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A luta pela implementação de cotas na Universidade de São Paulo já está tendo um ganho: forçar os contrários à implementação destas medidas a se exporem publicamente e apresentar suas opiniões.
O Núcleo de Consciência Negra da USP (NCN-USP) está realizando uma série de debates nas unidades da universidade para discutir a questão. Em várias delas, há a participação de pessoas vinculadas à administração da universidade que apresentam os argumentos de serem contrários às cotas: a questão do mérito medido pelo vestibular, o risco de queda de qualidade, entre outros.
Porém, no debate realizado no Instituto de Química, na terça-feira, dia 13 de junho, apareceu o argumento principal, que tangencia o que eu tenho falado por aqui: a USP é um espaço de formação de uma elite acadêmica, científica e cultural e não de justiça social. A foto ao lado foi tirada de um dos slides expostos por um professor do Instituto de Química que fez uma defesa do Inclusp – programa que concede pequenos bônus a alunos oriundos de escolas públicas – defendido pelo docente como um “empurrãozinho para o pessoal que vem do ensino público”.
Em outros gráficos, o docente fez simulações sobre o desempenho de negros e indígenas no vestibular, sempre na perspectiva de que a implantação de cotas traria para a universidade alunos com desempenho fraco no processo seletivo da Fuvest, o que poderia comprometer a qualidade da universidade. Ainda insisto nesta questão: há algum estudo que comprove que existe uma relação direta entre desempenho no vestibular, desempenho acadêmico e, posteriormente, desempenho profissional?
Mas quero voltar à questão da formação de uma “elite”. A professora Marilena Chauí, na já antiga mas ainda atual obra Cultura e Democracia apontava que a ideologia no capitalismo se dissemina por meio do que ela chama de “discurso da competência”, definido por ela como aquela narrativa que se adequa e legitima estruturas burocráticas – tudo em nome do funcionamento da instituição, inclusive as hierarquias.
Ao opor formação de uma elite e justiça social, o docente em questão coloca justamente a ideia de que elitismo não combina com justiça social. Em outras palavras, a manutenção de hierarquias – e, portanto, de privilégios – é legítima para o funcionamento da atual ordem. Ou, de outra perspectiva, a promoção da justiça social põe em risco a formação de uma elite.
Por isto, insisto que o que está em jogo é a manutenção ou não das aristocracias universitárias, conforme falei em post anterior. Agregue-se, ainda, que o docente frisou que se trata de um espaço de formação de uma elite para o “estado de São Paulo”, uma visão um tanto provinciana para uma universidade que se gaba de ser a primeira do ranking na América Latina e tem sempre aspirações de internacionalização.