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Bolsonaro achou que ia arrasar para cima de Leo Dias, mas confessou até que é brocha

Jornalista especializado em fofocas não deu moleza para o ex-presidente, que achou que estava na Revista Oeste e só teria bola levantada para cortar

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Uma nova forma de fazer jornalismo. Cultura, política, feminismo, direitos humanos, mídia e trabalho. Editora: Cynara Menezes
Bolsonaro achou que ia arrasar para cima de Leo Dias, mas confessou até que é brocha
Bolsonaro e Leo Dias na entrevista. Foto: reprodução.

CYNARA MENEZES

O ex-presidente Jair Bolsonaro chegou para a entrevista com o jornalista especializado em fofocas Leo Dias como se estivesse chegando para um papo na Revista Oeste ou na Rádio AuriVerde Brasil, seus veículos chapa branca. Mas se deu mal. Leo Dias não deu moleza para Bolsonaro, que confessou até que se dizer "imbrochável" era uma fake news: implantou um chip de testosterona para melhorar o desempenho sexual.

"Estou muito bem com a Michelle. De 0 a 10. Está 10! Numa boa", disse Bolsonaro, até outro dia apontado como exemplo de "homem com testosterona" pelo deputado Nikolas Ferreira. "Me sinto com 40 anos de idade." Mas se já tinha tanta testosterona, para quê chip, não é mesmo?

O ex-presidente já iniciou o papo se declarando um subalterno assumido do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump. Questionado se falava regularmente com Trump, Bolsonaro disse: "Enquanto presidente, eu sabia qual é o meu lugar ao conversar com ele". Lula estaria errado por tratar o homólogo norte-americano como igual. "Eu vejo Lula falando, reclamando, como se estivesse em situação de igualdade. Não é assim." Ou seja, tem que ser reverente, bater continência para a bandeira. O "patriota" desconhece o significado de soberania.

Sobre a tentativa de golpe de 8 de janeiro, Bolsonaro voltou a dizer, sem prova alguma, que foi "uma armação da esquerda" e a "comprovação" seria o fato de o recém-empossado Lula ter viajado a Araraquara para ver de perto os danos causados pelas chuvas ao lado do então prefeito, o petista Edinho Silva. Ué? Se é assim, o mesmo raciocínio serve para ele, Bolsonaro: viajou para os EUA justamente para ter um álibi, o que está fazendo seguidas vezes agora que foi indiciado pela PGR, e inclusive na entrevista com Leo Dias.

Foi a melhor entrevista com ex-presidente dos últimos tempos. O jornalista de fofocas demonstrou dominar a técnica, tratando Bolsonaro com cordialidade e até simpatia com o objetivo de extrair as melhores respostas. Leo Dias botou William Bonner no chinelo

Para justificar o injustificável, o marido de Michelle deu até uma de mãe Dinah, afirmando que foi para os EUA antes da posse de Lula porque "tinha um pressentimento" de que "algo iria acontecer". Então, em vez de avisar as autoridades como presidente em exercício que era, em vez de fazer sua obrigação como servidor público, o que Bolsonaro confessou que fez? Fugiu.

Leo Dias perguntou se ele se considerava de extrema direita e Bolsonaro respondeu que se considera de "direita", porque não acha que seja um radical. "Me aponte algum radicalismo meu", ele falou ao jornalista. "Algumas falas suas. Na pandemia, talvez um pouquinho?" Neste momento, Bolsonaro negou que tenha imitado pessoas com falta de ar –e imitou novamente pessoas com falta de ar.

Bolsonaro pôde dar suas "explicações" furadas e espalhar novas fake news sobre a ivermectina, mas o momento que viralizou nas redes sociais das duas horas de entrevista com quase 1,5 milhão de visualizações até agora, foi quando ele falou que "tinha tudo para ganhar" a eleição. "Não tinha, mas perdeu", rebateu na lata Leo Dias. Tóim.

Foi a melhor entrevista com ex-presidente dos últimos tempos. O jornalista de fofocas demonstrou dominar a técnica, tratando Bolsonaro com cordialidade e até simpatia, ganhando ainda mais a confiança dele, com o objetivo de extrair as melhores respostas. Mas, ao contrário do que poderia parecer, e ao contrário do que Bolsonaro esperava, Leo Dias não ficou levantando bola para ele cortar.

Infelizmente a oposição midiática à esquerda fez muito mal ao jornalismo brasileiro. Nos últimos tempos, vimos na imprensa entrevistadores que ou bajulavam descaradamente o entrevistado; ou antagonizavam abertamente com ele, como fazem os apresentadores do Jornal Nacional com os vencedores da eleição a cada quatro anos. Não é assim que se entrevista.

Leo Dias botou William Bonner no chinelo.

 

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