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O Partido Comunista do Brasil tem dois parlamentares afrodescendentes que estão cotados a se candidatar a um cargo majoritário. O primeiro é o vereador Netinho de Paula que, por enquanto, mantém sua candidatura a prefeito, com 7% de intenção de votos segundo a última pesquisa DataFolha. A fama de Netinho decorre do seu sucesso como cantor e também pelos trabalhos sociais que realiza em várias regiões periféricas, além da sua exposição na mídia, principalmente com o Programa da Gente (exibido aos sábados na RedeTV).
Netinho foi candidato a senador na última eleição. Liderou as pesquisas durante um bom período, até ter sua candidatura atingida pela campanha do PSDB que lembrou o episódio da sua agressão à esposa. Foi caindo e, no final, ficou em terceiro lugar. Este continua sendo um dos seus calcanhares de aquiles. Porém, as fragilidades de Netinho de Paula vão além.
Vários militantes do PC do B que conheço consideram que as críticas feitas a Netinho são produtos de preconceito pelo fato do mesmo ser de “origem popular”. Isto é uma obviedade, o que é preciso analisar é como enfrentar este preconceito.
O grande problema de Netinho é a sua não vivência no movimento popular e sua relação com a periferia se dar por um perfil marcadamente assistencialista, como se verifica no seu programa de TV, em que chega de limusine em bairros afastados e atende a pedidos feitos individualmente por moradores.
Este tipo de relação com a periferia é muito comum em candidatos de partidos conservadores que desenvolveram uma tecnologia de campanha sofisticada para tanto. Costuma dar certo em campanhas a cargos proporcionais em que não há um confronto direto explícito de candidatos como nos cargos majoritários. Nestes casos, ao representar um partido ou coligação, o candidato deve estar preparado para expressar publicamente os pontos programáticos e se defender no debate político – coisa que Netinho de Paula demonstra enorme fragilidade. No episódio em que o candidato tucano lembrou do episódio da agressão da mulher, a atitude de Netinho foi chorar e pedir desculpas. Ficou na defensiva, quando poderia, tranquilamente, partir para uma postura mais ofensiva, lembrando que o governo do PSDB praticamente não fez nada em termos de construção de políticas públicas de atendimento à mulher vítima da violência – pelo contrário, as delegacias de defesa da mulher foram desmontadas na sua esmagadora maioria.
Não se percebe nos discursos de Netinho de Paula um tom mais ofensivo, de crítica social, de cobrança dos órgãos públicos, de uma marcação de posição mais explícita. Transparece uma candidatura anódina que perfeitamente caberia em qualquer agremiação partidária. Aposta quase que exclusivamente na sua fama junto aos jovens de periferia.
Leci Brandão
A outra possibilidade de uma candidatura majoritária afrodescendente do PC do B é a deputada estadual Leci Brandão. Apareceu no noticíário como uma possível candidata a vice na chapa de Fernando Haddad.
Ao contrário do vereador, a deputada Leci Brandão tem uma militância reconhecida no mundo do samba e no movimento negro. Tem entrada em praticamente todas as grandes escolas de samba da capital, participou de várias ações do movimento negro – desde atos públicos e até em comícios de centrais sindicais. Graças a isto, o seu discurso é mais articulado politicamente e mais afinado com a perspectiva de esquerda.
Não tem a mesma penetração na mídia que Netinho de Paula, mas tem o reconhecimento de um universo grande de pessoas no mundo da cultura, chegando a ser enredo da escola de samba “Acadêmicos do Tatuapé”. Isto se reflete na sua atuação parlamentar: preside a Frente em Defesa da Cultura da Assembléia Legislativa de São Paulo. Um outro dado importante, de caráter simbólico, é o fato de ser uma mulher negra.
Em uma primeira análise, a visibilidade de Leci Brandão é bem menor que Netinho de Paula, principalmente nas novas gerações. Porém, o seu grau maior de articulação e organicidade demonstra estar ela mais preparada para uma campanha majoritária. Como a sua candidatura possível é a de vice, é preciso ver além dos números iniciais.
Particularmente, a deputada Leci Brandão transparece muito mais confiança em termos de compromisso programático com o campo progressista e com o movimento anti-racista que Netinho de Paula.