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O sociólogo português provocou ontem (20) a plateia e os palestrantes a refletirem sobre o papel do evento para a construção, de fato, de um novo modelo de desenvolvimento
Por Camila Maciel, enviada especial da Agência Brasil
O sociólogo português Boaventura de Sousa Santos provocou ontem (20) a plateia e os palestrantes convidados para o debate Globalização: desigualdade e a crise civilizatória, no Fórum Social Temático, em Porto Alegre, a refletir sobre o papel do evento para a construção, de fato, de um novo modelo de desenvolvimento.
“O Fórum Social Mundial não toma posição política. Qual é a tragédia disso? Cultivamos o consenso, mas esvaziamos o fórum. Quem é que vai correr o risco de uma viagem cada vez mais cara para diferentes partes do mundo para vir apenas discutir, pois não se toma posição”, questionou Boaventura, sob aplausos do público.
O Fórum Social Temático é uma preparação para a etapa mundial do evento, que ocorrerá em Montreal, no Canadá. Este ano, o Fórum Social Mundial, criado em 2001 para se contrapor ao Fórum Econômico Mundial de Davos, celebra 15 anos.
“Quando pensávamos o fórum a ideia era que havia uma globalização hegemônica e que havia uma globalização contra-hegemônica, os movimentos, as organizações”, relembrou o sociólogo. Segundo ele, o Fórum Social Mundial foi importante para impulsionar articulações continentais e intercontinentais, como a Marcha Mundial de Mulheres, a Via Campesina e a Articulação Indígena Intercontinental.
Boaventura avalia, no entanto, que o fórum não conseguiu mobilizar lutas conjuntas. “Por que não foi possível, através da globalização alternativa, contornar a agressividade do capital financeiro, que agora até parece mais arrogante do que nunca?”, questionou.
Para o sociólogo, participante histórico do FSM, as novas gerações têm o desafio de pensar um novo modelo para o evento, criado sob o lema de que “um outro mundo é possível”.
“Pode continuar assim como tem sido, mas criemos uma estrutura paralela próxima, que nos permita de alguma maneira tomar posições”, defendeu.
Causas históricas
Para Maren Mantovani, do movimento Stop to Wall, o Fórum Social Mundial pode ser um espaço de criar consensos, e questão palestina é um exemplo disso. “Este é um tema que mostrou uma continuidade incrível desde a constituição do Estado de Israel, com a expulsão do povo palestino, desde 1948. A partir de então, cada dia mais terras são roubadas, a água e a vida desse povo. Está colonizando a terra. Mas, apesar de tudo, temos a continuidade da luta de um povo”, disse. Mantovani convocou os participantes do fórum a assinar um abaixo-assinado pelo embargo militar a Israel.
Durante o debate, o presidente da Central Única dos Trabalhadores (CUT) do Rio Grande do Sul, Claudir Nespolo, diz que é preciso separar aqueles que são “inimigos” do fórum e os que são críticos do evento. Ele citou como exemplos dos consensos e avanços possibilitados pelo Fórum Social Mundial a chegada ao poder de governos progressistas na América Latina e o enfraquecimento da proposta de criação da Área de Livre Comércio para as Américas (Alca). “O legado do fórum foi extraordinário, mas agora não estamos nos nossos melhores momentos, justamente por conta da pauta, que é coordenada desde o pensamento econômico de Davos”, avaliou.
O presidente da CUT gaúcha destacou posições conjuntas que a entidade apresentará na Assembleia dos Movimentos Sociais, no sábado (23), como a taxação das grandes fortunas e a análise da dívida dos países.
Também participaram do debate a sindicalista Ruth Coelho; as representantes da Aliança Internacional de Habitantes, a argentina Cristina Reynold; e do Centro Brasileiro de Solidariedade Aos Povos e Luta Pela Paz, Socorro Gomes; e o jornalista austríaco Leo Gabriel.
O Fórum Social Temático vai até o próximo sábado (23). A programação completa está no site do evento.
Foto de capa: Vladimir Platonow/Agência Brasil