ELEIÇÕES 2024

Quem ganhou o debate da Band em SP: Boulos ou Nunes? Não há muita dúvida...

Formato do encontro, que permitiu confrontos diretos entre os candidatos, favoreceu quem conseguiu colocar a agenda que mais lhe interessava

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"Teve um apagão de prefeito em São Paulo", disse o deputado federal e candidato à prefeitura de São Paulo Guilherme Boulos (PSOL). O comentário sintetizou a postura do candidato e também o principal mote utilizado por ele para guiar o debate na Band e colocar o prefeito Ricardo Nunes (MDB) na defensiva durante a maior parte do tempo.

Com dois blocos que distribuíram 12 minutos para cada candidato, os dois tiveram mais liberdade e o parlamentar soube usar, em especial o primeiro bloco, para trazer questão do apagão, a mais urgente e que tem potencial para tirar votos do emedebista. O termo inclusive chegou a figurar entre os mais buscados no Google durante o programa.

A estratégia do prefeito já era conhecida: se livrar da responsabilidade, terceirizando a culpa para o governo federal, como se este comandasse a Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel), autarquia que tem autonomia funcional e ainda é comandada por uma pessoa indicada por Bolsonaro, hoje aliado de Nunes.

Mas pouco importa a "verdade", rifada usualmente em períodos eleitorais, em especial nessa campanha. Mas Boulos soube ser didático na questão e ainda jogou sobre o adversário a pecha de alguém vacilante, que busca não assumir aquilo que é do seu ofício. E trouxe questões que são puramente municipais, como a falta de zeladoria. "Você não faz poda de árvore e o culpado é o Lula?", ironizou o deputado federal sobre o rival.

Sigilo bancário

Ainda no final do primeiro bloco, voltando ao tema no terceiro, o candidato do PSOL lançou o desafio de os dois abrirem seu sigilo bancário e Nunes se viu encurralado. Apelou à "família", tergiversou e não topou a proposta do rival. O tema certamente será explorado pela campanha do deputado na linha do "quem não deve não teme".

Mas Boulos logo aceitou a mudança de tema do prefeito, que buscou trazer pontos que considerava incômodos para o rival, como a questão da segurança pública e a postura do partido do deputado diante de votações na Câmara Municipal de São Paulo. Só ali o emedebista teve um respiro, partindo para a ofensiva, mas com temáticas de pouco apelo para o eleitor.

O grande ativo para Nunes não são seus feitos (que são raros), mas sim priorizar sua suposta experiência (sendo um vereador alçado à prefeitura sem ter sido eleito) diante de Boulos. Joga parado, apostando que seu voto obedecerá à lógica do "pior que tá fica", explorando fortemente o antiesquerdismo. Nunes passou para o segundo turno com um voto pouco convicto e espera ganhar a eleição da mesma forma.

No resumo, o candidato do PSOL venceu o debate, mas o que poderia ser uma grande goleada resultou em uma vitória consistente, mas menor do que se anunciou no início. O mais importante, contudo, é muitas vezes o pós-debate, e Pablo Marçal, com seus cortes, deixou isso bem evidente no primeiro turno. Mesmo antes do fim do encontro televisivo, esta batalha já estava em curso. É uma sequência que pode dar fôlego novo à campanha de Boulos.