Ex-presidente afirmou que os EUA não aceitam o fato do Brasil ter se transformado em um “ator” global
Por Felipe Rousselet
Nesta quinta-feira, 5, após um almoço com os deputados estaduais do PT paulista, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva conversou com jornalistas sobre o escândalo de espionagem dos EUA que teve como alvo, entre outras autoridades brasileiras, a presidenta Dilma Rousseff.
“Eu não posso julgar ou dar palpite em como a presidenta Dilma está se comportando. Ela tem o direito de se comportar do jeito dela. O que eu acho é que a soberania dos Estados está sendo colocada em risco com o comportamento americano”, disse. “Nós, que passamos a vida inteira lutando por democracia, por soberania, não podemos admitir a pretexto nenhum que um país fique tentando gravar, copiar e-mails e telefonemas de um país ou de um presidente da república, como fizeram com a presidenta Dilma”, completou o ex-presidente.
[caption id="attachment_30423" align="aligncenter" width="594"] Para Lula, Brasil não pode admitir que um país espione uma presidenta da República (Foto: Instituto Lula)[/caption]Sobre uma possível retratação por parte dos Estados Unidos, Lula afirmou que a resposta não pode ser feita por vias diplomáticas. “A resposta americana não pode ser uma resposta via diplomacia. A espionagem não foi via diplomacia. A espionagem foi espionagem. Acho que cabe ao Obama humildemente pedir desculpas à presidenta Dilma e ao Brasil”, afirmou.
O ex-presidente falou sobre a importância do Brasil desenvolver programas que garantam a privacidade das comunicações. Para isso, Lula ressaltou o papel das universidades brasileiras.
“É o momento da gente repensar essa questão. Saber que nós, um país do tamanho do Brasil, estamos vulneráveis. Tenho certeza que a presidenta Dilma vai tomar as providências necessárias. Mas é importante inclusive que a gente desafie a nossa universidade, os nossos cientistas e pesquisadores, para que desenvolvam e apresentem para o governo um programa de comunicação que dê a segurança para a presidenta Dilma poder passar um e-mail para a filha dela e não ter um americano bisbilhotando. Que possa fazer uma ligação entre chefes de Estado sem ninguém ouvindo esse telefonema”, disse. “Os EUA não foram nomeados para ser o xerife do mundo, ninguém pediu. Então, se eles querem saber alguma coisa da Dilma, que pergunte”, completou.
Lula disse ainda que os americanos não aceitam o fato do Brasil ter ganho importância no cenário internacional. “A verdade é a seguinte, os americanos não aceitam o fato do Brasil ter se tornado um ator global. No fundo, o máximo que eles aceitam é que o Brasil continue subalterno como sempre foi. Quando o Brasil cria orgulho próprio, a Unasul, não aceita a Alca, faz a união América do Sul e América Latina, cria o Conselho de Defesa, faz a reunião América do Sul – Países Árabes, cria o BRICS, o IBAS, aí os americanos acham que o Brasil está incomodando”, disse.
O ex-presidente comentou também que já é hora de discutir o papel do dólar na economia mundial. “O mundo não pode ficar subordinado a uma moeda comercial que só um país produz. Na hora que eles fazem as mudanças deles, repercute no mundo inteiro. Mexe juros, mexe câmbio, mexe tudo na economia. Não podemos esquecer que na década de 70, quando tomamos dólares emprestados, os americanos elevaram os juros deles de 3% para 21% e o Brasil ficou com uma dívida impagável. É preciso ter governança global e instituições multilaterais mais importantes para decidir mais coisas”, defendeu Lula.