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Fórum conversou com alguns especialistas para entender melhor os impactos que a mudança proposta pelo prefeito eleito, João Dória (PSDB), tem para a cidade
Por Victor Labaki
Uma das principais bandeiras defendidas pelo prefeito eleito por São Paulo, João Dória (PSDB), é de que ele irá aumentar os limites de velocidade de algumas vias da cidade. As ruas tiveram a velocidade máxima reduzida para 50 km/h durante a gestão de Fernando Haddad (PT) a partir de julho do ano passado.
Em várias entrevistas no dia seguinte da sua confirmação como candidato mais votado, Dória reiterou a proposta e disse que essa será sua primeira medida como prefeito.
“Na semana seguinte muda [a velocidade]. Só não muda no dia seguinte porque nós precisamos mudar a sinalização conforme determina o Código Nacional de Trânsito. As velocidades nas marginais vão para 90, 70 e 60 [km/h]. O restante da cidade vamos manter e rever, ponto a ponto, necessidade de revisão”, disse ao programa Bom Dia São Paulo, da TV Globo.
Desde que a velocidade foi alterada para 50 km/h, alguns balanços foram feitos e apontaram que a medida contribuiu para a redução no número de acidentes e não representaram um aumento de congestionamento.
Uma matéria publicada nesta terça-feira (4) pelo jornal O Estado de S.Paulo mostrou que as mortes em acidentes de trânsito caíram três vezes mais do que no restante do estado. Na capital, o número de acidentes caiu 16,7% e foi de 775 para 645 ocorrências, entre janeiro e agosto deste ano, em comparação com o mesmo período do ano passado. No restante do estado a diminuição é de 5,5%, de 4.093 para 3.867 mortes.
Mali Malatesta, especialista em mobilidade a pé, questiona quem de fato seriam os beneficiados por esse aumento.
“Qual o percentual da população que a gente atende quando está aumentando a velocidade? A maioria das pessoas está se beneficiando com isso? Um terço da população de São Paulo? Um pouco menos? Você acaba prejudicando quem anda a pé e o usuário do transporte público, que é um pedestre também”, disse.
Um dos argumentos utilizados pelo tucano é de que o aumento da velocidade ajudaria a aliviar o trânsito de São Paulo. De acordo com o professor Luiz Vicente Figueira de Mello, coordenador do curso de engenharia do Mackenzie Campinas e especialista em mobilidade urbana e gestão ambiental, essa afirmação não é verdadeira.
“Se você tem um número de vias que abastece com uma velocidade e aumenta a velocidade quando chega a Marginal, você tende a aumentar o trânsito. É como se você tivesse uma tubulação com água, por exemplo, e quisesse encher um balde. Se você aumentar a velocidade, você vai acabar criando um obstáculo, uma restrição”, afirmou.
Luiz Vicente Figueira de Mello disse que a diminuição das velocidades aumenta o tempo de frenagem e reação dos motoristas causando menos acidentes.
“As marginais Pinheiros e a Tietê são as que concentram o maior número de mortes por atropelamento. E ao diminuir velocidade você acaba reduzindo o número de mortes porque você aumenta o tempo de reação dos motoristas”, completou.
A probabilidade de uma lesão fatal quando a velocidade é 50 km/h é de 0,4%, quando velocidade é 60 km/h o percentual vai para 0,6%. A 90%, velocidade sugerida por Dória para as pistas expressas, a probabilidade vai para 1%, de acordo com um gráfico chamado "Curva de Ashton".
[caption id="attachment_90932" align="aligncenter" width="435"] Fonte: mobilize.org[/caption]
O professor de física do colégio Santo Américo, José Eduardo Biasoto, explica a diferença de impacto entre veículos que estão a 70 km/h para os que estão trafegando a 90 km/h.
“Para analisar o aumento de 70 km/h a 90 km/h é a mesma coisa que você pegar e bater um carro a 20 km/h em um muro. Esta é a diferença. Claro que existem variáveis, como o tempo que o motorista demorou para frear, o peso do carro etc. Mas na prática a diferença é essa. Lógico que isso é a diferença entre o impacto a 90 km/h e 70 km/h”, afirmou.
Além dessas variáveis, a diminuição de limites de velocidade é uma recomendação da OMS (Organização Mundial da Saúde), conforme um relatório publicado em setembro deste ano.