ELEIÇÕES 2024

'Trauma' em relação a João Doria ajuda Pablo Marçal e prejudica Ricardo Nunes

Eleitores bolsonaristas se guiam por valores associados ao segmento e temem políticos que busquem seu apoio por oportunismo, como teria sido o caso do ex-governador paulista. Adesão formal do ex-presidente pode não ser suficiente para o atual prefeito paulistano

Jair Bolsonaro e João Doria fizeram flexões junto a jovens da PM paulista em junho de 2019Créditos: Reprodução/Youtube
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Em abril deste ano, as pesquisadoras Camila Rocha, Esther Solano e Thais Pavez divulgaram o estudo "Bolsonarismo sem Bolsonaro?", uma pesquisa qualitativa com minigrupos focais com eleitores do ex-presidente. Ali, um nome aparecia como uma espécie trauma para os eleitores paulistanos.

"Os entrevistados da cidade de São Paulo consideram importante o apoio de Bolsonaro a Ricardo Nunes (MDB). Alguns, no entanto, ponderam que o respaldo do ex-presidente não é suficiente, pois os candidatos não necessariamente defendem os valores com os quais se identificam e podem 'trair' Bolsonaro, afastando-se dele. Foi citado como exemplo o caso do ex-prefeito João Doria, que posteriormente brigou com Bolsonaro e não implementou melhorias para a população", diz a pesquisa.

A maioria dos entrevistados das pesquisadoras ainda não conhecia as pré-candidaturas de suas cidades quando o estudo foi realizado, mas "foi possível perceber que o apoio de Bolsonaro tem um peso bastante importante na decisão do voto, ainda que não seja crucial", pontuam. "Afinal, candidatos à prefeitura que foram apoiados por Bolsonaro, como João Doria, em São Paulo, e Wilson Witzel, no Rio de Janeiro, acabaram deixando memórias negativas entre os eleitores do ex-presidente", dizem ainda.

Assim, antes de existir efetivamente a candidatura de Pablo Marçal (PRTB), o estudo já indicava que convencer os bolsonaristas paulistanos a votarem em Nunes não seria uma tarefa tão trivial, mesmo com o apoio do ex-presidente ao prefeito. A defesa de valores, para este segmento do eleitorado, é tão ou mais importante do que uma adesão formal, como é o caso de Bolsonaro em relação ao emedebista.

O Datafolha divulgado nesta quinta-feira (22) aponta que Marçal é visto como mais identificado com valores do bolsonarismo, já que tem 44% das intenções de voto entre eleitores do ex-presidente e Nunes, 30%. Na pesquisa anterior, do início de agosto, o coach aparecia com 29% e o prefeito tinha 38%.

A "marca" de Doria como tática eleitoral

O "trauma" do eleitorado bolsonarista de São Paulo em relação à desconfiança de que Nunes possa ser um "novo Doria" fica evidente nos comentários de perfis extremistas nas redes sociais. E é uma estratégia que já foi, inclusive, utilizada por Tabata Amaral (PSB), mas contra Marçal, em debate realizado na Veja.

"A verdade, candidato, é que nem o Bolsonaro confia em você. Falou nessa semana que você é igual ao produto estragado. E aí quando a gente olha pro seu redor, o que a gente vê na verdade é a equipe do Doria. Pesquisem quem é o Wilsinho que tá com ele, pesquisem quem é Felipe Sabará, até a calça tá mais apertadinha. Então, minha pergunta é: você acha que o Bolsonaro lhe rejeita porque você é o Doria 2.0?", disse a candidata, em referência a Marçal.

Mesmo antes desse encontro, o ministro do Empreendedorismo e líder do PSB, Márcio França, tinha seguido linha semelhante, buscando associar Marçal a Doria. "Acho que tudo dele dá a impressão que é meio fake. Me faz lembrar do jeito [João] Doria. Só que é menos educado", disse França, que enfrentou o então tucano nas eleições para o governo paulista em 2018.

Do lado de Ricardo Nunes, cujo dilema na relação com o bolsonarismo já havia sido abordado aqui, resta agora algo que ele hesitava em fazer até agora: buscar a relação mais estreita com o ex-presidente. Se ele evitava isto por conta da rejeição que o extremismo poderia trazer para a sua candidatura, agora o distanciamento traz o risco de o prefeito ficar fora do segundo turno.