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Marcha da Maconha e o coletivo Desentorpecendo a Razão (DAR) distribuem bebidas alcoólicas, cigarros, chocolates e até mesmo exemplares da revista Veja contra endurecimento de lei antidrogas
Por Igor Carvalho
Um grupo de manifestantes se reuniu no Viaduto do Chá, região central de São Paulo, nesta terça-feira (2), para protestar contra o projeto de lei 7.663/10, do deputado federal Osmar Terra (PMDB-RS). O projeto propõe, entre outros pontos, a internação involuntária para o tratamento do uso abusivo de drogas e o credenciamento de comunidades terapêuticas para tratar os dependentes, criando um sistema paralelo ao SUS. Os ativistas distribuíram "drogas licitas" durante a manifestação.
O protesto irônico chamou a atenção de quem passava pelo local. Entre as "drogas lícitas" distribuídas estavam cigarros, garrafas de conhaque e vodca, energéticos, chocolates, papelotes de açúcar, balas, pirulitos, chás e remédios. A certa altura, um dos manifestantes anunciou com pompa outro item que seria doado. "Agora, a droga que justifica tudo isso", gritou, quando foram empilhados exemplares da revista Veja.
Um dos pontos mais polêmicos do PL 7.663/10 é a hierarquização das drogas por grau de dependência que poderiam causar, vinculando a isso as diferentes penas por tráfico. Para Júlio Delmanto, do coletivo Desentorpecendo a Razão (DAR) e da Marcha da Maconha, a classificação não tem base científica. "Ele [Osmar Terra] se apoiou em um senso comum, e propõe uma análise subjetiva. Por exemplo, a heroína é uma substância de alto grau de dependência e baixo grau de letalidade, se consumida em determinada dose. Isso é uma droga pesada ou leve? O LSD é uma droga de alto efeito psicológico, mas que não tem nenhuma morte registrada por seu efeito na história, ela é leve ou pesada?", questiona o ativista.
Durante o ato, os manifestantes se mostraram preocupados com o fortalecimento de estigmas e a criminalização dos usuários. Delmanto acredita que a lei, se aprovada, pode trazer um "colapso no sistema penitenciário brasileiro". "O projeto do Osmar Terra parte do pressuposto que a guerra contra as drogas falhou, então é preciso ser mais duro e repressivo. Ele pede o aumento da pena miníma de tráfico de cinco para oito anos, e isso representa, na prática, um aumento brutal do encarceramento brasileiro, que já é um dos mais altos do mundo."