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Alckmin só se guia pelas manchetes. Sua única preocupação é encontrar a desculpa adequada, dividir responsabilidades, terceirizar a culpa. Depois de dois anos dormindo para o tema, os jornais limitam-se a narrar os problemas de abastecimento sem ousar chegar ao ponto central: a necessidade urgente de implantar o racionamento
Por Luis Nassif, no Jornal GGN
Há duas alternativas para a falta de água em São Paulo: racionamento controlado ou racionamento selvagem.
São Paulo está caminhando para a segunda opção - o racionamento selvagem - com consequências imprevisíveis. Corre-se o risco, inimaginável em outros tempos, de uma das maiores metrópoles do mundo exposta a surtos de epidemia, a transtornos sociais, à violência generalizada provocada pelo desespero da falta dágua.
Tem-se no governo do estado um governador irresponsável paralisado pela própria mediocridade, que chegou ao cúmulo de comemorar o uso do volume morto de uma represa, como se fosse um feito técnico.
Alckmin só se guia pelas manchetes. Sua única preocupação é encontrar a desculpa adequada, dividir responsabilidades, terceirizar a culpa. Depois de dois anos dormindo para o tema, os jornais limitam-se a narrar os problemas de abastecimento sem ousar chegar ao ponto central: a necessidade urgente de implantar o racionamento.
Inibido pela falta de repercussão do tema, o Ministério Público Estadual demorou a agir. Quando agiu, alguns procuradores tentando segurar o aumento de captação do Sistema Alto Tietê, para impedir o futuro racionamento selvagem, foram impedidos por um juiz desinformado, que alegou que "não vê como os atos impugnados (a autorização do DAEE para aumentar a vazão) que têm em mira a garantia de fornecimento de água à população, possam ser classificados como inadequados ao interesse público".
Cáspite! Esse nível de ignorância - em um magistrado - foi plantado pela insuficiência de informações fornecidas pela mídia, sonegadas à população em nome de um projeto político que cegou a todos.
A ANA (Agência Nacional de Águas) condenou a estratégia paulista. Bastou acusá-la de aparelhamento para que os alertas fossem ignorados. Em plena CPI da Câmara, a presidente da Sabesp informou que a empresa foi proibida, por ordem superior, de ampliar a campanha de esclarecimentos da população. A reação do Palácio Bandeirantes - aceita acriticamente pelos jornais - foi de que ela seria afastada no final do mundo por ter perdido a liderança dos seus. Vaza para as redes sociais uma gravação de conversa da Sabesp apontando os riscos enormes da estratégia de Alckmin. Basta dizer que a fala foi montada para varrer o alerta para baixo do tapete.
Nesse momento, os procuradores que ousaram interferir na marcha da insensatez devem estar sendo pressionados pelos seus colegas, tratados como impetuosos querendo aparecer.
E não há uma liderança de peso no Estado capaz de fazer o contraponto e interromper essa loucura.
Nessas horas, não existe Procurador Geral do Estado, presidente do Tribunal de Justiça, Ordem dos Advogados. E não existe por receio de serem atacados pela imprensa, se ousarem apontar o desastre que vêm pela frente.
O governador Geraldo Alckmin está incorrendo em um crime de responsabilidade. E age sem medo por ter a certeza de que todos os poderes do Estado o acobertarão.
São Paulo chegou ao nível mais baixo de enfraquecimento das instituições públicas e das vozes da sociedade civil em toda sua história.
O sertão é aqui.
Foto: Sabesp/Divulgação