Para Nabil Bonduki, Virada Cultural não pode ser ‘exceção’

Em entrevista à Fórum e aos Jornalistas Livres, o secretário municipal de Cultura de São Paulo falou sobre a 11 ª edição do megaevento que acontece neste final de semana e sobre a batalha que a atual gestão vem travando para fazer da cultura e da ocupação de espaço público algo recorrente na capital paulista. “Quero que todo fim de semana a gente tenha coisas acontecendo”

Região da Luz lotada na Virada Cultural de 2014. (Foto: Nelson Antoine/ Milenar Imagem)
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Em entrevista à Fórum e aos Jornalistas Livres, o secretário municipal de Cultura de São Paulo falou sobre a 11 ª edição do megaevento que acontece neste final de semana e sobre a batalha que a atual gestão vem travando para fazer da cultura e da ocupação de espaço público algo recorrente na capital paulista. “Quero que todo fim de semana a gente tenha coisas acontecendo” Por Ivan Longo, com Pedro Alexandre Sanches e Alessandro Azevedo Às vésperas da 11ª edição da Virada Cultural – maior evento cultural de São Paulo – o secretário municipal de Cultura, Nabil Bonduki, bateu um papo com a mídia alternativa. Em uma conversa de quase duas horas com a Fórum e com os Jornalistas Livres Pedro Alexandre Sanches e Alessandro Azevedo, Bonduki falou sobre os detalhes da Virada e também sobre sua visão de cultura na cidade. [caption id="attachment_67876" align="alignleft" width="406"]O secretário municipal de Cultura, Nabil Bonduki. (Foto: Pedro Garbellini) O secretário municipal de Cultura, Nabil Bonduki. (Foto: Pedro Garbellini)[/caption] Vereador eleito pelo PT em 2012, foi também relator do Plano Diretor Estratégico aprovado em 2013, e assumiu o posto de secretário no início deste ano, quando o então titular da pasta Juca Ferreira deixou o cargo para se tornar ministro da Cultura do governo Dilma. Essa é a primeira Virada Cultural que Nabil Bonduki irá comandar. Na entrevista, o secretário deixou evidente o seu desejo de criar eventos similares à Virada ao longo de todo o ano como uma forma de reocupar o centro da capital e incentivar os artistas, coletivos e o público em geral a cada vez mais ocuparem o espaço público – um dos principais conceitos defendidos pela gestão do prefeito Fernando Haddad (PT). “Precisamos fazer com que, ao longo do ano inteiro, no centro da cidade, sobretudo nos fins de semana, a gente tenha o espaço público ocupado com atividades culturais. É fazer com que a Virada não seja a exceção, mas parte de um processo contínuo. Isso poderá gerar inclusive um processo de reabilitação mais sustentável do centro”, afirmou. Ao custo de R$ 14 milhões, a Virada Cultural deste ano contará com mais de 1,5 mil atrações espalhadas por mais de 30 locais da cidade por mais de 30 locais da cidade, em especial na região central, mas com atividades também nas periferias. A programação completa pode ser conferida aqui. Leia abaixo os principais momentos da entrevista com Nabil Bonduki. O papel da Virada Cultural É o evento que colocou na pauta a ocupação do espaço público e o centro da cidade. Na verdade, nem foi a Virada, o primeiro momento foi o aniversário de 450 anos de São Paulo, e ela veio na sequência, no ano seguinte. Isso é importante pra um processo de reabilitação da imagem do centro, de autoestima da população. Agora, que lugar ela deve ocupar daqui pra frente? Precisamos fazer com que, ao longo do ano inteiro, no centro da cidade, sobretudo nos fins de semana, a gente tenha o espaço público ocupado com atividades culturais. É fazer com que a Virada não seja a exceção, mas parte de um processo contínuo. Isso poderá gerar inclusive um processo de reabilitação mais sustentável do centro. Hoje, a gente vem aqui à noite e o centro está vazio, mesmo agora, numa quinta-feira à noite. Poderia ter bares, restaurantes, atividades culturais acontecendo, e temos muito poucos, apesar de a própria secretaria ter aqui o Theatro Municipal, a Galeria Olido, a Praça das Artes, o Centro Cultural Banco do Brasil, que são ilhas. O centro todo poderia ser um espaço de entretenimento, lazer e cultura. Nossa perspectiva vai nesse sentido. Mudanças na