Esta não é a primeira vez que Policarpo Junior, diretor da sucursal da Veja em Brasília, têm seu nome envolvido com o contraventor
Da Redação
[caption id="attachment_17723" align="alignleft" width="300" caption="Andressa Mendonça é acusada de tentar chantagear com dossiê que seria publicado pela revista Veja (Foto: José Cruz / ABr)"][/caption]O juiz federal Alderico Rocha Santos acusou Andressa Mendonça, esposa do contraventor Carlinhos Cachoeira, de tê-lo chantageado com um suposto dossiê contra o magistrado. O encontro entre Andressa e Santos teria acontecido na última quinta-feira (25) e, segundo o juiz, Andressa afirmou que ela poderia evitar a publicação do material, desde que Santos concedesse um alvará de soltura a Carlinhos Cachoeira.
De acordo com o juiz Mark Yshida Brandão, que determinou o comparecimento de Andressa Mendonça à Polícia Federal ontem, e buscas em sua residência, o dossiê seria publicado pelo jornalista Policarpo Junior, diretor da sucursal de Brasília da revista Veja.
"Narra o magistrado [Alderico Santos] que a requerida [Andressa] noticiou a existência de um dossiê contendo informações desfavoráveis a ele, que seria publicado pelo repórter Policarpo na revista Veja, mas que ela poderia evitar a publicação. Para tal, bastaria que o juiz federal concedesse liberdade ao réu Carlos Augusto de Almeida Ramos e o absolvesse das acusações ofertadas pelo Ministério Público”, destaca de Brandão, diretor do Foro da Seção Judiciária de Goiás.
Brandão considerou que Andressa ofereceu ao juiz como vantagem indevida a "ingerência com o jornalista para evitar publicação de dossiê contendo fatos ligados à vida do magistrado".
Ontem pela manhã, Andressa foi conduzida à sede da Polícia Federal, onde chegou às 9h30. Durante o depoimento, permaneceu calada, deixando a sede da corporação em Goiânia às 12h15. Segundo informações da Polícia Federal, Andressa terá de pagar fiança de R$ 100 mil e está proibida de se comunicar com qualquer investigado no processo, inclusive Cachoeira.
Diante da denúncia feita por Santos, o o vice-presidente da CPI do Cachoeira, deputado Paulo Teixeira (PT-SP), afirmou que pretende convocar o jornalista da revista Veja para depor. “Com os acontecimentos de hoje, está colocada a relação do jornalista com a organização criminosa. Já iremos discutir a convocação na primeira reunião da CPMI”, afirmou ontem em entrevista ao site Carta Maior.
“Isso demonstra que esta organização criminosa está ativa, buscando corromper e constranger autoridades públicas. E que Andressa não é apenas esposa de Cachoeira, mas um membro atuante desta quadrilha, que precisa ser desarticulada”, acrescentou Teixeira. Segundo ele, Andressa Mendonça está convocada para depor na CPMI no próximo dia 7. O depoimento de Policarpo Junior ainda será agendado.
A revista Veja, por meio do seu departamento jurídico, afirmou que não tem nada a declarar sobre o assunto.
Ligações entre Policarpo Jr e Carlinhos Cachoeira
Policarpo Junior, citado na denúncia de tentativa de chantagem de Andressa contra o juiz Alderico Rocha Santos, já teve seu nome envolvido em outras denúncias de ligações com o grupo de Carlinhos Cachoeira.
Em depoimento à Comissão de Ética da Câmara dos Deputados, em 2005, Policarpo Junior ajudou o bicheiro Carlinhos Cachoeira a comprovar que era vítima de chantagem pelo ex-deputado André Luiz, que acabou cassado. O caso havia sido publicado pela revista Veja, com exclusividade, cerca de três meses antes. A matéria “Vende-se uma CPI”, de 27 de outubro de 2004, assinada por Policarpo Junior, denunciava André Luiz e tratava Carlos Cachoeira respeitosamente, como empresário do ramo de jogos.
O jornalista afirmou que possuía mais de cinco horas de gravações comprovando a chantagem a que o "empresário" tinha sido submetido. O jornalista garantiu que as gravações eram autênticas, e que já haviam sido analisadas pelo perito da Universidade de Campinas (Unicamp), Ricardo Molina, que também prestou depoimento na Comissão. O perito e o jornalista prestaram depoimentos favoráveis ao contraventor. Policarpo apresentou as gravações que comprovavam a chantagem contra o então “empresário”. Molina reforçou a autenticidade das gravações.
Em maio deste ano, o site Carta Maior publicou na matéria "Os encontros entre Policarpo, da Veja, e os homens de Cachoeira", um levantamento que apontou que o jornalista esteve, ao menos, dez vezes com Cachoeira e membros de sua organização. Encontros pessoais com o contraventor foram pelo menos quatro. Geralmente, os temas dessas conversas acabavam se transformando em matérias da revista Veja.
Outro indício da proximidade entre o jornalista e o contraventor é uma conversa telefônica entre Cachoeira e o então diretor da construtora Delta no Centro Oeste, Cláudio Abreu. Na conversa, interceptada pela Operação Monte Carlo da Polícia Federal, o contraventor conta para Abreu que o jornalista de Veja queria sua ajuda para provar que o ex-ministro da Casa Civil, José Dirceu, havia ajudado a Delta a "entrar em Brasília", durante a gestão do ex-governador do Distrito Federal, José Roberto Arruda. Policarpo teria afirmado ao bicheiro que o acordo foi fechado em uma reunião em Itajubá e que estaria atrás de um flagrante de entrega de dinheiro vivo. Por sua vez, Cachoeira afirmou ter dito a Policarpo que "não existiu essa reunião"
Em determinado ponto da gravação, Cachoeira demonstra seu grau de proximidade com o jornalista. "O Policarpo, ele confia muito em mim, viu?", afirmou o contraventor.
Em outra matéria publicada pelo site Carta Maior, gravações da Operação Monte Carlo indicam como Cachoeira seria beneficiado pela Secretaria de Educação de Goiás para a construção de escolas do modelo chinês e como o contraventor buscou a revista Veja para divulgar o projeto. Cachoeira ligou para Policarpo Junior e pediu que fosse feita uma matéria sobre a "revolução na educação" que estaria em curso em Goiás. Na gravação, o bicheiro afirma que o secretário de Educação de Goiás "tá fazendo uma revolução na educação" e pergunta "com quem que ele vê? (...) Como é que a gente pode fazer uma divulgação disso?". Policarpo afirma que a ligação está cortando e não responde mais.
Entre as matérias da Veja do período da gravação, nenhuma teve como tema a suposta "revolução educacional"em Goiás. Porém, em dezembro de 2011, a matéria de capa da revista trazia a seguinte manchete: "A arma secreta da China: a educação de qualidade e baixo custo para milhões é o verdadeiro segredo dos chineses em sua corrida para a liderança mundial". Em 12 páginas, é descrito o modelo educacional chinês, inclusive as construções. "Os prédios são parecidos com os de muitas escolas brasileiras, ainda que um pouco mais verticalizados. São escolas grandes, a maioria com mais de mil alunos (...) em algumas, cada série ocupava um andar. Essa organização do espaço é relevante. Pois em cada andar há uma sala de professores...".
Em abril, a Secretaria de Estado de Educação de Goiás divulgou nota afirmando que "nunca discutiu projetos de construções de escolas "inspirados" em modelos de outros países" e negou a existência de "informações sobre construção de unidades de ensino que seriam, posteriormente, alugadas".
Com informações da Agência Brasil e site Carta Maior.