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Dossiê encaminhado ao Ministério Público aponta que a banca era integrada por pessoas próximas ao escolhido e sem experiência na área; vencedor dá aulas na instituição como temporário há 10 anos
Por Redação
Um grupo de docentes que prestou o concurso público para a contratação de um professor titular para a área de Patrimônio Cultural e Turismo na Escola de Artes, Ciências e Humanidades (EACH) da Universidade de São Paulo (USP) entrou com uma representação no Ministério Público do Estado contra a banca.
O resultado é contestado por 12 dos 18 candidatos que participaram das provas. Segundo um dossiê elaborado por eles, a seleção foi feita para beneficiar André Fontan Köhler, que dá aulas na condição de professor temporário na instituição há cerca de dez anos. A EACH já teve dois concursos impugnados nos últimos anos por suspeitas de irregularidades.
Os participantes começaram a suspeitar após os resultados da primeira fase, pois acreditam que as notas de Köhler foram muito maiores até do que outros acadêmicos mais qualificados. A falta de “aderência” dos integrantes da banca com o tema do concurso foi outro ponto que incomodou os candidatos. “Dentre os membros, um era especialista em geologia (fertilizantes); outro em história da matemática; e dois em administração. Já o último, era uma arquiteta ligada à gestão de projetos, professora de faculdade privada, não-concursada”, aponta o grupo.
A partir dessas suspeitas, os outros candidatos passaram a pesquisar sobre a banca e descobriram que todos os professores que participaram dela tinham alguma relação próxima com Köhler. Além de amigos nas redes sociais, Köhler agradece à arquiteta Clarissa de Castro Souza em sua tese de doutorado. A diretora da EACH, Cristina Motta de Toledo, a quem o candidato aprovado já era subordinado como professor temporário, participou da banca, assim como Rogério Monteiro de Siqueira, coordenador da pós em Estudos Culturais – programa no qual o candidato André já tem aprovado internamente seu credenciamento, e no qual foi membro de várias bancas.
Os outros dois professores que participaram da banca são ligados à Fundação Getúlio Vargas de São Paulo (FGV-SP), assim como Köhler. Antonio R. Bono Olenscki estudou com ele na FGV entre 1999 e 2005 – época em que cursaram não apenas a mesma faculdade por mais de meia década, mas o mesmo curso e a mesma especialidade. Antonio S. Araújo Fernandes é coordenador de revista acadêmica da FGV, também do mesmo curso e especialidade do candidato escolhido.
Antes do Ministério Público, as informações do dossiê foram levadas à Ouvidoria da USP e à Congregação da EACH. A Ouvidoria informou que, “por ser uma instância informal, não tem poderes legais que lhe permitam atuar no caso”. Apesar das contestações, a Congregação da EACH homologou o concurso, com dez votos favoráveis e três abstenções.