Virada Eu diria que tem algumas modificações, que também não acontecem de maneira brusca. Mas tem algumas importantes, por exemplo, a ênfase que demos pra poder ter núcleos descentralizados. Temos aqui o mapa, são 31 pontos de eventos na cidade toda, inclusive fora do centro, com uma programação muito grande, com vários pontos virando, alguns não, mas outros virando. É uma modificação importante, a Virada está tomando a cidade como um todo e isso tem a ver com uma política urbana, de redução da desigualdade. É poder dar oportunidade ao cidadão que está na zona leste não precisar vir até o centro. São 20 milhões de pessoas, fora os que vêm de fora, nós temos condição de oferecer possibilidades em todas as regiões. Outro ajuste na programação é garantir uma diversidade de formas de manifestações culturais. Temos música, mas também teatro, circo, dança, intervenções de artes plásticas, cinema. Buscamos criar uma maior participação de grupos que não sejam apenas artistas renomados. Tem os renomados, que são importantes, como os 50 anos da Jovem Guarda ou Caetano Veloso, o palco de homenagem a Inezita Barroso, Alceu Valença... Mas, ao mesmo tempo, temos bandas e grupos jovens, e para isso foi muito importante a associação com o Dia da Música. Teremos aqui se apresentando um grande terreiro de cultura popular, indígena, de periferia, saraus, e também 80 corais, com 2 mil coralistas. Não conseguimos ainda contar, mas são 1,5 mil atrações, incluindo gastronomia, feira de ruas. O número de artistas a gente calcula que se aproxime de 10 mil. [caption id="attachment_67875" align="aligncenter" width="663"]Região da Luz lotada na Virada Cultural de 2014. (Foto: Nelson Antoine/ Milenar Imagem) Região da Luz lotada na Virada Cultural de 2014. (Foto: Nelson Antoine/ Milenar Imagem)[/caption] Virada no Centro X Virada na Periferia Não é pelo fato de você fazer atrações na periferia que não vai haver o encontro no centro. São Paulo é muito grande, tem muita gente, comporta ter um centro cheio e shows descentralizados também cheios. Não devemos criar essa dicotomia centro-periferia, aliás, romper essa dicotomia faz parte também da política do governo Haddad. [...] A ideia não é manter ele [o público da periferia] na periferia, até porque muita gente vai vir pra cá. Mas às vezes as pessoas querem ficar mais próximas de onde moram. Há essa expectativa também. Muitas vão vir, vai se encontrar todo mundo, mas temos limite. No nosso maior palco fala-se que a gente consegue colocar 100 mil pessoas, no Palco Júlio Prestes. Uma coisa que não fizemos ainda, mas quero fazer, é pegar todos os nossos palcos, ver a área que têm e quantas pessoas comportam. Não vamos conseguir comportar toda a população da cidade. Só a nossa juventude entre 18 e 29 anos representa 27% da população. Numa região de 20 milhões de habitantes isso significa 5,4 milhões de habitantes jovens na região metropolitana. [...] Não cabe 1 milhão de pessoas na avenida Paulista, é o mesmo que falar que vou colocar 500 pessoas nesta sala. É uma questão física. Não cabem todos os jovens de São Paulo no centro, o centro não é infinito. Então, acho que é possível, não temos essa preocupação de o pessoal da periferia não vir pro centro. 80% da população de São Paulo mora fora do centro expandido. Vão vir. Só a zona leste de São Paulo são 7 milhões de pessoas, maior que qualquer outra cidade brasileira. Quem não quiser vir pro centro também terá atrações perto de onde mora e não vai ficar privado. De certa forma a gente democratiza o acesso. [...] Quando a gente vê imagens da Virada, percebe como ela gera uma imagem muito positiva pra cidade. É importante para a autoestima da população. Mas o custo-benefício da Virada é o melhor de quase todas as atividades que nós fazemos, se formos ser muito matemáticos, embora se gaste relativamente bastante. Valores da Virada São R$ 14 milhões que estamos gastando, dos quais por volta de R$ 9 milhões são pra cachês e R$ 5 milhões para a infraestrutura. Acho muito para estrutura. Gostaria que a gente a reduzisse, e ampliasse pra atividade-fim, que são os artistas. Mas, por outro lado, essa estrutura permite que a gente atenda sei lá