"O Rio Doce é minha vida. Nasci e cresci nas suas margens, e acompanhei a degradação desse ecossistema. Eu estou dedicando uma parte da minha vida, a minha esposa está dedicando uma parte da vida dela, o conselho diretor do Instituto Terra [do qual é proprietário] está dedicando uma parte da vida deles para salvar o rio", declarou Salgado.
"O que está acontecendo agora, com o rio, é o que acontece com um corpo que levou uma punhalada. A mancha que vem descendo e cobrindo o fundo do rio está esterilizando toda sua vida biológica. Os ovos dos peixes estão sendo soterrados. Não vão nascer mais tartarugas, rãs, sapos e todas as plantas aquáticas vão deixar de existir. Por onde passa, essa lama esteriliza tudo. É o maior acidente ecológico que já aconteceu nesse rio. Talvez o maior do Brasil", adicionou. "É a morte ecológica do Rio Doce. O rio terminou. O fundo desse rio vai ficar encoberto por muito tempo. Foi eliminada toda a vida do rio", constatou, em outro depoimento, dessa vez ao jornal O Tempo.
Na manhã da última sexta-feira (13), Salgado se reuniu em Brasília com a presidenta Dilma Rousseff para discutir as medidas a serem tomadas em relação à catástrofe. "A nossa proposta é que as empresas donas da Samarco, a BHP e a Vale, constituam um megafundo com todos os recursos necessários para recuperar todas as nascentes do Vale Rio Doce. Esse fundo vai fazer com que o rio passe de um desastre terrível a um Vale que, a médio e longo prazo, seja um modelo para o Brasil. E que seja um projeto piloto", explicou ao G1. Segundo o fotógrafo, "a presidenta Dilma assumiu a liderança das negociações com as empresas. Ela se comprometeu a obter essa reparação".
Em suas falas à imprensa, Salgado tem destacado que a responsabilidade pela tragédia em Mariana é da Vale e da BHP Billiton, e que ambas, sobretudo a primeira, devem arcar com os prejuízos. "São as duas maiores mineradoras do mundo, e o volume dessas empresas comporta perfeitamente [com o fundo de revitalização do rio]. Acho que é a oportunidade, principalmente a Vale, que é da região, de habilitar o vale que deu nome a ela. Até pouco tempo ela se chamava Vale do Rio Doce. A Vale é o maior empregador da região. É responsável e vai ter que levar essa responsabilidade até o fim e assumir isso. Custos têm que ser arcados pelas empresas."
(Foto: Ricardo Giusti/PMPA)