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Em dois discursos feitos em um espaço de um ano, presidente da CBF atacou o jornalismo da TV Cultura, dirigido à época por Vladimir Herzog, e homenageou Sérgio Paranhos Fleury
Por Igor Carvalho
[caption id="attachment_23452" align="alignleft" width="420"] José Maria Marin, presidente da CBF, discursou contra o jornalismo da TV Cultura antes de Herzog ser assassinado (Foto: José Cruz/ABr)[/caption]
O deputado estadual paulista Adriano Diogo (PT) divulgou dois áudios, descobertos pelo parlamentar, com discursos proferidos pelo atual presidente da Confederação Brasileira de Futebol (CBF), José Maria Marin, em 1975 e 1976.
Nos áudios, dois fatos chamam a atenção. Primeiro, a ofensiva contra o departamento de jornalismo da TV Cultura, dirigido à época pelo jornalista Vladimir Herzog, torturado até a morte no DOI-CODI, em São Paulo, em 1975. Além disso, pode-se ouvir em um dos discursos uma homenagem pública feita pelo então deputado estadual Marin ao ex-delegado do Dops, Sérgio Paranhos Fleury.
No primeiro áudio, o deputado Wadi Helu alerta para a “infiltração dos elementos subversivos e dos elementos de esquerda no canal dois.” Para o parlamentar, a TV Cultura “enaltece e procura dar foros de grandiosidade a líderes de esquerda de outros países, que vem desgraçando outros povos.”
Em seguida, Marin pede a palavra e concorda com as acusações feitas por Helu. “Vem pregando apenas fatos negativos, não se vê nada do aspecto positivo, apresentando miséria, apresentando problemas e sem apresentar, inclusive, soluções. Nessas condições, me congratulo com o senhor”, afirmou o atual presidente da CBF sobre a TV Cultura.
Marin ainda pediu que o governador tomasse uma providência, para que a "tranquilidade volte a reinar não só nessa casa, mas principalmente nos lares paulistanos.”
A divulgação dos áudios trouxe o nome de Marin para a discussão sobre seu papel na perseguição a Herzog, que faleceu no intervalo entre o primeiro áudio, que contesta o jornalismo da TV Cultura, e o segundo, quando Fleury é homenageado pelo presidente da CBF.
José Maria Marin se dirige ao delegado Sérgio Fleury como um homem “com uma vocação das mais raras e elogiáveis no cumprimento de seu dever como polícia” e finaliza afirmando que o militar é “motivo de orgulho para a população de São Paulo.”
"Conversa Pública"
Ivo Herzog, filho jornalista Vladimir Herzog, acusa Marin de participar da prisão de seu pai. Em entrevista, no último dia 28 de março, desafiou o presidente da CBF. "“Se ele quiser conversar publicamente, tenho cinco perguntas para fazer.”
Vladimir Herzog foi levado para depor no DOI-Codi para explicar "influências comunistas" no jornalismo da TV Cultura, só saiu de lá morto.