quantas pessoas. Pra efeito de cálculo, que fosse 1 milhão, porque esses 4 milhões são chutados, isso dá R$ 14 por pessoa. [...] Cachê não tem nada a ver com estrutura, estrutura é palco, som, gradil. Palco, som, serviços de saúde são licitados pela SPTuris. Quando digo que é caro não é porque é superfaturado. É porque a estrutura que tem que ser montada para fazer um evento desses é grande. Nós não temos palcos e espaços públicos equipados para receber shows. Por exemplo, já passou da hora de termos um palco fixo no Anhangabaú e em algumas praças da cidade, que tivessem um mínimo de condições que não exigisse ter que montar tudo, ponto com energia pra não ter que por gerador, de modo que a gente pudesse fazer eventos sem gastar tanto. Quanto à questão dos cachês, eles são transparentes, vão ser todos publicados no Diário Oficial. Houve uma política nossa de tentar manter certos níveis. Não são muitos os shows que têm um cachê acima de R$ 30 mil. Muitos são abaixo de R$ 10 mil. Isso às vezes talvez não apareça nos contratos, porque tem contratos de produtoras que fazem vários eventos, mas os cachês incluem despesa de passagem aérea. De uma maneira geral, eu diria que nós tivemos uma grande preocupação de criar referências. Estamos avançando muito num sistema informatizado, de criar uma normatização entre vários centros culturais e departamentos que fazem contratos, para não ter disparidade nos cachês. Isso é uma política que estamos implementando pra ter um custo mais próximo e que remunere adequadamente os artistas, de acordo com seu prestígio. Às vezes excluímos alguns porque são muito caros. Prioridade aos artistas nacionais Aconteceu de a gente priorizar artistas nacionais. Veio uma jornalista aqui e falou “estão reclamando que não tem grandes atrações estrangeiras”. Na verdade isso foi uma opção frente a um orçamento que não podia crescer. Optamos neste ano por ter menos artistas de fora e mais artistas nacionais. Também é um ano de uma valorização muito grande do dólar, estamos vivendo um momento de restrição orçamentária. Nacionalismo do PT? [risadas] Não, de maneira alguma, muito pelo contrário. Não sei se o PT é nacionalista. Estou aqui com uma revista da Turquia, esteve aqui o cônsul da Turquia, estamos discutindo de fazer uma parceria com eles. Estamos fazendo parceria com Portugal, temos expectativa de fazer com vários consulados e os institutos culturais, é que neste ano não deu tempo de por isso pra andar. Os turcos falaram que trazem os artistas, pagam passagem, estadia e nós pagamos o cachê. Pra este ano não deu tempo, mas isso é pra nossa política daqui pra frente. Fiz uma reunião com 40 cônsules de diferentes países para apresentar a política de cultura do município e dizer que temos interesse em contar com a colaboração, com parcerias, não só para a Virada. Também podemos promover a possibilidade de artistas nossos irem pra fora, o que também faz parte da vida cultural da cidade. Ano passado foram vários artistas, inclusive da periferia, para a Feira do Livro de Buenos Aires. Isso também é importante pra cidade, para os artistas da cidade, para o fortalecimento da economia da cultura. [...] Nossa ideia é a diversidade. Assim como pensamos em cultura indígena e popular, orquestra sinfônica, choro, música popular brasileira, jovem guarda, coral, de gêneros musicais, também precisamos ter uma diversidade de países, às vezes pouco conhecidos. Pouca gente deve conhecer o rock turco, que parece muito bom. São esses países que gente conhece menos que estão mais interessados em trazer. A França está muito interessada, o Dia da Música é o Dia da Música em Paris também. Poder ter um intercâmbio, não conseguimos viabilizar, mas pensamos em fazer palcos cruzados, um telão com apresentação de Paris aqui e em Paris com apresentação de São Paulo. Regionalismo e Festa Junina na Virada E também temos um outro lado, de recuperar, por exemplo, a cultura caipira, com o palco da Inezita Barroso. É raro, mas está acontecendo. Vamos dar apoio às festas juninas no largo da Batata e em Ermelino Matarazzo, durante a Virada. São festas tradicionais do estado de São Paulo. Como é junho e tem muita festa junina