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Por meio de alianças estratégicas e uma brecha no estatuto da confederação, ex-presidente da Federação Paulista de Futebol conseguiu assumir o posto mais importante do futebol nacional
Por Guilherme Franco
Marco Polo Del Nero é um homem ambicioso. Sua obsessão sempre foi se tornar o dirigente esportivo mais importante do Brasil, mesmo que fosse necessário passar por cima de qualquer pessoa. E ele passou.
Começou sua carreira de cartola na Sociedade Esportiva Palmeiras, como diretor da comissão de sindicância do clube. Passou por cargos como diretor jurídico e diretor de futebol, até conseguir um lugar no Tribunal de Justiça Desportiva na década de 1980, o que lhe abriu portas para ser vice-presidente da Federação Paulista de Futebol (FPF) na gestão de Eduardo José Farah.
Assumiu a presidência da FPF em 2003 e foi reeleito sete anos mais tarde. Portando-se como grande defensor dos clubes e distribuindo agrados sem alarde, Del Nero ganhou corpo a ponto de tornar-se intocável na entidade paulista. Em uma manobra perfeita, rompeu com seu antecessor e selou a paz com Ricardo Teixeira, então presidente da CBF e desafeto de Farah.
Empoderado, Del Nero indicou José Maria Marin à vice-presidência da CBF, representando a região Sudeste. Não era um simples gesto amigável, o cartola já tinha em mente seu objetivo: a presidência da entidade. Segundo o estatuto da confederação, em caso de impedimento do presidente, assume o vice mais velho, ou seja, no caso, Marin (79 anos à época). Seus concorrentes eram Fábio Marcel Nogueira (Sul), Fernando Sarney (Norte), Marcos Antônio de Miranda Ferreira (Nordeste) e Weber Magalhães (Centro-Oeste).
Após Teixeira renunciar ao cargo, a estratégia funcionou. Marin assumiu simbolicamente enquanto Del Nero agia nos bastidores, fechando acordos que rendiam dinheiro às federações e ao mesmo tempo geravam simpatia dos eleitores da CBF. O passo seguinte seria repetir a estratégia, mas desta vez com ele assumindo o posto de vice pelo Sudeste. A candidatura rompeu um acordo para que o Rio de Janeiro indicasse o futuro ocupante do cargo deixado vago por Marin, no caso o velho lobo Zagallo.
No entanto, Del Nero tinha o apoio do atual presidente da CBF e o respaldo de todas as federações. Com 71 anos, se tornou o vice-presidente mais velho da confederação. Ele já era o homem mais poderoso do futebol brasileiro. Prestigiado e com uma manobra perfeita, Del Nero sucedeu a José Maria Marin em uma eleição tranquila, uma vez que não houve oposição.
Nos últimos anos, ele acumulou, além da presidência da FPF, os cargos de vice-presidente da região Sudeste da CBF e de membro dos comitês executivos da Fifa e da Conmebol.
Del Nero também tem por hábito estabelecer relacionamentos com belas mulheres, todas pelo menos 30 anos mais jovens que ele. Carolina Galan, modelo com quem teve o namoro mais duradouro, foi do céu ao inferno nesses últimos anos. Durante seu relacionamento com Del Nero, foi apresentadora da TV FPF, dos patrocinadores da entidade, das premiações do Campeonato Paulista e ganhou até um programa de TV infantil na Rede Vida.
O relacionamento ficou estremecido em novembro de 2012, em função do ciúme obsessivo que Del Nero nutria pela namorada. Ele resolveu investigar os seus passos, invadindo a privacidade da modelo, precisando mais tarde prestar depoimento sobre o caso na Polícia Federal. A investigação revelou que o dirigente havia contratado uma empresa de detetives, especializada na quebra ilegal de sigilo telefônico, bancário e fiscal.
Foto: Ricardo Stuckert/ CBF