A autofagia da Petrobras: o plano de desinvestimentos

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Por Pedro Rafael Vilela, do Brasil de Fato O conselho de administração da Petrobras quer diminuir o tamanho da maior empresa brasileira. No início do mês, foi divulgado o ‘novo’ plano de negócios da estatal para o período 2015/2019, que prevê a redução de 76 bilhões de dólares em investimentos, um corte de 37% no que estava previsto anteriormente. Mas o que causou maior espanto foi o anúncio dos desinvestimentos da companhia, que incluem a venda de ativos no total de 57,7 bilhões de dólares. A Petrobras poderá vender patrimônios valiosos e lucrativos como gasodutos, navios petroleiros, poços de petróleo e até mesmo parte de empresas subsidiárias como a BR Distribuidora e a Transpetro. Em nota, a Federação Única dos Petroleiros (FUP) declarou na última semana que o novo plano é uma “ameaça clara à sobrevivência da empresa como estatal”. Por causa disso, em conjunto com sindicatos e com a Federação Nacional dos Petroleiros (FNP), realizou um ato unificado de paralisação dos trabalhadores do setor na sexta-feira (24) em todo o país. “A greve nacional de 24 horas é uma advertência da categoria à atual política da gerência que pode desmantelar o Sistema Petrobrás, pondo em risco milhares de empregos, especialmente os dos terceirizados da companhia e suas subsidiárias”, aponta a nota da FUP. Interesses internacionais “Existe uma pressão internacional dos países em crise que buscam ativos que dão lucro, por isso que as empresas e os negócios da Petrobras são tão cobiçados”, aponta Emanuel Cancella, diretor da FNP. Especula-se que, no caso da BR Distribuidora, o objetivo é vender de 25% a 49% da empresa, que é a subsidiária da Petrobras voltada para a comercialização de combustíveis e outros derivados de petróleo. Não se trata de uma venda trivial. A BR, fundada em 1971, possui mais de 7.500 postos de serviços, constituindo a maior rede de postos do país, única que está presente em todo o território nacional e que fornece para mais de 10 mil grandes clientes, entre indústrias, termoelétricas, companhias aéreas e frotas de veículos leves e pesados. A justificativa oficial para um possível “desmantelamento” é econômica. Além das perdas financeiras decorrentes da corrupção, investigada pela Operação Lava Jato, tem a alta do dólar, a queda do preço do barril de petróleo e os prejuízos com a administração dos preços dos combustíveis abaixo do mercado internacional. Tudo isso deixa a empresa sem fôlego para investir e impossibilitada de ampliar o endividamento, hoje em cerca de 400 bilhões de dólares. Em posicionamento oficial, o presidente da Associação de Engenheiros da Petrobras (Aepet), Felipe Coutinho, criticou duramente a venda de ativos da Petrobras, que pode gerar uma desintegração produtiva. “Em relação ao desinvestimento, salvo casos excepcionais, como algumas unidades no exterior, não concordo com a alienação dos ativos e a desintegração produtiva. Não é razoável que, por uma questão conjuntural, a Petrobras venda ativos, se desintegre e se fragilize perante os riscos inerentes ao setor. Existem alternativas de financiamento, no mercado interno e na China, por exemplo, o fluxo de caixa pode ser assegurado por política de preços adequada e alguns investimentos podem ser postergados para lidar com questões financeiras conjunturais”, analisa. Emanuel Cancella, da FNP, vai pelo mesmo caminho e compara o momento atual ao ano de 1995, quando a Petrobras sofreu forte desvalorização para impulsionar a venda de suas ações no mercado financeiro. “As ações da Petrobras estão em baixa agora, o preço do barril de petróleo está em queda, e por isso nós vamos vender? Ora, nós temos uma das maiores frotas de navios [49 petroleiros e outros em construção], a Petrobras investiu pesado em engenharia para ligar o país inteiro por meio de gasoduto. E, justo quando nós descobrimos o pré-sal, vamos desfazer desse patrimônio? Para depois ter que pagar para usar os dutos e os navios de novo?”, questiona. Os petroleiros propõem outro plano de negócios para a empresa no atual contexto. “A Petrobras tem que garantir a construção das refinarias do Ceará e do Maranhão a acelerar as obras do Comperj. É preciso assegurar a autossuficiência em refino de petróleo, que é justamente onde está o valor agregado do produto, e na indústria petroquímica, de onde se fabrica mais de três mil produtos, como peças para aparelhos eletrônicos, roupas, calçados, indústrias farmacêutica e muito mais”, aponta Emanuel Cancella.