Escrito en
BRASIL
el
Antes e durante o Pan, entidades prometem passeatas e distribuição de manifestos contra o Caveirão e a operação no Complexo do Alemão
Por Adital
Os Jogos Pan-Americanos de 2007 serão realizados entre os dias 13 e 29 de julho no Rio de Janeiro. A cidade passou por várias mudanças e os governos municipal, estadual e federal gastaram cerca de 3,5 bilhões de reais. No entanto, apenas uma parcela da população está sendo beneficiada, além da grande mídia que está investindo maciçamente no evento. Enquanto isso, as pessoas que moram em favelas estão amedrontadas com a dura política de segurança imposta e temem que o número de vítimas possa aumentar com a realização do Pan.
Em protesto a toda essa política criminalizadora da pobreza, movimentos e organizações sociais do Rio de Janeiro vão realizar uma série de manifestações para chamar a atenção das delegações internacionais e do próprio poder público. No dia 10 de julho, por ocasião da passagem da Tocha Pan-Americana por Nova Iguaçu, familiares de vítimas de agressões vão se reunir em frente à Prefeitura da cidade em ato de protesto contra a violência na Baixada Fluminense.
No dia da abertura dos jogos, 13 de julho, as organizações que participam da Campanha Contra o Caveirão realizarão, às 11h da manhã, em frente à Prefeitura, um ato contra a criminalização da pobreza e as reformas que ocorrem na cidade, retirando direitos dos cidadãos. Na ocasião, serão distribuídos manifestos e a carta aberta à população assinadas pelas entidades que participam da Campanha iniciada em março de 2006. Na carta, os movimentos acusam o governo de criminalizar o morador de favelas, elegendo o extermínio de jovens e negros como verdadeira política de segurança do estado. "Por mais que o governo estadual declare publicamente que a política de segurança pública em curso vale para pobres e para ricos, isso não acontece. Nenhum morador de Ipanema ou do Leblon cruzou com o Caveirão pelas ruas ou teve suas casas invadidas e roubadas por policiais" denunciam.
Os movimentos chamam a atenção para a operação que está ocorrendo no Complexo do Alemão, que, segundo as organizações, já matou pelo menos 44 pessoas e deixou outras 80 feridas. Além desses ataques às comunidades, as organizações denunciam também a "limpeza social" que está sendo executada na cidade. "A sociedade precisa refletir com mais seriedade e discernimento sobre o apoio a essa política de segurança publica que se baseia na ‘limpeza social’. A política de segurança em curso no Rio de Janeiro hoje é responsável pelo medo das crianças, pelo fim da sociabilidade nas comunidades e certamente pelo aumento da violência por toda a cidade, fazendo do espaço público, outrora ocupado por solidariedades e interações, um espaço de medo e apreensão", afirma um trecho da carta.
O documento também traz depoimentos de moradores que foram atingidos pela operação policial. Em um deles, o morador conta que os policias arrombaram o bar, beberam refrigerantes e cervejas, comeram salgados e levaram um celular. Quando ele chegou no fim do dia o bar estava todo revirado. Em outro depoimento a cena é bem mais chocante: "Eu vi quando os policiais entraram na minha casa, estava na vizinha com meus cinco filhos. Lá dentro eles torturaram duas crianças e mataram um homem. Quando pude retornar, minha casa estava toda revirada, meu guarda roupa destruído, minha geladeira com um tiro. Os policiais levaram também meu aparelho celular. Meus filhos estão traumatizados, não querem ficar mais aqui. Eu vou colocar o barraco à venda".
A diretora do Centro de Justiça Global, Sandra Carvalho, acredita que daqui para frente a situação dos moradores de regiões pobres só vai piorar: "A proximidade dos jogos tem contribuído para o endurecimento da atuação dos policiais". Segundo a diretora, comunidades foram deslocadas e foi limitado o direito de ir e vir dos moradores das favelas. Além disso, as crianças estão sem escola e os postos de saúde estão fechados. Outra crítica que as organizações fazem contra a realização do evento diz respeito ao grande gasto do dinheiro público. "Esse dinheiro poderia ter sido investido em políticas públicas que beneficiassem um maior número de pessoas. Além disso, a maioria da população não tem acesso ao local onde foram realizadas as obras", ressalta Sandra.
Adital