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por Rodrigo Vianna
A reunião aconteceu em São Paulo, na última quinta-feira (16/agosto). Foi um encontro pequeno, típico da gente de mercado: apenas doze pessoas do “board” (é o termo que se usa entre a turma da grana) de uma grande empresa europeia - que acaba de adquirir participação em empresa subsidiária de um dos maiores bancos privados do Brasil.
Os estrangeiros queriam entender o complexo quadro político brasileiro. Do outro lado da mesa, estava um economista (brasileiro) do Banco, que analisou a corrida eleitoral, apresentando a seguinte previsão: hoje, a maior probabilidade é de que Bolsonaro enfrente o candidato do PT (Lula ou Haddad), no segundo turno.
Essa é a previsão de um dos maiores bancos de varejo brasileiros! Em privado, na hora de orientar negócios, eles não participam das jogadas da Globo e seus mervais amestrados. Nada de levantar a bola pro Alckmin.
A hora (nos bancos) é de realismo. E o realismo indica: Bolsonaro x PT. Ponto final.
A partir daqui, a análise é do blogueiro, e não do Banco.
Quando o PSDB conseguiu fechar a grande aliança com o “Centrão”, surgiram dezenas de “análises” dando como certo que Alckmin avançaria inexoravelmente ao segundo turno. Era torcida. Pura torcida.
Este blogueiro sempre lembrou: esta é uma eleição “anti-sistema” (e aqui falamos da batalha que se trava no chamado “imaginário social”). O apoio do Centrão, mais que nunca, transforma Alckmin no candidato da política, do sistema, das negociatas, o candidato do apodrecido Michel Temer.
É irônico: a Globo e a direita dita liberal inocularam no Brasil, desde 2013, o veneno da anti-política. A ideia de “fora todos os partidos”, “política é sujeira”, “Estado é corrupto”: tudo isso foi usado para construir o discurso que levou milhões de patos amarelos à rua, ajudando a derrubar Dilma.
Não conhecem história. No pós 64, o fim de Lacerda foi melancólico, enquanto o trabalhismo seguiu forte – mesmo perseguido.
O Golpe de 2016 e a prisão de Lula jogaram o PT (aos olhos do eleitor mais simples) pra fora do sistema.
O eleitor pobre/descamisado/subempregado não se impressiona com Lula preso, porque conhece na rua/quebrada/família alguém que também sofreu as agruras de ter sido preso - mais ou menos injustamente.
O PT de Lula é um dos pólos dessa eleição anti-sistema. O outro pólo é Bolsonaro com seus 10 segundos de TV. Os bancos já sabem disso.
Alckmin vai jogar pesado nas próximas semanas (e justiça seja feita: ele atua no limite de suas possibilidades, e sem perder a coerência; até a Reforma Trabalhista ele defendeu em debate na TV).
Mas o tempo atual não é de um candidato que encarne o sistema político, mas de quem represente (no imaginário do eleitor) a chance de enfrentar esse sistema injusto – que gera corrupção, desemprego, e mantem preso o maior líder popular brasileiro.
O mesmo economista de Banco - que (garante minha fonte, presente ao encontro) previu PT x Bolsonaro no segundo turno – fez outra projeção durante a reunião fechada: tanto o candidato fascista quanto o petista tendem a caminhar ao centro quando (e se) chegarem ao poder.
A vitória do PT, diz o Banco, geraria uma reação inicial negativa no mercado, mas seria seguida de maior capacidade de fechar acordos e governabilidade no Congresso. Já Bolsonaro, se vencer, será mais festejado inicialmente nos mercados, mas terá imensas dificuldades de governar.
Essa avaliação – que circula entre banqueiros e empresários, mas não entre eleitores que seguem a ser enganados pela Globo e seus satélites – explica porque Haddad já faz uma inflexão ao centro: o PT pode, no fim das contas, ser o fiador da retomada democrática e econômica do Brasil.*
Explica também porque a quase falida revista da marginal dedica sua capa neste fim-de-semana ao economista de Bolsonaro.
Os bancos (que agora mandam na Veja) já trabalham com esse cenário: é PT x Bolsonaro.
Faço a ressalva de que uma reviravolta sempre pode acontecer. Afinal, Alckmin tem a Globo e o Judiciário - que podem muito, mas não podem tudo...
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* No meu entender, o diálogo com o centro será mesmo necessário, na hipótese de uma vitória petista. Mas desde que a direção do PT compreenda que não poderá desmobilizar as bases dessa vez. As bases serão a garantia da negociação, tal qual uma tropa na trincheira é garantia para assinatura de um acordo de paz. O Brasil precisa de um novo acordo, nova Constituinte, e ela só será conquistada com mobilização.