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Agora que sabemos detalhes do que aconteceu na Suíça e nas Américas, a pergunta para a qual ainda não temos resposta: e os direitos de transmissão do Campeonato Brasileiro?
Por Luiz Carlos Azenha, no Viomundo
No livro que escrevi ao lado dos jornalistas Leandro Cipoloni, Tony Chastinet e Amaury Ribeiro Jr. descrevemos minuciosamente o fato de que O CORAÇÃO da corrupção no futebol está associada à venda de direitos de transmissão de TV.
Os cartolas se encaixam tão bem no papel de corruptos que frequentemente as denúncias se voltam exclusivamente contra eles, são fulanizadas e acabam desconhecendo este fato: é a TV, estúpido!
De acordo com a nota divulgada hoje pelo Departamento de Justiça dos Estados Unidos, relativa à prisão do ex-presidente da CBF José Maria Marin e de outros cartolas da FIFA, 70% dos ganhos da entidade entre 2011 e 2014 vieram da venda de direitos de transmissão e de marketing.
É o filé mignon.
Pela denúncia apresentada em um tribunal federal de Nova York, em uma ponta do negócio, como pagadoras de propina, estavam empresas de marketing esportivo — no caso brasileiro, a Traffic de J. Hawilla — e na outra estavam os cartolas.
Hawilla admitiu a culpa em quatro acusações: conspiração para extorsão, fraude e lavagem de dinheiro e obstrução de Justiça. Concordou em devolver U$ 151 milhões, dos quais já pagou U$ 25 milhões. Isso dá a vocês uma ideia dos valores envolvidos.
Segundo os norte-americanos, o esquema de duas décadas envolveu a venda de direitos de transmissão de vários campeonatos, desde a Copa América passando pela Libertadores e chegando à Copa do Brasil.
Também é citada uma empresa de material esportivo que fechou contrato com a CBF, não nomeada pelo Departamento de Justiça. Trata-se, obviamente, da Nike.
Além de Hawilla, a Traffic International, baseada nas ilhas Virgens Britânicas, e a Traffic USA, de Miami, também se declararam culpadas — o que indica que estão entregando o esquema à Justiça.
As ilhas Virgens Britânicas aparentemente são o refúgio fiscal favorito da cartolagem futebolística.
Foi nelas que a Globo “investiu” uma bolada para formar uma empresa de nome Empire, cujo capital depois foi usado para comprar os direitos de transmissão das Copas de 2002 e 2006. Segundo a Receita Federal brasileira, a engenharia financeira visava burlar o Fisco, o que resultou em multa superior a R$ 600 milhões.
As ilhas Virgens Britânicas também foram sede da Fundação Nunca, um dos propinodutos utilizados pela empresa de marketing ISL para subornar cartolas.
A International Sports and Leisure (ISL) foi o instrumento criado pelo fundador da Adidas, Horst Dassler, para “inventar” o marketing esportivo, espalhando no processo milhões em propinas para controlar dirigentes esportivos e — o que realmente interessava a ele — direitos de transmissão.
O esquema revelado hoje é a versão das Américas daquele que descrevemos minuciosamente no livro, que irrigou com algumas dezenas de milhões de dólares e francos suíços o bolso do ex-presidente da FIFA João Havelange e do ex-presidente da CBF, Ricardo Teixeira.
Agora que sabemos detalhes do que aconteceu na Suíça e nas Américas, a pergunta para a qual ainda não temos resposta: e os direitos de transmissão do Campeonato Brasileiro, hein?
Um promotor suíço e o FBI foram capazes de investigar, apontar culpados e obter reparações. Por que somos incapazes de fazê-lo no Brasil?
Resposta: porque a CBF habita um firmamento à parte das demais instituições brasileiras, mesmo depois dos 7 a 1.
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