Observatório de Favelas informa que foram cometidos abusos como invasões de domicílio, depredações, saques, intimidação de moradores por parte de policiais e confisco ilegal de dinheiro e documentos
Da Redação
[caption id="attachment_26171" align="alignleft" width="300"] Policiais do Bope ocupam a favela Nova Holanda (Foto: Reprodução / Observatório de Favelas)[/caption]Uma operação do Bope (Batalhão de Operações Policiais Especiais), da Polícia Militar do Rio de Janeiro, realizada na noite desta segunda-feira, 24, na favela Nova Holanda, que fica no Conjunto de Favelas da Maré, resultou em 13 mortes. Entre os mortos está um sargento do Bope e um morador da comunidade. O restante das vítimas, segundo a polícia, possuía envolvimento com o crime organizado.
A incursão do Bope na Favela Nova Holanda começou após uma manifestação que teve início na Praça das Nações, às 17h, e seguiu para a Avenida Brasil, umas das principais vias da capital carioca. Segundo a PM, criminosos aproveitaram a manifestação para promover um arrastão no trânsito e foram perseguidos até a comunidade.
De acordo com o major João Jacques Busnello, subcomandante do Bope, a operação seguiu todos os parâmetros legais. Entretanto, o representante da ONG Observatório das Favelas, Jaílson de Souza e Silva, afirmou que os moradores da comunidade viveram uma “madrugada de terror” com o intenso tiroteio.
Em nota, o Observatório das Favelas, que funciona dentro da Maré, denuncia diversas violações de direitos, como invasões de domicílio seguidas de depredações, saques, intimidação de moradores por parte de policiais e confisco ilegal de dinheiro e documentos. Uma bomba de gás lacrimogêneo ainda teria sido arremessada no pátio externo da organização, o que assustou os funcionários que lá se encontravam. A diretora da ONG Redes da Maré, Eliana Sousa Silva, informou que moradores procuraram a organização para denunciar abusos cometidos por policiais. "Estão gritando dentro da comunidade que vão matar todo mundo", declarou.
No início da tarde desta terça-feira, 25, moradores da favela Nova Holanda realizaram um protesto repudiando a operação do Bope na comunidade. Por volta das 14h, os manifestantes tentaram sem sucesso fechar a Avenida Brasil. Algumas pedras foram lançadas contra policiais que, por sua vez, revidaram com uma bomba de gás lacrimogêneo.
Segundo o balanço parcial da operação, divulgado pela Polícia Militar, um suspeito de ter matado o sargento do Bope foi preso, juntamente com outras sete pessoas, e um menor de idade foi detido portando uma pistola. Foram apreendidos ainda dois fuzis, uma submetralhadora, três pistolas, uma granada e mais de 2.000 pequenas porções de maconha. O major Ivan Blaz, do Bope, negou as acusações de abusos durante a operação. "Nada disso procede", declarou.
Leia a íntegra da nota divulgada pela ONG Observatório de Favelas:
Desde a noite de ontem a favela Nova Holanda, na Maré, está ocupada por agentes do BOPE, da Tropa de Choque e da Força Nacional. A ação se deu supostamente em resposta a um arrastão ocorrido em Bonsucesso momentos antes. Durante a incursão, por volta de 19h, bombas de gás lacrimogêneo foram arremessadas contra os moradores, sendo que uma delas atingiu o pátio externo da sede do Observatório, assustando as pessoas que estavam na instituição. O fato foi seguido de intenso tiroteio, que se estendeu pela madrugada, quando a energia da comunidade foi cortada.
Na manhã de hoje, a favela seguia ocupada, ainda sem luz, com o comércio fechado e a presença ostensiva de policiais. Segundo relatos de moradores, a operação, que até agora resultou em treze mortes, também teve como saldo uma série de violações de direitos, como invasões de domicílio seguidas de depredações, saques e intimidação de moradores por parte de policiais.
Até às 10h da manhã de hoje, apenas uma serralheria local já trabalhava na troca da quinta porta arrombada por policiais. Além das invasões e depredações, moradores denunciaram o confisco ilegal de dinheiro e documentos.
Agora à tarde, a entrada da Nova Holanda foi ocupada por policiais aparentemente equipados para confronto com manifestantes. Segundo o comando da operação, a presença destes agentes é para que a Av. Brasil não seja fechada.
Neste momento, há cerca de 400 policiais do BOPE no interior da favela realizando uma ação que até agora os moradores não conseguiram entender o sentido da operação.
Representantes da Defensoria Pública estão no local para apurar possíveis violações de direitos. O Observatório de Favelas convoca uma mobilização, com concentração em sua sede — na Rua Teixeira Ribeiro, 535, na Nova Holanda –, às 15h, para pressionar as autoridades a interromperem a operação imediatamente.
Com informações dos portais G1 e UOL.