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Relatos do terceiro protesto contra o aumento da tarifa do transporte público em São Paulo, organizado pelo MPL, revelam tensão após inúmeros casos de violência policial ocorridos na terça-feira (12). Desta vez, o ato foi concluído sem maiores transtornos
Por Helô D'Angelo
A última manifestação do Movimento Passe Livre (MPL), que aconteceu ontem (14) em São Paulo, foi pacífica. Com dois locais de concentração - um no Theatro Municipal, o outro no Largo da Batata -, as duas caminhadas reuniram cerca de 11 mil pessoas, segundo a organização, e conseguiram ser concluídas com apenas alguns incidentes isolados.
Confira alguns relatos:
“O ato foi pacifico. A gente deixou o trajeto muito claro para a polícia, e eles concordaram com o caminho que a gente criou, com os dois trajetos, tanto o que saía do Theatro Municipal quanto o que saía do Largo da Batata. O clima estava tenso no começo, mas foi tudo muito pacífico. Em algum momento, quando a gente estava na Brigadeiro, houve uma explosão, e esse foi um momento de algum conflito. Mas o ato continuou sem violência. Seguimos até o MASP. Foi animado, tranquilo, um ato grande, apesar da chuva forte que estava caindo. Houve relatos de a polícia jogando bomba dentro do metrô Consolação, mas este foi um caso isolado”
Luize Tavares, 19, militante do MPL, participou da caminhada do Centro.
“Havia bem menos pessoas que nos dois primeiros atos, o que pode se justificar pela divisão das concentrações ou pela chuva. Mas o clima estava bem calmo, pelo menos até a entrada na avenida Brigadeiro, quando estouraram uma bomba na linha de trás do ato. Eu não soube muito bem o que aconteceu, porque eu estava na dianteira. Os policiais da frente fizeram uma formação como se fossem nos repelir, mas não passou de um susto. Subimos a Brigadeiro até a paulista numa boa, sem maiores problemas. O que me espantou foi ver como estava o policiamento. Muitos polícias, acho que nunca vi tantos juntos assim. O ato finalizou na frente do MASP, quando o MPL fez um jogral marcando um novo ato para a próxima terça-feira (19). A única confusão que eu vi, na verdade, foi depois do fim do ato, quando nos dispersamos e uma parte foi até o metrô Consolação. Os seguranças fecharam os portões, mas os manifestantes, com chutes, conseguiram abrir o portão e entraram. Dentro da estação, ameaçaram pular as catracas. Eu estava lá e consegui pular, mas um amigo meu ficou para trás e disse que houve repressão pelos guardas do metrô. O choque interviu com bombas de gás e bombas de efeito moral. Nisso, eu fui embora”
Vinícius Nunes, 19, estudante de Jornalismo, participou do ato do Centro.
“Concordo com o passe livre, sou contra o aumento da tarifa, mas o que me fez ir para a rua foi a violência do ato de terça-feira. Pessoas que eu conhecia ensanguentadas dando depoimentos à mídia. Eu senti isso ontem, essa tensão, e fui lá para aumentar o número de pessoas. Para mostrar que, quanto mais tentarem reprimir e esconder, mais gente vai para a rua. Existem argumentos a favor de aumentar a tarifa, é claro, mas não tem nada legítimo em defender esse uso de força contra estudantes. Acabou não acontecendo nada de violento ontem, a não ser no finalzinho, na Consolação.
O clima com a PM estava bem tenso, todo mundo preocupado, sendo revistado assim que saia do metrô. Todo mundo com muito medo. Chegando lá, as pessoas estavam distribuindo vinagre para colocar na camiseta. Estava todo mundo preocupado, porque, inclusive, como a policia estava na frente e atrás do ato, escoltando a gente, sempre que a caminhada parava era bem assustador. Paramos um tempão no meio da ponte Cidade Universitária e como tinha um daqueles novos caminhões israelenses da tropa de choque do nosso lado, todo mundo ficou super preocupado. Ali, não tinha para onde fugir. Foi bem tenso. Mas eu fui para ficar tenso e preocupado mesmo, para defender o direito de sair as ruas. É exatamente por causa do medo que eu tive e que todos tivemos que tem que continuar indo. Eu vou sair de novo. Porque a PM é sempre truculenta, e acho que temos que continuar enfrentando e bater de frente. Não dá para ficar com medo e não fazer nada”.
