JOANA RIZÉRIO
Setembro inaugura a temporada de caruru na Bahia. A comida de São Cosme e Damião é servida tradicionalmente na casa de um monte de gente que eu conheço.
Mas será que eu conheço mesmo? Não vejo ninguém desde a pandemia. Tornei-me uma jovem senhora tarada por lençóis limpos numa cama minha em pleno sábado à noite. Como vou saber quem tá dando caruru?
O caruru é servido tradicionalmente na casa de um monte de gente que conheço. Mas será que conheço? Não vejo ninguém desde a pandemia. Tornei-me uma jovem senhora tarada por lençóis limpos em pleno sábado à noite. Como vou saber quem tá dando caruru?
Corro pra jogar água na cara e me transporto para a casa de Yarinha e Tuna. É setembro. Tem cana e bala de mel pela mesa toda. Tuna já não faz falta porque está logo ali, de dedo em riste, aconselhando João a não usar turbante branco.
Acordo. Como será que tá Yarinha? Outro dia nós nos encontramos na calçada e ela me chamou pra conhecer sua psiquiatra. Estranhamente, estava em sua casa e chamava-se Nise da Silveira, como a famosa psiquiatra. Na certa, a médica de Yarinha foi batizada depois da doutora.
Achei tudo tão estranho e gostoso que engoli a pressa que tinha em apanhar um ônibus ou um resfriado. Acompanhei minha querida “tia emprestada” através do vale de flamboyants.
Tem umas quatro décadas na minha frente, Yarinha, mas subiu os degraus devidos até seu apartamento com muito mais graça e fôlego que eu. Paramos. Eis a porta diante da qual por tantas vezes eu passei correndo.
A gente fazia picula e arranhava os carros enquanto Roseira e Marcelo se escondiam dos caretas pra fazer aquela fumaça que eu não conhecia e hoje me é tão cara. “Nise, venha conhecer Joana”, chama Yarinha, apartamento adentro.
Um cachorro do tamanho de um chinelo aparece. “Essa é minha doutora”, diz minha tia antes da gargalhada. Yarinha sempre foi de pregar peças. O cachorro é o médico, que gênio.
Jogo mais água no rosto. Tô com fome e é setembro. Será que vai rolar um vatapá na casa da minha querida Yarinha?