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Nos últimos cinco anos, em plena crise econômica internacional, país passou a integrar o grupo dos grandes poluidores mundiais, cuja fonte principal de gases-estufa é a queima de combustíveis fósseis
Por Fabíola Ortiz, da IPS/Envolverde
Nos últimos cinco anos, em plena crise econômica internacional, o Brasil passou a integrar o grupo dos grandes poluidores mundiais, cuja fonte principal de gases-estufa é a queima de combustíveis fósseis. Esse país está assumindo um perfil de contaminação climática próprio do primeiro mundo, segundo o cientista José Marengo, um dos autores do Quinto Informe de Avaliação do Grupo Intergovernamental de Especialistas sobre a Mudança Climática (IPCC), cujo primeiro volume sem editar foi divulgado no dia 30 de setembro.
E isto se deve, em parte, a uma simples razão de fenômeno industrial e de consumo. As isenções de impostos para estimular a venda de automóveis e motocicletas tiveram um efeito positivo no crescimento econômico. Contudo, ao mesmo tempo, criaram um aumento vertiginoso do parque automotivo. A quantidade de automóveis duplicou em uma década, passando de 24,5 milhões em 2001 para 50,2 milhões em 2012, segundo o informe Evolução da Frota de Automóveis e Motos no Brasil – Relatório 2013, divulgado na quinta-feira (10).
As motocicletas tiveram um aumento ainda mais espetacular no mesmo período, passando de 4,5 milhões para 19,9 milhões. O Brasil “terminou 2012 com uma frota total de 76.137.125 veículos automotores. Em 2001, havia aproximadamente 31,8 milhões de unidades. Houve, portanto, aumento de 138,6%”, afirma o documento publicado pelo Observatório das Metrópoles. “Vale recordar que o crescimento populacional do país entre os últimos censos (2000 e 2010) foi de 11,8%”, acrescenta.
“É preocupante, porque sempre criticamos os países desenvolvidos por isso”, observou Marengo, que dirige o Centro de Ciência do Sistema Terrestre do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais. Esse aspecto contrasta com a redução do intenso desmatamento no país, amplamente divulgado pelas autoridades brasileiras.
Em 27 de setembro, quando o IPCC divulgou o Resumo para Responsáveis por Políticas, o secretário de Pesquisa e Desenvolvimento do Ministério de Ciência e Tecnologia, Carlos Nobre, dizia à IPS que este país conseguiu reduzir em 38,4% suas emissões de gases-estufa entre 2005 e 2010, devido à redução no desmatamento da Amazônia.
O Brasil se comprometeu em 2009 a reduzir suas emissões de gases-estufa entre 36,1% e 38,9%, segundo dois cenários de crescimento do produto interno bruto. O governo garante que já avançou 62% rumo a essa meta, graças à acentuada redução do desmatamento. Até 2009, o desmatamento era a causa de 60% da contaminação climática do Brasil, enquanto o uso de combustíveis fósseis estava em segundo lugar. Agora emergem novos problemas.
“Se tivéssemos um sistema de transportes de massa confiável e confortável, as pessoas deixaram seus carros em casa. Mas, viajar em certas horas do dia no metrô de São Paulo ou do Rio de Janeiro (duas das maiores cidades do país) é uma humilhação”, disse Marengo à IPS. “Isso precisa mudar, e a única forma é fomentar um transporte público decente”.
Para o diretor de políticas públicas do Greenpeace Brasil, Sergio Leitão, essa mudança de perfil também coincide com a prioridade que se dá a novos empreendimentos, como a prospecção e exploração das jazidas de petróleo do pré-sal, a mais de sete mil metros de profundidade na plataforma submarina. “Estamos começando a exploração do pré-sal e nossas grandes cidades estão abarrotadas de carros”, pontuou Leitão. Enquanto o mundo caminha para novos modelos energéticos, o Brasil segue na contramão, segundo o ativista, tornando impossível que este país seja “amigo do planeta”, afirmou.
[caption id="attachment_33343" align="alignleft" width="336"] Trânsito em São Paulo: número de carros dobrou em uma década (Foto Henrique Boney)[/caption]
O informe do IPCC diz que as mudanças observadas desde 1950 não têm precedentes e demonstram que a ação do homem é uma causa inequívoca do aquecimento global registrado desde meados do século 20. O informe assinala que a humanidade deve fazer todos os esforços para manter o clima do planeta nas coordenadas do cenário mais otimista, com o aquecimento global não superando os dois graus neste século.
Para conseguir isso, segundo Leitão, as “medidas fundamentais, urgentes e inevitáveis” são mudar o modelo de produção e reduzir drasticamente o consumo de petróleo, gás e carvão. “Nos preocupa o fato de no Brasil o pré-sal ser visto como a grande oportunidade econômica do futuro”, afirmou. Na área energética, os grandes volumes de investimentos são destinados a viabilizar a exploração do petróleo no pré-sal, com até US$ 340 milhões até 2020, ressaltou.
Por outro lado, Leitão disse que “seria preciso adotar um rumo diferente, de pesquisas em energias renováveis e limpas. O Brasil se destaca em abundância de sol e vento. É necessário dinamizar essas vertentes e criar substitutos tecnológicos para os combustíveis fósseis”.
Marengo destacou que, se o mundo inteiro deixasse de emitir gases-estufa hoje, seriam necessários 20 anos para frear as transformações climáticas já desatadas. “O IPCC fala de aproximadamente duas décadas, pois foram centenas de anos acumulando dióxido de carbono (CO2). Os processos de fotossíntese nas florestas podem ajudar a absorver CO2, mas isso não é imediato e exige décadas de inércia”, destacou.
As medidas de mitigação – para reduzir a quantidade de gases lançados na atmosfera – são caras e seus efeitos são de longo prazo, mas são as únicas que permitirão minimizar os impactos futuros, acrescentou Marengo, para quem os impactos mais severos começarão a ser sentidos depois de 2040.
Adaptar-se a essas alterações é possível, mas a mensagem que o IPCC pretende dar à próxima cúpula mundial do clima, que se reunirá em novembro em Varsóvia, é que devem tomar medidas para evitar os cenários mais pessimistas, com elevações da temperatura média acima dos dois graus.
Marengo lamentou que a agenda ambiental tenha passado para segundo plano desde que começou a crise econômica e financeira mundial em 2008. “É impossível um país com uma situação econômica ruim aderir a um tratado ambiental, pois este terá um custo social elevado”, enfatizou.