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Esquema para venda de habeas corpus em Minas Gerais envolveu Tancredo Tolentino, primo do candidato à presidência tucano e uma das pessoas que controlava o acesso ao aeroporto de Cláudio
Por Vinicius Gomes
Uma operação da Polícia Federal (PF) de Divinópolis, em Minas Gerais, iniciada em 2011 investigando a venda de habeas corpus para traficantes de drogas no estado, chegou até a agora famosa cidade de Cláudio, interior do estado. O relatório sigiloso da Polícia Federal, ao qual a revista Fórum teve acesso, alcança também Tancredo Tolentino, conhecido como “Quêdo” e primo de Aécio Neves. Ele é filho de Múcio Guimarães Tolentino, o tio-avô do candidato tucano que teve a terra desapropriada para a construção da pista em Cláudio.
[caption id="attachment_49821" align="alignleft" width="300"] Tancredo Tolentino, primo de Aécio Neves, aguarda em liberdade julgamento do processo por corrupção ativa e associação ao tráfico de drogas (Reprodução)[/caption]
De acordo com o relatório, Tancredo Tolentino aproveitava-se “da condição de parente próximo do ex-governador de Minas Gerais e hoje senador da República, Aécio Neves. Quêdo demonstra, pelas conversas monitoradas, alto poder de penetração em empresas estatais, além de uma ampla rede de relacionamentos inclusive na Corte de Justiça Mineira”.
O rastro que levou a polícia a Quêdo foi uma mensagem recebida por este vinda do advogado Walquir Avelar, também vereador na cidade de Oliveira (MG), tratando da possível soltura de Ricardo Bucalon dos Reis e Thiago Bucalon dos Reis – presos em flagrante com mais de 500 kg de drogas, além de armas – por meio de pagamento de propina a autoridades penitenciárias envolvidas na custódia dos réus. De acordo com o relatório, após visitar os irmãos Bucalon na Penitenciária Nelson Hungria em Contagem (MG), Walquir Avelar mandou uma mensagem para o celular de Quêdo, dizendo: “Meu chefe, eu tive com aqueles 2 meninos de Ribeirão, cancela a viagem dos 2. Não vão ter dinheiro. Depois te explico”.
A atuação de Avelar na compra da liberdade de traficantes junto ao Tribunal de Justiça de Minas Gerais (TJMG) conecta-se, por meio de Quêdo, ao desembargador Hélcio Valentim – responsável pela concessão dos habeas corpus.
Histórico
[caption id="attachment_49823" align="alignright" width="161"] O advogado e vereador (PTB-MG) Walquir Avelar publicava em seu site pessoal "casos de sucesso" junto ao Tribunal de Justiça de MG (Reprodução)[/caption]
O primeiro a chamar a atenção da PF em Divinópolis foi o advogado Walquir Avelar, aparecendo como suspeito de ter tentado prejudicar uma audiência da Justiça na primeira instância em Alpinópolis (MG), colidindo seu próprio veículo contra uma das viaturas que conduzia dois de seus clientes, no caso, os irmãos Bucalon. A investigação começou por conta desse incidente, classificado como “no mínimo, curioso”.
O desenrolar das apurações da PF constatou que Avelar já havia conquistado uma concessão de habeas corpus para dois traficantes presos em outra operação policial, sendo eles os réus Braz Corrêa de Souza e Jesus Jerônimo Silva – concessões essas assinadas também pelo desembargador Hélcio Valentim.
De fato, o próprio advogado divulgava em seu site pessoal na internet seus sucessos junto ao TJMG. Esses supostos sucessos de Avelar se deviam ao estreito relacionamento entre Quêdo (o elo de ligação) e Valentim, que é comprovado pela análise dos extratos telefônicos do primeiro. O esquema funcionava com a sincronização dos plantões nos finais de semana de Valentim com a impetração dos habeas corpus. O desembargador presidia a 7ª Câmara Criminal do Tribunal de Justiça mineiro e foi afastado das suas funções, em junho de 2011, por decisão da Corte Especial do Supremo Tribunal de Justiça (STJ).
A “cobertura” da mídia sobre o primo de Aécio Neves
[caption id="attachment_49824" align="alignleft" width="270"] O desembargador Hélcio Valentim tinha estreita ligação com o primo de Aécio Neves (Reprodução)[/caption]
Mesmo tramitando por três anos no STJ, tudo ocorreu quase que de maneira silenciosa e sem qualquer divulgação pela grande imprensa – refletida principalmente na falta de preocupação em nomear Tancredo “Quêdo” Tolentino como primo de Aécio Neves.
O programa dominical Fantástico fez uma matéria que foi ao ar em 2012 sobre o esquema de soltura. Mesmo Quêdo sendo um dos principais personagens da trama, não houve nenhuma menção sobre ele ser primo de uma das principais figuras do PSDB, sendo que Aécio, à época, era senador por Minas Gerais. No vídeo, observa-se a confissão de Quêdo, nomeado pela matéria como um "comerciante". Sua família é dona de uma cachaçaria, conhecida em Cláudio como Casa Queimada.
A confiança de Tancredo Toletino era tanta que à época, ele sequer nomeou um advogado, obrigando o relator ministro Napoleão Nunes Maia Filho a convocar um defensor público para representá-lo. No mesmo ano da denúncia veiculada pelo Fantástico, ele tentou se candidatar como prefeito de Cláudio em 2012 pelo Partido Verde, mas foi impugnado com base na Lei da Ficha Limpa. Atualmente, responde ao processo em liberdade.
Cláudio: aeroportos e tráfico de drogas
A cidade de Cláudio pode ter ganho notoriedade nas últimas semanas por conta dos 14 milhões gastos na pavimentação da pista de pouso do aeroporto local, a 6 quilômetros da fazenda de Aécio Neves. Mas a cidade já havia sido notícia em 22 de novembro de 2013, quando um laboratório de refino de drogas foi desarticulado em uma casa abandonada no Distrito de Monsenhor João Alexandre.
Dois dias depois, um helicóptero da empresa Limeira Agropecuária, da família do senador Zezé Perrella (PSDB), foi apreendido com 445 kg de pasta base de cocaína, em um sítio no município de Afonso Cláudio, no Espírito Santo. No entanto, apenas três horas e meia antes da apreensão da aeronave pelos policiais militares e federais envolvidos, fez uma parada para reabastecimento em um ponto de Sabarazinho, que fica a apenas 14 km distante de Cláudio.