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A organizada "Camisa 12" foi multada em R$ 20 mil por ter exibido faixa de cunho homofóbico quando, em 2013, o jogador Emerson Sheik postou foto dando um 'selinho' em um amigo; advogado alerta para o fato de que punir a torcida é apenas um passo diante de um cenário recorrente de homofobia dentro dos estádios
Por Ivan Longo
[caption id="attachment_64920" align="alignleft" width="300"] A foto postada por Sheik foi o motivo para as manifestações homofóbicas. (Foto: reprodução/Instagram)[/caption]
Ainda que os gritos de "bicha" nos estádios ou outras tantas ações homofóbicas no mundo do futebol continuem passando impunes, a recente condenação de uma torcida organizada do Corinthians por manifestações preconceituosas abre caminho para um tratamento mais sério em relação ao tema.
No último dia 28 de abril, a secretaria de Estado da Justiça e da Defesa da Cidadania de São Paulo condenou a torcida 'Camisa 12' e seu presidente a pagarem multa de R$ 20 mil. A 'Camisa 12' foi a responsável por protagonizar uma campanha homofóbica quando, em 2013, o jogador Emerson Sheik publicou uma foto em que aparecia dando um 'selinho' em um amigo. Na ocasião, a torcida fez intervenções na internet e chegou a expor, em frente ao centro de treinamento do clube, faixas com dizeres como "Viado não" e "Vai beijar a PQP, aqui é lugar de homem".
A iniciativa foi da Comissão Processante da Coordenação de Políticas de Diversidade Sexual da pasta que proferiu a decisão, que tem caráter administrativo e ainda cabe recurso. De acordo com a secretaria, a torcida foi processada para que os homossexuais que porventura tenham se sentido atingido com as ofensas tenham seus direitos preservados.
Para o advogado Paulo Iotti, que faz parte do Grupo de Advogados pela Diversidade Sexual (GADvS), a medida da secretaria não resolve o problema, mas é um importante passo para que o assunto passe a ser tratado com mais seriedade. Ele ilustra que, se as ofensas tivessem ocorrido dentro do estádio, não só a torcida mas como também o clube deveria ser penalizado, o que certamente teria um peso maior.
"Tem que punir o clube também, claro. Mas punir a torcida já é um passo. Se fosse dentro do estádio a responsabilidade tem que ser também do clube. Se colocar uma faixa como fez a Mancha Verde uma vez, em que disse que "A homofobia veste verde", ou algo do gênero, tem que processar a torcida e o clube", explicou.
Iotti, inclusive, já tentou por quatro vezes processar clubes por conta do comportamento homofóbico das torcidas. Ele acionou, em todas as ocasiões, a Justiça Desportiva, mas teve seu pedido rejeitado sob argumentos absurdos, como a vez em que tentou processar o Corinthians pelos gritos homofóbicos da torcida, dentro do estádio, desferidos contra o goleiro do São Paulo Rogério Ceni. Na ocasião, o presidente do Tribunal de Justiça Desportiva de São Paulo alegou que os gritos não configuravam homofobia uma vez que o goleiro não é homossexual.
“É uma alegação absurda. Ninguém está chamando ninguém de homossexual. A questão não é o Rogério se sentir ofendido ou não. A questão é que você está ofendendo homossexuais em geral. Chamar de ‘bicha’ no sentido pejorativo é dizer que aquela pessoa não é tão digna quanto um heterossexual. Aí está homofobia”, afirmou o advogado, que também é homossexual e, inclusive, corintiano.
O advogado acredita, contudo, que essa condenação da torcida proferida pela secretaria seja um passo importante para que as próximas denúncias que fizer sejam tratadas com mais seriedade. "Acredito que isso ajuda a Justiça a ver a homofobia, serve como precedente. Eu pretendo, nos próximos meses, processar times de São Paulo pela Lei Estadual Antihomofobia", completou.
Foto: Reprodução