Diretor de “Marighella”, Wagner Moura é mais um dos brasileiros insatisfeitos com o governo desastroso do presidente Jair Bolsonaro (Sem Partido). E não só porque ele promoveu uma censura em cima do lançamento do seu filme, mas também porque Bolsonaro revela uma face perversa do Brasil: um país autoritário, violento, racista e de uma elite escrota.
Em entrevista publicada no jornal "A Folha de S. Paulo", Moura afirma que Bolsonaro é "um personagem profundamente conectado ao esgoto da história brasileira" e que sua vitória nas eleições de 2018 foi trágica, porém pedagógica.
"Esse cortejo de mediocridade que vem atrás dele mostra que Bolsonaro não é um alien, não veio de Marte. Ele é um personagem profundamente conectado ao esgoto da história brasileira, que nos mostra que o Brasil não é só um país de originalidade, de beleza, de potência, de diversidade, de biodiversidade", declara.
"O favor que Bolsonaro nos fez foi revelar esse outro Brasil, que estava camuflado; foi nos mostrar que nós também somos um país autoritário, violento, racista, de uma elite escrota. O Brasil é um país que nem é mais uma piada internacional. Quando os estrangeiros vêm falar com a gente, eles falam com pena. Agora nós temos que enfrentar isso", continua o ator.
As críticas, porém, não são somente a Bolsonaro, e se estendem a outras pessoas do seu governo. Ao ser questionado sobre como enxerga o trabalho do também ator Mário Frias à frente da Secretaria Especial da Cultura, Moura diz que "qualquer pessoa que aceite fazer parte desse governo é medíocre".
"Qualquer pessoa que aceite fazer parte desse governo já é, por excelência, anticultura, anti-direitos humanos, anti-meio ambiente, antiprogressismo. Você olha para qualquer um deles e vê que são pessoas medíocres, recalcadas", afirma. Segundo o diretor, se as eleições fossem hoje, ele votaria no Lula. "Eu reconheço ele, talvez, como o presidente mais importante da história do Brasil."
Censura ao filme "Marighella"
Após mais de 2 anos de espera, "Marighella, estrelado por Seu Jorge, finalmente será exibido no Brasil. A estreia nacional está marcada para 4 de novembro.
Moura diz não ter a menor dúvida de que o filme foi censurado em 2019, principalmente porque, naquela época, Bolsonaro falava publicamente sobre filtragem na Ancine, que filmes como "Bruna Surfistinha" eram inadmissíveis e que não daria dinheiro para financiar produções LGBT.
"Eu tenho uma visão muito clara sobre isso e não tenho a menor dúvida de que o filme foi censurado. As negativas da Ancine para o lançamento e, depois, o arquivamento dos nossos pedidos não têm explicação", diz. "Foi bem nessa época que os nossos pedidos de lançamento foram negados e, logo na sequência, os próprios filhos do Bolsonaro foram às redes sociais comemorar a negativa da Ancine", continua o ator.
Para ele, é triste que um filme feito em 2017 ainda não tenha estreado. Porém, avalia que hoje em dia já está muito mais claro para os brasileiros a tragédia que é o governo Bolsonaro. "Talvez, hoje, haja uma maior compreensão de que isso é um produto cultural brasileiro, que o fato de ser proibido, censurado, atacado pelo governo é um absurdo".