no Nordeste, as atrações de caráter mais nordestino estão lá, era mais difícil trazer. Mas a ideia de fazer um arraial mais de música caipira também foi uma proposta nossa, uma festa junina paulista. [caption id="attachment_13481" align="alignleft" width="500"]Virada Cultural em 2012 (Foto: Flickr/Blog do Milton Jung) Virada Cultural em 2012 (Foto: Flickr/Blog do Milton Jung)[/caption] Questões de segurança e leitura negativa da mídia A área da Virada no centro foi um pouco reduzida, em termos de perímetro, porque se verificou que a grande parte das ocorrências eram no deslocamento entre um palco e outro. Tiramos a baixada do Parque Dom Pedro II, concentramos mais. Ocupar o espaço entre os palcos com intervenções, feiras de rua, artesanato, comida de rua, artistas de rua, garante que haja uma conexão entre os palcos e dá mais segurança. Estamos trabalhando com a Secretaria de Serviços pra aumentar a iluminação, ter rotas entre palcos, melhorar as condições de segurança. Espero que na segunda-feira a gente não tenha só que responder por esses casos. Mesmo porque não temos como responder, acontece. Entrave do Minhocão Houve duas representações ao Ministério Público, focadas sobretudo na questão do Minhocão, que questionavam a realização do evento da Virada Cultural lá, tendo em vista a experiência de 2012, a galinhada que aconteceu e gerou um acúmulo de pessoas. A avaliação que eles tinham é de que o Minhocão não oferece condições de segurança pra realização de atividades relacionadas à Virada. Nós comentamos que o que estava previsto para a Virada lá eram atividades de baixo impacto, não de grandes atrações. É diferente de 2012, da galinhada do chef Alex Atalla por R$ 15. Eram mais intervenções de artes visuais, que não iam atrair tanta gente a mais do que normalmente vai ao Minhocão. Mas alegaram que o gradil do Minhocão tem um 1,10 m, quando o mínimo que um gradil tem que ter pra proteção é 1,30m, que lá não tem rotas de fuga, que para isso precisa fazer um plano de segurança aprovado pelo Corpo de Bombeiros. Tendo em vista tudo isso, como isso poderia gerar algum tipo de incerteza sobre a própria realização da Virada, se abrissem uma ação na Justiça… Então acabamos firmando um TAC (termo de ajuste de conduta), julgamos mais sensato transferir as atividades propostas para cima do Minhocão para o entorno, embaixo do Minhocão, Santa Cecília, Marechal Deodoro. [...] A única atividade que vai ter é uma projeção de grama feita de cima do prédio, que já está montada. Mas o Minhocão vai ficar aberto, como em todo final de semana fica, sem atividades oficiais da Virada. Dessa maneira não vai ter o risco de um eventual acidente que pudesse acontecer em função do evento. A cultura e a ocupação do espaço público em SP De uma maneira geral, as atividades realizadas hoje pela secretaria de Cultura buscam fazer com que os eventos aconteçam no espaço público, em equipamentos municipais ou em ruas, praças. É claro que tem que se respeitar os moradores. Por exemplo, tem toda uma programação do Funk SP, que está tentando dialogar com os organizadores das festas funk para que transfiram as festas que acontecem em ruas estreitas, com muito impacto para os moradores, para áreas públicas maiores, com algum tipo de regulamentação. A Virada é um grande evento, mas a secretaria está promovendo muitos eventos ao longo do ano, em várias regiões da cidade. Não é como alguns anos atrás, quando se tinha um único evento, a Virada, no centro. Este ano já tivemos o aniversário da cidade com shows em quatro regiões diferentes, o mês do hip-hop com eventos na cidade toda, o carnaval de rua. No segundo semestre vamos ter o mês da música independente, o Circuito São Paulo de Cultura, o Funk SP. Nesta Virada também já há uma busca de ocupar outros espaços públicos, não só no centro, numa perspectiva de maior descentralização da Virada. [...] Quero que todo fim de semana a gente tenha coisas acontecendo. Nos nossos equipamentos já temos isso, e no espaço público espontaneamente já tem também. Temos que aproveitar esse espontâneo. Por que tem tanta gente na Paulista? Porque as pessoas vão para lá, então os artistas de rua vão para a