização Internacional do Trabalho) para defender que o golpe de Temer não foi um golpe. O tal diplomata foi vaiado, e o Brasil saiu um pouco mais desmoralizado do evento.
Conhecido por ligar para redações para pedir cabeça de jornalistas que fazem perguntas desagradáveis, Serra é o homem errado no lugar errado.
Sobre ele, escreveu Gregorio Duvivier: como pode? um sujeito que não tem amigos ser o chefe da diplomacia?
Mas pode. Pode tudo.
Com Temer, pode Serra no Itamaraty, perseguindo inimigos...
E pode a Geovânia tentando nomear um jogador de golfe pra carreira diplomática...
O golpe de Temer e Serra é o golpe dos corruptos. E o golpe da vergonha.
Foto de capa: Geraldo Magela/Agência Senado