O caso Ashtiani: quando a hipocrisia da mídia hegemônica beira o ridículo

Na falta de assunto para tentar atingir o governo Lula que “teima” bater recordes de popularidade, a mídia hegemônica parte para a arena internacional, principalmente porque é nela que as contradições ideológicas demonstram-se mais aparentes. Tradicionalmente, a visão conservadora, expressa em quase todos os “analistas” da mídia hegemônica, defende um alinhamento automático às posições dos Estados Unidos.

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Na  falta de assunto para tentar atingir o governo Lula que “teima” bater recordes de popularidade, a mídia hegemônica parte para a arena internacional, principalmente porque é nela que as contradições ideológicas demonstram-se mais aparentes. Tradicionalmente, a visão conservadora, expressa em quase todos os “analistas” da mídia hegemônica, defende um alinhamento automático às posições dos Estados Unidos. Com isto, retoma tanto o complexo de “vira-lata” de que falava Nelson Rodrigues – com a diferença de que o escritor dizia que este complexo era do povo e o que se observa agora ele está mais enfronhado nas elites – como também uma postura neocolonialista, típica das classes dominantes brasileiras. O mais recente caso é o de Sakineh Mohammadi Ashtiani , mulher condenada a morte por adultério no Irã. Lula pisou na bola no começo, ao dizer que cada “país tem sua lei”. Deu combustível para a tchurma. Falaram até da solidariedade internacional que os presos políticos no Brasil tiveram durante o regime militar. O mais sarcástico de tudo é isto ter sido veiculado na Rede Globo, Folha de S. Paulo e companhia bela, todos veículos que apoiaram a ditadura militar e foram contra a condenação – ainda que moral – dos responsáveis pelas torturas de então. Mas o governo mudou de posição e ofereceu asilo político à mulher condenada. O presidente do Irã recusou e aí a tchurma começou a tocar as suas cornetas. Desqualificaram a ação do governo brasileiro, taxando-a de ineficaz. Citaram artigos de “analistas” norte-americanos, entre eles, um tal de Jackson Diehl, do Washington Post, que disse que “Lula levou uma pedrada do Irã. Vamos ver quem é este Jackson Diehl. Em artigo publicado no dia 31 de maio, ele critica a política externa do governo Barack Obama porque não menciona a defesa da “liberdade, democracia e direitos humanos” como estava na agenda do seu antecessor, George W. Bush. Em outras palavras, Diehl defende uma política de plena intervenção na soberania de outros países sob o pretexto de defesa de valores democráticos e da promoção dos direitos humanos – o mesmo que Bush fez para justificar a criminosa invasão do Iraque e do Afeganistão. O fato de Obama fazer uma leve transição para uma agenda multilateral e afastar-se do intervencionismo militar bushiano, motivou as críticas de Diehl. E é esse articulista que os “analistas” brasileiros repicam, sem ao menos ter o cuidado de informar qual é a posição político-ideológica dele, como se sua fala fosse a Vox Dieu. O que a tchurma de analistas quer que o governo faça para impedir a brutal condenação da iraniana? Que mande tropas para o Irã? Evidente que não. A defesa da iraniana é pura hipocrisia.  O caso é usado de forma oportunista para criticar a política externa multilateral do governo Lula. Eles poucos estão se lixando para a iraniana. Se fossem pessoas preocupadas realmente com os direitos humanos estariam também condenando, por exemplo, o racismo nas instituições jurídicas dos Estados Unidos que levam um grande número de negros e latinos à morte.  E as atitudes terroristas do governo de Israel contra os palestinos, alguém desta tchurma se prontificou a cobrar do governo brasileiro uma postura dura contra o governo israelense? E no caso do líder dos Black Panthers, Mumia Abu Jamal, condenado à morte em um julgamento farsesco;  algum destes “analistas” defendeu, naquela época, o rompimento das relações diplomáticas com o império? É necessário, sim, condenar esta brutalidade do regime iraniano contra Ashtiani, como todas as violações dos direitos humanos, no Brasil e no mundo. Condenar as ações terroristas do Estado de Israel contra os palestinos, a aplicação racista da pena de morte nos Estados Unidos, as agressões imperialistas da Europa nos países africanos, inclusive o fomento de guerras por parte de indústrias bélicas, as matanças de camponeses desarmados no episódio dos “falsos positivos” na Colômbia por parte do governo Uribe, a matança até agora não esclarecida de 564 civis em maio de 2006 por ocasião do confronto da Polícia Militar com o PCC (Primeiro Comando da Capital), entre outros. Defender direitos humanos citando articulistas estadunidenses que consideram que a agenda de Bush é “defesa da liberdade” beira o ridículo.