Alan Gleizer, aluno da PUC-SP, participou do protesto no Largo da Batata.
“Ontem, eu me juntei ao GAPP (Grupo de Apoio a Protestos Populares), que dá assistência às pessoas nas manifestações, prestando socorro. A manifestação foi marcada por uma sensação tensa de expectativa quanto às ações da PM, que estava nos atos em massa usando uma estratégia de contenção da manifestação chamada de 'envelopamento'. Havia três cordões de isolamento e pelo menos duas tropas de choque, que seguiam pelos lados. Ou seja, a manifestação estava sendo escoltada pela policia.
A princípio, o ato foi extremamente tranquilo, sem nenhum acontecimento violento. Os grupos de black blocks estavam bem tranquilos, até porque estavam com um número bem pequeno, com uns sete integrantes à frente da manifestação. O trajeto foi previamente discutido e aceito tanto pelos manifestantes quanto pela policia, e foi cumprido. A manifestação que saiu do Theatro Municipal, onde eu estava, seguiu em direção à Secretaria de Segurança Pública, onde uma massa bem grande de policiais estava guardando a entrada (não sei que raios eles esperavam que as pessoas fizessem).
Seguimos em direção à avenida Brigadeiro e subimos. Em um momento, houve um disparo, a polícia tomou um susto e quase começou uma repressão, mas a manifestação inteira, aos gritos de “sem violência”, conseguiu apaziguar e tranquilizar. Tudo voltou ao normal. Seguimos tranquilamente até a Paulista e até o MASP, onde o contingente enorme de PMs estava esperando para barrar a manifestação de seguir adiante, mas esse não era o plano, então a manifestação acabou por ali e dispersou.
Depois da dispersão, eu e o GAPP ouvimos notícias de que estava um clima tenso na Consolação. Haveria uma grande quantidade de pessoas presas na estação, e a policia estaria mantendo um cordão de isolamento na entrada do metrô, na esquina da rua Augusta com a paulista. O que aconteceu foi que um grupo de jovens tentou fazer um ‘catracasso’, pulando a catraca do metrô, e acabou reprimido pelos seguranças do metrê e, depois, pela PM. A polícia isolou a área, tirou as pessoas não envolvidas, e os meninos ficaram presos lá embaixo, na estação. A maior parte se rendeu. Alguns estavam feridos; um deles foi atacado por um policial, mesmo estando deitado no chão. Segundo ele, o policial o agrediu com um cassetete, o suficiente para machucar a cabeça dele.
Tentamos, em vão, pedir para o comandante da força tática da PM para descermos até a estação do metrô e dar assistência para quem precisasse, o que o comandante ignorou. Os meninos foram levados para a DP 78. No fim das contas, a atuação da PM nessa crise foi truculenta, sem diálogo, sem atenção para os feridos, e foi pouco eficiente. Com direito a bombas de gás e bombas de efeito moral jogadas dentro da estação do metrô.
A policia demonstrou, ao longo da manifestação, mais resguardo em resposta às críticas duras da imprensa depois das atitudes deploráveis da última terça-feira, mas mesmo assim eles mostraram a cara. Um contingente de 500 PMs, definitivamente, não é necessário para reprimir uma duzia de moleques tentando pular a catraca do metrô. Admito que os ânimos estavam exaltados mas nada justifica essa truculência.”
Luis Figueiredo de Mesquita, 26, estava no ato que saiu do Centro.
Confira também as fotos de Cristina Uchôa (Ogdpesp):