Matrix: 20 anos depois, o filme ainda é considerado “uma revolução”

Acontece nesta quarta a estreia mundial de um novo capítulo da saga que, até este momento ninguém sabe qual é o enredo

De volta pra Matrix/Foto: divulgação HBO MAX
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Quando lançado em 1999, “Matrix” revolucionou o cinema não apenas com seus efeitos visuais, mas também por conta de um enredo que, olhando em retrospectiva, já dava a linha do que se tornaria a esfera digital, ou seja, assim como no filme, os avatares passam a ser mais importantes do que as pessoas por detrás.


Dirigido e escrito pelas irmãs Lily e Lana Wachowski, a trilogia Matrix, que hoje ganha um novo capítulo, tem como inspiração central o livro “Neuromancer”, de William Gibson, mas também de “Alice no mundo dos espelhos”, Lewis Carroll, Dom Quixote, de Miguel de Cervantes, e do filósofo Friedrich Nietzsche.

https://www.youtube.com/watch?v=2KnZac176Hs


Mas porque Matrix continua a encantar depois de 22 anos?


Há uma mística na data de lançamento: fim do século do XX e o mundo digital se desenvolvendo em passos largos. À época, as redes sociais começavam a dar os primeiros passos, mas, para o filme das Wachowski a vida orgânica é a verdadeira rede social: somos todos avatares que vivemos dopados pelo ambiente do trabalho e um calendário que nos controla?


E se alguém lhe dissesse que é possível deixar essa vida avatar e vive-la como realmente é? Eis o ponto de partida da história de Neo (Keanu Reeves) que tem uma vida dupla: pela manhã é um técnico em uma empresa de tecnologia, e a noite é um hacker. É neste ambiente que ele é encontrado por Trinity (Carrie Anne-Moss) que o leva para Morpheus (Lawrence Fishburne), o líder da resistência que busca destruir a Matrix.

https://www.youtube.com/watch?v=kYzz0FSgpSU


A história contada pelas irmãs Wachowski é sobre uma sociedade em transição e onde a vida digital e a orgânica já se misturaram e, por muitas vezes, esquecemos com qual estamos lidando: Matrix é a leitura de um mundo que se anunciava, um mundo obscuro e completamente vigiado e normativo. Ninguém escapa.


Mas, para além do ambiente construído pela trilogia Matrix, há também a crítica política, visto que a trama de Neo e Trinity é sobre a rebeldia e, nos tempos atuais, cyber ativistas são encarcerados por divulgarem documentos sobre vigilância em massa (Snowden) ou sobre métodos neocoloniais e terroristas perpetrados pelos EUA (Assange/Wikileaks), ou sobre aqueles que acreditam que o saber deve ser compartilhado, neste caso, a trágica história de Aaron Swartz.


Provavelmente, hoje passamos mais tempo conectados, vivendo com mais intensidade o avatar do que fora dele, eis o debate filosófico de Matrix: tomar a pílula vermelha e sair da Matrix, ou seguir vivendo como um avatar e tomar a pílula azul? Mas, será que há uma escolha? Hoje, é possível pensar uma vida fora da esfera virtual? Ou uma outra forma de vivência digital?

https://www.youtube.com/watch?v=hMbexEPAOQI

Matrix: a revolução tecnológica no cinema

Lana e Lily Wachowski não se limitaram a construir um roteiro engenhoso e complexo, mas também era preciso construir uma estética, e aqui é a segunda marca da trilogia: os efeitos especiais, as vestimentas e a música.


Na primeira cena de “Matrix” nos deparamos com Trinity cercada por centenas de policiais, quando um deles se aproxima dela, a heroína salta e aí entra em cena um efeito visual criado pelas Wachowski e que mudaria tudo o que seria feito posteriormente no audiovisual, trata-se do "bullet time".


Criado por John Gaeta, supervisor de efeitos técnicos, pega as cenas em câmera em lenta e a reinventa: colocar a câmera em movimento em torno das pessoas e objetos que também se movem, o resultado disso foi uma revolução, pois era algo inédito no cinema e que seria reproduzido - segue sendo - pelo cinema e televisão.

https://www.youtube.com/watch?v=jYk0WHcmrYo

De volta para a Matrix

Acontece nesta quarta-feira (22) a estreia mundial de “Matrix Resurrections”, escrito e dirigido por Lana Wachowski. Até hoje nada se sabe, a não ser algumas poucas linhas, sobre a trama. Jornalista que participaram de cabines assinaram termos se comprometendo a não falar nada sobre o roteiro do filme.


Com o trailer que temos, sabemos que Neo voltou para a Matrix, ou seja, a guerra foi perdida? O que aconteceu com a resistência?


Quem também está de volta à história é Trinity, com a missão de, mais uma vez, retirar Neo da Matrix e lembrá-lo que ele é o escolhido para liderar a rebelião contra o sistema de vigilância e controle das vidas.


Desde que a retomada de “Matrix” foi anunciada, é a obra mais aguardada do cinema que, mais uma vez vem ao encontro de transformações que se passam nas sociedades ocidentais, principalmente.


De 1999 para cá o mundo viu governos progressistas tomarem o poder, mas também acompanhou a ascensão da extrema direita e dos regimes democráticos sendo erodidos.


A Matrix não para de trabalhar para manter o seu modo de produção de capitalista em funcionamento. Se inventa e reinventa a cada instante e hoje conta com robôs e algoritmos para manterem tudo na mais plena normatividade.


O retorno de Neo também coincide com uma nova onda de governos democráticos e progressistas retomando o poder. Há angústia e esperança no ar… mas, sairemos da Matrix?


Como se vê, 22 anos depois não faltam motivos para entender o encanto que os filmes de “Matrix” ainda produzem sobre as gerações, seja em termos filosóficos ou estéticos, os filmes das irmãs Wachowski revolucionaram e criaram uma cultura com sua linguagem própria.


Nesta quarta se inicia um novo capítulo: para onde será que vai esta revolução?

https://www.youtube.com/watch?v=hdJ8RT3HVe8