Foram precisos 137 estudos, envolvendo quase 13 mil adultos, crianças e bebês, para que os cientistas descobrissem aquilo que nos parece óbvio e intuitivo, e que a ciência agora comprovou: carinho, afeto, toque físico faz muito bem à saúde. Algo que Leila Diniz havia sacado há muito tempo e que sintetizou numa frase:
— "Um cafuné na cabeça, malandro, eu quero até de macaco".
A revista Nature Human Behaviour publicou na última segunda-feira, 8, uma análise de 137 pesquisas que concluíram que o toque físico pode elevar o bem-estar e diminuir a dor, a depressão e a ansiedade. Dando razão ao poeta Vinícius de Moraes, que na letra da maravilhosa "Wave", com Tom Jobim, concluía que "fundamental é mesmo o amor, é impossível ser feliz sozinho".
Poetas e artistas, antenas da raça.
Pesquisadores da Alemanha e dos Países Baixos coletaram e sistematizaram durante anos dados sobre toque, carícias, abraços e massagens. Foram comparados estudos com pessoas que receberam esses afetos com outras que não.
E os afetos não precisavam nem ser trocados entre humanos: quem já não viu uma criança agarrada com seu bichinho de pelúcia, sua boneca ou mesmo um simples paninho, que ela carrega pra cima e pra baixo como um animal de estimação?
"Por exemplo, um estudo mostrou que massagens suaves diárias de 20 minutos por seis semanas em idosos com demência diminuíram a agressividade e reduziram os níveis de um marcador de estresse no sangue. Outro descobriu que massagens melhoram o humor de pacientes com câncer de mama. Um estudo até mostrou que jovens adultos saudáveis que acariciaram um bebê foca robótico estavam mais felizes e sentiram menos dor de um estímulo de calor leve do que aqueles que leram um artigo sobre um astrônomo."
Os estudos mostraram que:
- bebês recém-nascidos se beneficiam mais do toque dos pais do que do toque de um estranho
- mulheres parecem se beneficiar mais do toque do que os homens, o que pode ser um efeito cultural, segundo os pesquisadores.
- estudos com pessoas na América do Sul tendiam a mostrar mais benefícios para a saúde em razão do toque do que estudos que analisaram pessoas na América do Norte ou na Europa.
- terapia de toque para bebês prematuros ou de baixo peso ao nascer deve começar o mais cedo possível e durar oito horas ou mais, uma recomendação adotada pela Organização Mundial da Saúde (OMS).
- tocar a cabeça parece ter um efeito mais benéfico do que tocar o tronco, alguns estudos descobriram. Coisa que Leila Diniz assinaria embaixo.
Os estudos destacaram algo que parece óbvio, mas que não pode deixar de ser mencionado:
"Os tipos de toque considerados nesses estudos eram experiências positivas às quais os voluntários concordaram. 'Se alguém não sente um toque como sendo agradável, é provável que isso os estresse'."
Cafuné até de macaco, mas desde que seja consentido. Ou é assédio.
Os cientistas trataram do contato físico, mas possivelmente descobririam o mesmo efeito benéfico se escutassem Milton Nascimento cantando, por exemplo. Ainda mais Milton fazendo um carinho em Leila Diniz, musicando um poema dela, como aqui: