Uma das maiores vaias registradas na história do Rock in Rio ocorreu na edição de 2001 e teve como alvo o músico baiano Carlinhos Brown. Escalaram o percussionista para abrir as apresentações do dia, que tinha como destaque a banda de rock Guns N´Roses.
Enquanto Brown gritava “nada me atinge”, o público, além das vaias, jogava garrafas ao palco. Depois de 20 anos, o músico, hoje com 58 anos, entende que aquele ataque foi um dos “primeiros cancelamentos”.
“Precisamos de tempo para observar o que são as coisas. E o cancelamento talvez seja a síntese [daquele episódio]. E dentro do cancelamento tem tudo. Tem racismo, preconceito contra o gênero, contra a música”, declarou Brown, em entrevista a Jairo Malta, na Folha de S.Paulo.
“Eu era um artista muito mais frágil naquele momento, com expectativas gigantes jogadas naquele momento, eu já estava com música estourada, já tinha criado, com meus amigos, o axé music. Mas eu era frágil com inocências antropofagistas. Me vestia como índio, eu não queria me vestir como o cara do rock'n'roll”, disse.
A edição de 2001, a terceira do festival, teve como um dos pontos marcantes a crítica de músicos brasileiros, que lutavam por cachês maiores e horários mais nobres, reservados aos estrangeiras.
Por conta disso, seis bandas brasileiras boicotaram o festival: Skank, O Rappa, Raimundos, Cidade Negra, Jota Quest e Charlie Brown Jr.
“Que bom que houve aquele choque porque a gente sabia que, no Rock in Rio, a palavra rock, suas quatro letras, era maior que Rio. Mas a gente também estava dizendo que o Rio é enorme. A música brasileira precisava ser mostrada”, relatou.
Brown acredita que sua escalação no mesmo dia das bandas de rock pesado foi uma provocação do empresário e dono do evento, Roberto Medina.
Brown teve uma de suas canções indicadas ao Oscar em 2012
Ao longo de sua trajetória, Carlinhos Brown deu a volta por cima. Hoje, é um músico respeitado até mesmo fora do Brasil. Teve, inclusive, uma de suas canções indicadas ao Oscar em 2012 pelo filme “Rio”.
Ele é figura frequente entre os jurados brasileiros da Academia que concede o prêmio. Sobre a falta de indicações para títulos nacionais, Brown afirmou que os produtores do país não devem se sentir diminuídos.
“Com todo o respeito à Academia, quem disse que o Brasil precisa de uma chancela internacional para se sentir bom? Somos bons. E, se vier isso, teremos um olhar de congratulação do outro, mas não precisamos de uma chancela dos Estados Unidos. O Brasil é bom e pronto. Ganhar um Oscar é bom porque respeitamos o prêmio, mas não é a finalização total. Nosso ponto final é criar e ser criativos”, acrescentou.