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Por Dennis de Oliveira
“Rezo por aqueles que sofrem pela escravidão na Líbia. Que Deus esteja com vocês e que esta crueldade termine já!”, escreveu nas redes sociais o jogador Pogbá, camisa 10 da seleção francesa que, no dia 19 de novembro comemorou o gol marcado defendendo a equipe inglesa do Manchester United fazendo um gesto que lembrava a situação de negros escravizados na Líbia.
O pensador camaronês Achille Mbembe afirma que “nós sabíamos disto, mas recusamos abrir nossos olhos e fazer um balanço do que estava acontecendo.”
Isto não por um problema de desvio ético. Mas como resultado de um processo lógico de um modelo de acumulação de riquezas que não só concentra renda em níveis cada vez mais alarmantes, como também legitima este mecanismo hierarquizando nações, continentes e etnias. A sofisticação se sustenta sob a barbárie. Crianças escravizadas na república democrática do Congo é que extraem a matéria prima (o minério Coltan) para a fabricação de telas de cristal líquido que equipam celulares, tablets, notebooks de gigantes transnacionais como Sony, Samsung, Apple, Dell, entre outras. (clique aqui para ver)
A escravização ocorre na Líbia, país que sofreu uma intervenção militar da OTAN com o objetivo de destituir o então presidente Muamar Kadafi porque se recusava a submeter-se às ordens do imperialismo. O argumento das forças da OTAN era derrubar um “ditador”. Restauraram a escravidão...
Líderes europeus se reúnem para tomar uma decisão quanto a este tema que ganhou repercussão internacional. Mas Mbembe lembra que o governo da França está instalando no Chader e no Niger centros de classificação de pessoas desejosas de migrarem. Um procedimento seletivo que classifica pessoas úteis ou não, como mercadorias. E que esta mesma França que teve um papel decisivo na destruição do Estado líbio na ação da OTAN.
Segundo Mbembe, no sistema-mundo do capital, “o sujeito negro tornou-se, neste século XXI, este ser humano da fome, este insulto a condição humana; pode-se a qualquer momento tomá-lo, vencê-lo, mata-lo perfeitamente sem ter que prestar conta”. É isto que conecta os horrores da escravização de africanos na Líbia, assassinatos de afroamericanos nos EUA; genocídio da juventude negra no Brasil, assassinatos em massa na Somália por grupos terroristas e todas as formas de opressão racial no mundo. Na lógica do sistema-mundo contemporâneo, a fronteira entre a vida humana qualificada e a desprezada é a cor da pele. Por isto, este episódio, cuja dimensão de horror tão ou mais atroz que ataques terroristas em Paris recebe a mesma indiferença dos episódios de violência racial contra seres humanos negros.
Repito: não apenas por um desvio ético, mas porque o sistema mundo de acumulação de riquezas necessita desta lógica da barbárie sustentando a sofisticação. As reações dos líderes mundiais serão episódicas, como tem sido a cobertura dos meios de comunicação. Resolver este problema a contento exige muito mais que manifestações vazias de solidariedade ou pequenas reportagens no noticiário internacional.