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Lista dos empreendimentos em que o fiscal Carlos Alberto di Lallo atuou, na qual consta o nome da Globo Comunicações e Participações S.A., parece ter perdido importância para o MP
Por Luiz Carlos Azenha, no Viomundo
Os fatos relatados abaixo foram testemunhados por repórteres que estavam na sede do Ministério Público Estadual, na rua do Riachuelo, em São Paulo, na terça-feira, 12 de novembro, dia em que o Jornal Nacional noticiou com exclusividade que um dos fiscais integrantes da máfia do ISS na Prefeitura de São Paulo, Eduardo Barcellos, acusou o ex-secretário de Governo do prefeito Fernando Haddad, Antonio Donato, de receber mesada de 20 mil reais quando ainda era vereador e cuidava da transição entre governos. Barcellos fez acordo de delação premiada. Forneceu ao promotor, segundo o JN, os números de telefone a partir dos quais ligava para Donato. Disse que outro fiscal envolvido, Ronilson Bezerra Rodrigues, também pagava a Donato.
Os bastidores do vazamento é que são curiosos. Lá embaixo, na sala de entrevistas, repórteres aguardavam a presença do promotor para obter novidades sobre o caso. Sabiam que o depoimento estava em andamento. Porém, não sabiam que uma equipe da Globo tinha subido.
A explicação oficial é que o repórter da Globo foi ao sétimo andar conversar com outro promotor e, ao descer pelas escadas até o segundo, onde fica a sede do Grupo Especial de Delitos Econômicos (GEDEC), encontrou o promotor Bodini e o convenceu a gravar entrevista.
[caption id="attachment_36163" align="alignleft" width="315"] Revoltados com privilégio dado à Globo, jornalista chegaram a cogitar um acordo informal para não mais entrevistar Bodini, nem citar o nome dele na cobertura do caso (Reprodução)[/caption]
Além de obter os dados relativos ao que disse Barcellos, o repórter da emissora gravou lá mesmo sua participação.
Outro detalhe curioso: ao descer, o promotor Bodini não contou aos repórteres presentes todos os detalhes do que havia dito à Globo, ou seja, que Bacellar testemunhara sobre o pagamento de mesada de 20 mil reais a Donato. Ele simplesmente omitiu essa informação, sobre a qual os outros repórteres só ficaram sabendo no Jornal Nacional. Pelo menos é o que dizem os jornalistas.
Revoltados, chegaram a cogitar um acordo informal para não mais entrevistar Bodini, nem citar o nome dele na cobertura do caso.
Mais um detalhe que a alguns repórteres pareceu relevante: os jornalistas tiveram acesso a uma lista com o nome de 600 empreendimentos que teriam sido beneficiados pelo fiscal Carlos Alberto di Lallo, outro dos envolvidos no escândalo, com descontos na cobrança do ISS.
Na lista consta o nome da Globo Comunicações e Participações S.A., que recolheu apenas 50,51% do valor devido em uma obra, ou cerca de R$ 158 mil. Ou seja, a Globo teve desconto de 49,49%!
A presença do nome na lista não é prova de qualquer irregularidade. Trata-se apenas de uma compilação de casos em que di Lallo atuou.
Porém, a lista era antes considerada peça-chave para a elucidação do caso, já que poderia levar a eventuais corruptores. Nela constam, por exemplo, os nomes de construtoras que simplesmente não recolheram nada de ISS relativo à mão-de-obra empregada. Isso mesmo: 0%. Há empresas que recolheram apenas 1%, 2% ou 3% do devido. Na página em que o nome da Globo aparece, só pagou mais que ela — que recolheu pouco mais de 50% — a Tucana Empreendimentos Imobiliários, com 53,02%.
Hoje os repórteres voltaram a questionar o promotor Bodini a respeito da lista e ele enfatizou que pode ter havido corrupção apenas “em um minoria” dos casos relacionados. A lista, parece, já não é tão importante assim.
Os repórteres também ficaram sem resposta sobre quem, afinal, chefiava a quadrilha, que atuou por muitos e muitos anos antes que Fernando Haddad assumisse o cargo, arrecadando cerca de R$ 500 milhões em propinas.
Os fiscais contaram que lidavam com dinheiro vivo na repartição em que trabalhavam, no décimo primeiro andar do prédio da Prefeitura, no centro de São Paulo.
No décimo segundo andar do mesmo prédio ficava o gabinete do secretário das Finanças. Na gestão de Gilberto Kassab, primeiro o cargo foi ocupado por Walter Aluisio Morais Rodrigues, depois por Mauro Ricardo, o braço direito de José Serra.
É plausível que os fiscais tenham atuado durante tanto tempo sem despertar nenhuma desconfiança? Ou eles pagavam propina a outros destinatários? Se dizem ter pago mesada a Antonio Donato, não teriam nunca, no passado, pago propina a outras pessoas? O delator não contou tudo? Escolheu um alvo para sair no Jornal Nacional? Contou mais do que o promotor revelou?
Muitas perguntas ainda a responder.
Por coincidência, a acusação contra Donato veio à tona no JN — “mesada” — bem na véspera da decisão do Supremo Tribunal Federal sobre réus petistas — “mensalão”.
Abaixo, relembramos o caso do vazamento das fotos do dinheiro apreendido com petistas — que supostamente queriam comprar um dossiê anti-José Serra — no período eleitoral de 2006, com um trecho da gravação em que o delegado da Polícia Federal Edmilson Bruno combina com repórteres o vazamento das fotos bem na véspera do primeiro turno das eleições presidenciais, que foram para o segundo turno.
Detalhe: o delegado diz aos jornalistas que vai contar a superiores que as fotos foram furtadas! Protege é o nome da empresa de segurança que ficou encarregada de guardar o dinheiro.