Paulista. Se a gente tiver mais gente vindo ao centro, também vamos ter artistas de rua vindo. Se o centro puder ser um espaço de convergência toda semana, o que Juca falou, que é importante, de as pessoas virem pro centro se encontrar na Virada, podem se encontrar também ao longo do ano, todos os fins de semana, não num único dia. Podem se encontrar num show no Anhangabaú, no coreto da praça da República, numa roda de choro na praça do Patriarca. O carnaval de rua deste ano aconteceu em mais regiões do que acontecia antes, mas mesmo assim ainda concentrou mais na Sé e em Pinheiros, se não me engano a metade – e a outra metade em todas as outras regiões. Nossa intenção é que no ano que vem isso se disperse por todas as subprefeituras. Grande parte das pessoas que vêm pra Vila Madalena vem de regiões onde não está acontecendo nada. É bom vir para a Vila Madalena, tem um glamour, mas vamos criar outros lugares também com glamour, a cidade tem lugares muito interessantes que muita gente não conhece. [...] Com a regulamentação dos artistas de rua isso avançou bastante. Dá uma certa tristeza que essa rua ao lado do Theatro Municipal tem um monte de térreos ocupados por estacionamentos pra pessoas que vão pro Municipal. Ali deveria ter bares, restaurantes, pro pessoal sair do Municipal e ir jantar, tomar cerveja, se encontrar. É um monte de estacionamentos em lugares que em tese são muito nobres, o comércio de ruas movimentadas. Isso seria fortalecer o centro. Temos que buscar essa sinergia. A Virada é importante, mas ela é insuficiente pra isso. Vem uma vez muita gente, isso não mantém o comércio, o cinema de rua. Nossa política precisa ampliar a atração que o centro pode exercer na população da cidade toda. Intercâmbio Cultural Vamos ter provavelmente um edital voltado pra migrantes, não só migrantes, mas principalmente refugiados. Temos uma quantidade enorme de refugiados, por exemplo sírios, nigerianos. O edital seria de políticas de cultura voltadas pra refugiados. Não vamos ter muito recurso pra isso, mas para começar uma atividade desse tipo. Por uma série de contingências algumas ações acabaram não fechando, mas na própria Virada tinha uma proposta de fazer uma atividade com os coreanos perto da estação Tiradentes, tinha um palco latino. A “transversalidade” da cultura Hoje, cada vez mais, a cultura está dialogando com todas as áreas. Vem o secretário de Saúde aqui e fala: “A gente quer eventos culturais nos hospitais, nos pronto-socorros, porque isso ajuda na recuperação dos pacientes”. Vem a secretaria de Direitos Humanos, a gente tem interface importante na questão dos imigrantes, no programa Redes e Ruas. A articulação com a secretaria de Educação é absolutamente fundamental. Se a gente quiser avançar pra educação em tempo integral, não dá para achar que o aluno vai ficar oito horas por dia na sala de aula. Em meio período ele pode estar numa biblioteca, num museu, numa aula de música. A gente tem uma parceria excelente com a secretaria de Promoção da Igualdade Racial, no projeto Funk SP. Na questão de mobilidade, estamos discutindo com cicloativistas a necessidade de fazer uma casa de bicicultura, a bicicleta pensada como cultura. Bicicultura? [risadas] É, existe. Também existe a cultura do automóvel, só que o automóvel é um trambolho pra cidade hoje. Na Secretaria de Transporte, os ônibus podem ser espaço de eventos culturais, os terminais de ônibus também. Na habitação, a reivindicação de uma área de cultura dentro do conjunto habitacional é muito forte. A separação de esporte e cultura não precisava existir. Chama secretaria de Esporte, Lazer e Recreação, e acho que a secretaria de Cultura promove mais lazer e recreação que a de Esporte. Se a gente entender lazer como uso do tempo livre, a cultura tem um papel fundamental. Comunicações e cultura nem têm mais divisão, você está aqui (Nabil se refere a Alexandre, que atua como artista de rua com o personagem Palhaço Charlie). Toda a cultura digital é comunicação também. Em suma, é uma transversalidade muito grande. A cultura pode ter um papel importantíssimo na mudança dos comportamentos, modos de vida. A bicicultura é uma mudança de comportamento.