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No mês da consciência negra, participei de onze debates nos mais diferentes lugares: em universidades, coletivos de periferia, entidades religiosas, culturais, profissionais, entre outras. Os públicos, os mais variados possíveis. Isto mostra que o tema do combate ao racismo ganha corpo, transcende os espaços tradicionais de discussão e vem trazendo novas demandas para os ativistas anti-racismo.
O que percebi de comum nestes debates todos foi a preocupação com a face mais cruel do racismo que é o genocídio da juventude negra. E mais que isto, a contradição exposta na situação de avanços institucionais na luta contra o racismo nos últimos doze anos, com a implantação de várias políticas públicas de promoção de negras e negros (como as cotas raciais) e o aumento da violência e do extermínio de jovens negros e negras na periferia. Há uma consternação e preocupação em vários ativistas, como se não estivesse fazendo efeito os avanços institucionais.
Isto tem levado a posições extremadas, como a negação da importância de qualquer avanço institucional ou da importância da participação em processos eleitorais. Em boa parte, isto ocorre por conta de um erro grave cometido por vários militantes do movimento negro que não fazem uma distinção entre governo e Estado, não percebendo, por ingenuidade ou não, que a natureza do Estado brasileiro é racista independente do governo de plantão.
Como diz o pensador marxista Louis Althusser, o Estado não se limita apenas a sua dimensão institucional, mas também - e, arrisco dizer, principalmente - aos aparelhos ideológicos de Estado, toda o arcabouço que dissemina as ideologias que dão sustentação as hierarquias sociais consolidadas. Por isto, o Estado é também a mídia hegemônica, a escola, a Igreja e outras instituições sociais que disseminam valores, idéias, crenças que dão sustentação a determinadas ideologias que interditam ou dificultam a implantação de medidas institucionais, mesmo que tenham sido implantadas por governos.
Por isto que a militância anti-racista é um confronto ideológico que não pode ficar limitada apenas e tão somente a ocupação dos espaços institucionais - diga-se de passagem, também lugares de confrontos ideológicos. Parafraseando Honoré de Balzac, é preciso que a militância anti-racista tenha estas "ilusões perdidas" da democracia burguesa.